TRAMWAY
Aqui vou eu num carro eléctrico, mais umas trinta ou quarenta pessoas, Cheio (só) das minhas ideias imortais, (creio que boas).
Amanhã elas, postas em verso, serão Por toda a Europa, por todo o mundo (quem sabe?!) Triunfo meta, início, clarão Que talvez não acabe.
E quem sobe? Que sente? O que vai a meu lado Só sente em mim que sou o que, estrangeiro, Tem o lugar da ponta, e do extremo, apanhado Por quem entra primeiro.
Que o que vale são as ideias que tenho, enfim, O resto, o que aqui está sentado, sou eu, Vestido, visual, regular, sempre em mim, Sob o azul do céu.
Ah, Destino dos deuses, dai-me ao menos o siso Ao que em mim pensa a vida de ter um profundo Senso essencial, mas certeiro e conciso Da vida e do mundo!
Sei, sob o céu que é que toca as minhas ideias, Sob o céu mais análogo ao que penso comigo Que este carro vai com os bancos cheios Para onde eu sigo.
E o ponto de absurdo de tudo isto qual é? Onde é que está aqui o erro que sinto? A minha razão enternecida aqui perde pé E pensando minto,
Mas a que verdade minto, que ponte, Há entre o que é falso aqui e o que é certo? Se o que sinto e penso, não sei sequer como o conte, Se o que está a descoberto
Agora no meu meditar é uma treva e um abismo Que hei-de fazer da minha consciência dividida? Oh, carro absurdo e irreal, onde está quanto cismo? De que lado é que é a vida?