Poemas tristes
Colecção de poemas que retratam ou descrevem melâncolia. Os poemas melâncolicos são aqueles que expressam tristeza, saudade, solidão ou outras emoções negativas. Eles podem tratar de assuntos como o amor perdido, a morte, a mudança ou a incerteza. Os poemas melâncolicos geralmente têm um tom mais sombrio e introspectivo, e podem ser escritos de muitas maneiras diferentes, incluindo verso livre, rima ou formas tradicionais. A melancolia pode ser uma emoção difícil de expressar, mas os poemas melâncolicos nos permitem encontrar as palavras e as imagens que precisamos para expressar o que sentimos. Eles também nos ajudam a entender e a processar essas emoções de maneira mais profunda, e podem nos ajudar a encontrar consolo e significado em momentos de tristeza ou dificuldade.
Álvaro de Campos
SAUDAÇÃO Um comboio de criança movido a corda, puxado a cordel Tem mais movimento real do que os nossos versos... Os nossos versos que não têm rodas Os nossos versos que não se deslocam Os nossos versos que, nunca lidos, não saem para fora do papel. (Estou farto — farto da vida, farto da arte —, Farto de não ter coisas, a menos ou a medo — Rabo-leva da minha respiração chagando a minha vida, Fantoche absurdo de feira da minha ideia de mim. Quando é que parte o último comboio?) Sei que cantar-te assim não é cantar-te — mas que importa? Sei que é cantar tudo, mas cantar tudo é cantar-te, Sei que é cantar-me a mim — mas cantar-me a mim é cantar-te a ti Sei que dizer que não posso cantar é cantar-te, WaIt, ainda...
Álvaro de Campos
Meu amor perdido, não te choro mais, que eu não te perdi! Porque posso perder-te na rua, mas não posso perder-te no ser, Que o ser é o mesmo em ti e em mim. Muito é ausência, nada é perda! Todos os mortos — gente, dias, desejos, Amores, ódios, dores, alegrias — Todos estão apenas em outro continente... Chegará a vez de eu partir e ir vê-los. De se reunir a família e os amantes e os amigos Em abstracto, em real, em perfeito Em definitivo e divino. Reunir-me-ei em vida e morte Aos sonhos que não realizei Darei os beijos nunca dados, Receberei os sorrisos, que me negaram, Terei em forma de alegria as dores que tive... Ah, comandante, quanto tarda ainda A partida do transatlântico? Faz tocar a banda de bordo — Músicas alegres, banais, humanas, como a vida — Faz partir, que eu quero partir... Som do erguer do ferro, meu estertor Quando é que por fim eu te ouvirei? Fremir do costado pela pulsação das máquinas — Meu coração no bater final convulso —, [Toque de vigias, suspiros do porto?] (...) Lenços a acenarem-me do cais em que ficam... Até mais tarde, até quando vierdes, até sempre! Até o eterno em alegre Agora, Até o (...)
Álvaro de Campos
Ah, que extraordinário, Nos grandes momentos do sossego da tristeza, Como quando alguém morre, e estamos em casa dele e todos estão quietos O rodar de um carro na rua, ou o canto de um galo nos quintais... Que longe da vida! É outro mundo. Viramo-nos para a janela, e o sol brilha lá fora Vasto sossego plácido da natureza sem interrupções!
Álvaro de Campos
Meu amor perdido, não te choro mais, que eu não te perdi! Porque posso perder-te na rua, mas não posso perder-te no ser, Que o ser é o mesmo em ti e em mim. Muito é ausência, nada é perda! Todos os mortos — gente, dias, desejos, Amores, ódios, dores, alegrias — Todos estão apenas em outro continente... Chegará a vez de eu partir e ir vê-los. De se reunir a família e os amantes e os amigos Em abstracto, em real, em perfeito Em definitivo e divino. Reunir-me-ei em vida e morte Aos sonhos que não realizei Darei os beijos nunca dados, Receberei os sorrisos, que me negaram, Terei em forma de alegria as dores que tive... Ah, comandante, quanto tarda ainda A partida do transatlântico? Faz tocar a banda de bordo — Músicas alegres, banais, humanas, como a vida — Faz partir, que eu quero partir... Som do erguer do ferro, meu estertor Quando é que por fim eu te ouvirei? Fremir do costado pela pulsação das máquinas — Meu coração no bater final convulso —, [Toque de vigias, suspiros do porto?] (...) Lenços a acenarem-me do cais em que ficam... Até mais tarde, até quando vierdes, até sempre! Até o eterno em alegre Agora, Até o (...)
