Álvaro de Campos
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O Poeta Álvaro de...
A coisa estranha e muda em todo o corpo,

A coisa estranha e muda em todo o corpo,

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il y a 1 an
Um poema de Álvaro de Campos

A coisa estranha e muda em todo o corpo, Que está ali, ebúrnea, no caixão, O corpo humano que não é corpo humano Que ali se cala em todo o ambiente; O cais deserto que ali aguarda o incógnito O assombro álgido ali entreabrindo A porta suprema e invisível; O nexo incompreensível Entre a energia e a vida, Ali janela para a noite infinita... Ele — o cadáver do outro, Evoca-me do futuro [Eu próprio dois?], ou nem assim... E embandeiro em arco a negro as minhas esperanças Minha fé cambaleia como uma paisagem de bêbedo, Meus projectos tocam um muro infinito até infinito.


Este poema de Álvaro de Campos retrata uma atmosfera sombria e misteriosa. O eu lírico descreve um corpo humano que não é mais humano, silenciado em um caixão. Há uma sensação de espera e de abertura para o desconhecido, representada pelo cais deserto e p