Gonçalves Dias
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Antônio Gonçalves...
II

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Mil-Frases

há 1 ano
Um poema de Gonçalves Dias

E a visão levou-me insensivelmente dos homens da natureza aos que chamamos civilizados.

Uma infinidade de navios aportavam a todos os pontos do vasto Império, como se dos fundos mares surgissem os gigantes monstros, que aí dormem séculos sem fim nas grutas imensas de coral tapetadas de sargaço.

(...)

Não eram homens crentes, que por amor da religião viessem propô-la aos idólatras, nem argonautas sedentos de glória em busca de renome.

Eram homens sordidamente cobiçosos, que procuravam um pouco de ouro, pregando a religião de Cristo com armas ensangüentadas.

Eram homens que se cobriam com o verniz da glória, destroçando uma multidão inerme e bárbara, opondo a bala à frecha — e a espada ao tacape sem gume.

Eram homens que pregavam a igualdade tratando os indígenas como escravos — envilecendo-os com a escravidão, e açoitando-os com varas de ferro.

E o país tornou-se a sentina impura de um povo pigmeu, que para ali reservava os seus proscritos, os seus malfeitores, os seus forçados e as fezes de sua população.

Então começou a luta sanguinolenta dos homens dominadores contra os homens que não queriam ser dominados — dos fortes contra os fracos — dos cultos contra os bárbaros.

(...)

E a Europa inteligente aplaudiu a nação marítima e guerreira, que ao través do oceano fundava um novo Império em mundo novo, viciando-lhe o princípio com o cancro da escravatura e transmitindo-lhe o amor do ouro sem o amor do trabalho.

(...)

Poema integrante da série Capítulo III.

In: DIAS, Gonçalves. Meditação. Rio de Janeiro: H. Garnier, 1909. p.55-56, p.5


Este poema de Gonçalves Dias retrata a visão do narrador sobre a chegada dos colonizadores europeus ao Brasil. O poeta critica a ganância e a violência desses homens, que buscavam ouro e poder, enquanto pregavam a religião cristã com armas ensanguentadas.
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