Ó meu amor! ó meu damasco, ó minha seda, Ó meu guizo de prata, Meu colar de pérolas deixado em cima da cómoda, Minha aliança de ouro em dedos já velhinhos e fieis, Minha cantiga de raparigas ao poente, Ó meu fumo de cigarro, tão inútil e tão necessário, Minha Bíblia para as crianças brincarem, Minha amante que eu queria trazer ao colo como uma filha... Olha, tenho as mãos em febre... Tenho a testa a escaldar, tenho os olhos muito estranhos... Todos olham para o brilho dos meus olhos e espetam-se neles... Eu tenho febre e tenho sede e lembro-me de ti por causa disso Porque se eu te tivesse como te quereria ter (Não sei se é de um modo físico, ou de um modo psíquico) Eu não teria nem febre, nem sede, nem a testa a arder, Nem os olhos secos, muito secos, sob a fronte... Tu não sabes o que tem sido a minha vida!... Tu não sabes que martírio tem sido o meu... Se tu soubesses o que é amar as coisas simples e calmas E não ter jeito para procurar senão as outras coisas! Se tu soubesses porque é que quando eu estou na minha quinta de dia Tenho saudades dela como se não estivesse lá... Se tu soubesses o que eu sinto à noite, nos hotéis, pelas ruas, Se tu soubesses! Mas eu próprio não sei o que é que sinto... Minha lantejoula, minha casa de bonecas, Ó meus brinquedos da minha infância atados com cordéis! Ó meu regimento que passa com a banda à frente, Minha noite no circo, nos cavalinhos, a rir dos palhaços... Ó minha (...)