Manuel Bandeira
És como um lírio alvo e franzino, Nascido ao pôr do sol, à beira d'água, Numa paisagem erma onde cantava um sino A de nascer inconsolável mágoa... A vida é amarga. O amor, um pobre gozo... Hás de amar e sofrer incompreendido, Triste lírio franzino, inquieto, ansioso, Frágil e dolorido...
Manuel Bandeira
Olho a praia. A treva é densa. Ulula o mar, que não vejo, Naquela voz sem consolo, Naquela tristeza imensa Que há na voz do meu desejo. E nesse tom sem consolo Ouço a voz do meu destino: Má sina que desconheço, Vem vindo desde eu menino, Cresce quanto em anos cresço. — Voz de oceano que não vejo Da praia do meu desejo...
Álvaro de Campos
Não ter deveres, nem horas certas, nem realidades... Ser uma ave humana Que passe haleyonica sobre a intransigência do mundo — Ganhando o pão da sua noite com o suor da fronte dos outros — Faz-tudo triste No coliseu com lágrimas, E compère antigo, um pouco mais cheio que Vénus de Milo, Na insubsistência dos acasos. E um pouco de sol, ao menos, para os sonhos onde não vivo.
Álvaro de Campos
Campina e trigo, campina, Campina e trigo.) Como ao som de uma marcha ao mesmo tempo marcial e fúnebre, [...] e alegria e temor Rompem... A vida é antagonismo, [...]? Queda de impérios, tudo a fugir... sangue, ruídos... tumultos Amontoamentos de coisas pilhadas num saque, Despensas junto das cidades, entre casas caídas, Choros, raivas, inferno de som, A vida e a sua tragédia toda vivida num dia, numa hora... Todo o mistério e horror de nos acontecerem coisas Todo o horror de quem vive sossegado e de repente vê a morte Vê o inferno, [...] (Pobre de [...]!) Tudo quebrado, tudo ferido, tudo diverso de quando era normal a vida... (Ditosos os que morrem logo depois de nascer E para quem a luz da vida não é mais do que um relâmpago no horizonte!) (Poder pensar claro neste assunto! Poder ver bem e sem sofrer ser outro o que é isto! Ah quem me dera ter o coração ampliado e arrumado Como um interior de casa de família de gente que tem com que viver!) E o ruído dos saques, o fragor das batalhas, os choros, as mágoas, os (...) Os choques dos homens São um mar de confusão onde a nossa lucidez se afunda. Perco-me de compreender... Apanho-me nessa tragédia de pasmo humanitário.
Álvaro de Campos
No ocaso, sobre Lisboa, no tédio dos dias que passam, Fixo no tédio do dia que passa permanentemente Moro na vigília involuntária como um fecho de porta Que não fecha coisa nenhuma. Meu coração involuntário, impulsivo, Naufraga a esfinges indigentes Nas consequências e fins, [acordando?] no [além?]...
Álvaro de Campos
Não ter deveres, nem horas certas, nem realidades... Ser uma ave humana Que passe haleyonica sobre a intransigência do mundo — Ganhando o pão da sua noite com o suor da fronte dos outros — Faz-tudo triste No coliseu com lágrimas, E compère antigo, um pouco mais cheio que Vénus de Milo, Na insubsistência dos acasos. E um pouco de sol, ao menos, para os sonhos onde não vivo.
