Manuel Bandeira
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A poesia de Bande...
Carta-poema

Carta-poema

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il y a 1 an
Um poema de Manuel Bandeira

Excelentíssimo Prefeito

Senhor Hildebrando de Góis,

Permiti que, rendido o preito

A que fazeis jus por quem sois,

Um poeta já sexagenário,

Que não tem outra aspiração

Senão viver de seu salário

Na sua limpa solidão,

Peça vistoria e visita

A este pátio para onde dá

O apartamento que ele habita

No Castelo há dois anos já.

É um pátio, mas é via pública,

E estando ainda por calçar,

Faz a vergonha da República

Junto à Avenida Beira-Mar!

Indiferentes ao capricho

Das posturas municipais,

A ele jogam todo o seu lixo

Os moradores sem quintais.

Que imundície! Tripas de peixe,

Cascas de fruta e ovo, papéis...

-Não é natural que me queixe?

Meu Prefeito, vinde e vereis!

Quando chove, o chão vira lama:

São atoleiros, lodaçais,

Que disputam a palma à fama

Das velhas maremas letais!

A um distinto amigo europeu

Disse eu: — Não é no Paraguai

Que fica o Grande Chaco, este é O

Grande Chaco! Senão, olhai!

Excelentíssimo Prefeito

Hildebrando Araújo de Góis,

A quem humilde rendo preito,

Por serdes vós, senhor, quem sois:

Mandai calçar a via pública

Que, sendo um vasto lagamar,

Faz a vergonha da República

Junto à Avenida Beira-Mar!


"Carta-poema" é um poema de Manuel Bandeira que expressa uma crítica social e política. O poeta escreve uma carta ao prefeito da cidade, pedindo que ele visite um pátio público que está em péssimas condições, cheio de lixo e lama. Bandeira denuncia a falt