Um obelisco monolítico é a verdade nua em praça pública. A nudez dos obeliscos é mais inteira, mais estreme, mais escorreita, mais franca, mais sincera, mais lisa, mais pura, mais ingênua do que a da mulher mais bem feita. Ingênua como a de Susana surpreendida pelos juízes. Pura como a de Santa Maria Egipcíaca despindo-se para o barqueiro. Todo obelisco é uma lição de verticalidade física e moral, de retidão, de ascetismo. Homem que não suportas a solidão (grande fraqueza!) Aprende com os obeliscos a ser só. Os egípcios erguiam obeliscos à entrada de seus templos, de seus túmulos, e neles gravavam apenas Discretamente, O nome do rei construtor ou do deus referenciado. O obelisco aponta aos mortais as coisas mais altas: o céu, a lua, o sol, as estrelas — Deus. O obelisco da Avenida Rio Branco não veio do Egito como o que está na Praça da Concórdia em Paris: Nem por isso merece menos respeito. Obelisco não é mourão em que se amarram cavalos. Não é manequim para camisolas de anúncio. Não é andaime para farandulagens de carnaval. (Já o fantasiaram de baiana, oh afronta! Já lhe quebraram o ápice de agulha, Já o chamuscaram de alto a baixo.) Que o obelisco esteja sempre nu e limpo, apontando as coisas mais altas — o céu, a lua, o sol e as estrelas.