Álvaro de Campos
A morte — esse pior que tem por força que acontecer; Esse cair para o fundo do poço sem fundo; Esse escurecer universal para dentro; Esse apocalipse da consciência <sub>, </sub> com a queda de todas as estrelas — Isso que será meu um dia, Um dia pertíssimo, pertíssimo, Pinta de negro todas as minhas sensações, E é areia sem corpo escorrendo-me por entre os dedos O pensamento e a vida. A gare no deserto, deserta; O intérprete mudo; O boneco humano sem olhos nem boca Embandeirado a fogo-fátuo Num mar que é só puro espaço Sob um céu sacudido por relâmpagos pretos... Sinistra singre, roída de vermes audíveis a quilha sentiente E sejam os mastros dedos de âmbar, longuíssimos, Apontando o vácuo das coisas (que é o abismo em tudo)... As velas de um reposteiro vermelho lindo e baço Se abram ao vento soprando de um buraco enorme sem fim, E comecem, fora do tempo, uma viagem ao fim de tudo. Estica um horror consciente no gemer dos cabos... O ruído do ranger da madeira é dentro da alma... O avanço velocíssimo é uma coisa que falta... E se a vida é horizontal, isto dá-se verticalmente...
Álvaro de Campos
Não ter deveres, nem horas certas, nem realidades... Ser uma ave humana Que passe haleyonica sobre a intransigência do mundo — Ganhando o pão da sua noite com o suor da fronte dos outros — Faz-tudo triste No coliseu com lágrimas, E compère antigo, um pouco mais cheio que Vénus de Milo, Na insubsistência dos acasos. E um pouco de sol, ao menos, para os sonhos onde não vivo.
Álvaro de Campos
Ruído longínquo e próximo não sei porquê Da guerra europeia... Ruído de universo de catástrofe... Que vai morrer para além de onde ouvimos e vemos? Em que fronteiras deu a morte rendez-vous Ao destino das nações? Ó Águia Imperial, cairás? Rojar-te-ás, negra amorfa coisa em sangue, Pela terra, onde sob o teu cair Ainda tens marcado o sinal das tuas garras para antes formar o voo Que deste sobre a Europa confusa? Cairás, ó matutino galo francês, Sempre saudando a aurora? Que amos saúdas agora Que sol de sangue no azul pálido do horizonte matutino? Porque atalhos de sombra que caminho buscas, Que caminho para onde? Ó civilizações chegando à encruzilhada nocturna D'onde tiraram o ponto-de-apoio E donde partem caminhos curvos não sei para onde, E não ha luar sobre as indecisões... Deus seja connosco... Chora na noite a Senhora de [...], Torcendo as mãos, de modo a ouvir-se que elas se torcem No silêncio profundo. Deus seja connosco no céu e na terra, Ó Deusa Tutelar do Futuro, ó Ponte Sobre os abismos do que não sabemos que seja... Deus seja connosco, e não esqueçamos nunca Que o mar é eterno e afinal de tudo tranquilo E a terra grande e mãe e tem a sua bondade Porque sempre podemos nela recostar a cabeça cansada E dormir encostados a qualquer coisa. Clarins na noite, desmaiando... Ó Mistério Que se está formando lá fora, na Europa, no Império... Tropel vário de raças inimigas que se chocam Mais profundamente do que seus exércitos e suas esquadras, Mais realmente do que homem contra homem e nação contra nação... Clarins de horror trémulo e frio na noite profunda... E o quê?... Tambores para além do mistério do mundo? Tambores de quê... dormis deitados, dobres minúsculos sobre quê? Passa na noite um só passo soturno do uno exército enorme... Clarins sobrepostos mais perto na Noite... Ó Homem de mãos atadas e levado entre sentinelas Para onde, porque caminho, para ao pé de quem? Para ao pé [de] quem, clarins anunciadores de quê? (Tityro, a tua flauta e os campos de Itália sob César Augusto Ah, porque se armam de lágrimas absurdas os olhos E que dor é esta, do antigo e do actual e do futuro, Que dói na alma como uma sensação de exílio? Tityro a tua flauta em Éclogas longínquas... Virgílio a adular o César que venceu Per populum dat juri... Um pobre em guerra, Ó minha alma intranquila... Ó silêncios que as pontes Sob as fortalezas antiquissimamente teriam, Sabeis e vedes que a terra treme sob os passos dos exércitos, Fluxo eterno e divino das ondas sob os cruzadores e os torpedeiros...
Álvaro de Campos
OXFORD SHORES Quero o bem, e quero o mal, e afinal não quero nada. Estou mal deitado sobre a direita, e mal deitado sobre a esquerda E mal deitado sobre a consciência de existir. Estou universalmente mal, metafisicamente mal, Mas o pior é que me dói a cabeça. Isso é mais grave que a significação do universo. Uma vez, ao pé de Oxford, num passeio campestre, Vi erguer-se, de urna curva da estrada, na distância próxima A torre-velha de uma igreja acima de casas da aldeia ou vila. Ficou-me fotográfico esse incidente nulo Como uma dobra transversal escangalhando o vinco das calças. Agora vem a propósito... Da estrada eu previa espiritualidade a essa torre de igreja Que era a fé de todas as eras, e a eficaz caridade. Da vila, quando lá cheguei, a torre da igreja era a torre da igreja, E, ainda por cima, estava ali. É - se feliz na Austrália, desde que lá se não vá.
Gonçalves Dias
Le mal dont j'ai souffert s'est enfui comme un rêve, Je n'en puis comparer le lontain souvenir Qu'à ces brouillards légers que l'aurore soulève Et qu'avec la rosée on voit s'évanouir. MUSSET Meu anjo, escuta: quando junto à noite Perpassa a brisa pelo rosto teu, Como suspiro que um menino exala; Na voz da brisa quem murmura e fala Brando queixume, que tão triste cala No peito teu? Sou eu, sou eu, sou eu! Quando tu sentes lutuosa imagem D'aflito pranto com sombrio véu, Rasgado o peito por acerbas dores; Quem murcha as flores Do brando sonho? — Quem te pinta amores Dum puro céu? Sou eu, sou eu, sou eu! Se alguém te acorda do celeste arroubo, Na amenidade do silêncio teu, Quando tua alma noutros mundos erra, Se alguém descerra Ao lado teu Fraco suspiro que no peito encerra; Sou eu, sou eu, sou eu! Se alguém se aflige de te ver chorosa, Se alguém se alegra co'um sorriso teu, Se alguém suspira de te ver formosa O mar e a terra a enamorar e o céu; Se alguém definha Por amor teu, Sou eu, sou eu, sou eu! Publicado no livro Últimos Cantos (1851). Poema integrante da série Poesias Diversas. In: GRANDES poetas românticos do Brasil. Pref. e notas biogr. Antônio Soares Amora. Introd. Frederico José da Silva Ramos. São Paulo: LEP, 1959. v.
Olavo Bilac
Não és bom, nem és mau: és triste e humano... Vives ansiando, em maldições e preces, Como se, a arder, no coração tivesses O tumulto e o clamor de um largo oceano. Pobre, no bem como no mal, padeces; E, rolando num vórtice vesano, Oscilas entre a crença e o desengano, Entre esperanças e desinteresses. Capaz de horrores e de ações sublimes, Não ficas das virtudes satisfeito, Nem te arrependes, infeliz, dos crimes: E, no perpétuo ideal que te devora, Residem juntamente no teu peito Um demônio que ruge e um deus que chora. Publicado no livro Tarde (1919). In: BILAC, Olavo. Poesias. Posfácio R. Magalhães Júnior. Rio de Janeiro: Ediouro, 197
Olavo Bilac
VI Em mim também, que descuidado vistes, Encantado e aumentando o próprio encanto, Tereis notado que outras cousas canto Muito diversas das que outrora ouvistes. Mas amastes, sem dúvida ... Portanto, Meditai nas tristezas que sentistes: Que eu, por mim, não conheço cousas tristes, Que mais aflijam, que torturem tanto. Quem ama inventa as penas em que vive; E, em lugar de acalmar as penas, antes Busca novo pesar com que as avive. Pois sabei que é por isso que assim ando: Que é dos loucos somente e dos amantes Na maior alegria andar chorando.