Olavo Bilac
Olavo Bilac foi um membro fundador da Academia Brasileira de Letras. Criou a cadeira n.º 15, cujo patrono é Gonçalves Dias.
Olavo Bilac
Tens, às vezes, o fogo soberano Do amor: encerras na cadência, acesa Em requebros e encantos de impureza, Todo o feitiço do pecado humano. Mas, sobre essa volúpia, erra a tristeza Dos desertos, das matas e do oceano: Bárbara poracé, banzo africano, E soluços de trova portuguesa. És samba e jongo, xiba e fado, cujos Acordes são desejos e orfandades De selvagens, cativos e marujos: E em nostalgias e paixões consistes, Lasciva dor, beijo de três saudades, Flor amorosa de três raças tristes. Publicado no livro Tarde (1919). In: BILAC, Olavo. Poesias. Posfácio R. Magalhães Júnior. Rio de Janeiro: Ediouro, 197
Olavo Bilac
Às vezes uma dor me desespera... Nestas ânsias e dúvidas em que ando, Cismo e padeço, neste outono, quando Calculo o que perdi na primavera. Versos e amores sufoquei calando, Sem os gozar numa explosão sincera... Ah ! Mais cem vidas ! com que ardor quisera Mais viver, mais penar e amar cantando ! Sinto o que desperdicei na juventude; Choro neste começo de velhice, Mártir da hipocrisia ou da virtude. Os beijos que não tive por tolice, Por timidez o que sofrer não pude, E por pudor os versos que não disse !
Olavo Bilac
IV Como a floresta secular, sombria, Virgem do passo humano e do machado, Onde apenas, horrendo, ecoa o brado Do tigre, e cuja agreste ramaria Não atravessa nunca a luz do dia, Assim também, da luz do amor privado, Tinhas o coração ermo e fechado, Como a floresta secular, sombria... Hoje, entre os ramos, a canção sonora Soltam festivamente os passarinhos. Tinge o cimo das árvores a aurora... Palpitam flores, estremecem ninhos, . . E o sol do amor, que não entrava outrora, Entra dourando a areia dos caminhos.
Olavo Bilac
XXXI Longe de ti, se escuto, porventura, Teu nome, que uma boca indiferente Entre outros nomes de mulher murmura, Sobe-me o pranto aos olhos, de repente... Tal aquele, que, mísero, a tortura Sofre de amargo exílio, e tristemente A linguagem natal, maviosa e pura, Ouve falada por estranha gente... Porque teu nome é para mim o nome De uma pátria distante e idolatrada, Cuja saudade ardente me consome: E ouvi-lo é ver a eterna primavera E a eterna luz da terra abençoada, Onde, entre flores, teu amor me espera.
Olavo Bilac
Negro, com os olhos em brasa, Bom, fiel e brincalhão, Era a alegria da casa O corajoso Plutão. Fortíssimo, ágil no salto, Era o terror dos caminhos, E duas vezes mais alto Do que o seu dono Carlinhos. Jamais à casa chegara Nem a sombra de um ladrão; Pois fazia medo a cara Do destemido Plutão. Dormia durante o dia, Mas, quando a noite chegava, Junto à porta se estendia, Montando guarda ficava. Porém Carlinhos, rolando Com ele às tontas no chão, Nunca saía chorando Mordido pelo Plutão . . . Plutão velava-lhe o sono, Seguia-o quando acordado: O seu pequenino dono Era todo o seu cuidado. Um dia caíu doente Carlinhos . . . Junto ao colchão Vivia constantemente Triste e abatido, o Plutão. Vieram muitos doutores, Em vão. Toda a casa aflita, Era uma casa de dores, Era uma casa maldita. Morreu Carlinhos . . . A um canto, Gania e ladrava o cão; E tinha os olhos em pranto, Como um homem, o Plutão. Depois, seguiu o menino, Seguiu-o calado e sério; Quis ter o mesmo destino: Não saíu do cemitério. Foram um dia à procura Dele. E, esticado no chão, Junto de uma sepultura, Acharam morto o Plutão.
Olavo Bilac
A mocidade é como a primavera! A alma, cheia de flores resplandece, Crê no Bem, ama a vida, sonha e espera, E a desventura facilmente esquece. É a idade da força e da beleza: Olha o futuro, e inda não tem passado: E, encarando de frente a Natureza, Não tem receio do trabalho ousado. Ama a vigília, aborrecendo o sono; Tem projetos de glória, ama a Quimera; E ainda não dá frutos como o outono, Pois só dá flores como a primavera!
Olavo Bilac
(Paráfrase) A Lua: Sou um pequeno mundo; Movo-me, rolo e danço Por este céu profundo; Por sorte Deus me deu Mover-me sem descanso, Em torno de outro mundo, Que inda é maior do que eu. A Terra: Eu sou esse outro mundo; A lua me acompanha, Por este céu profundo . . . Mas é destino meu Rolar, assim tamanha, Em torno de outro mundo, Que inda é maior do que eu. O Sol: Eu sou esse outro mundo, Eu sou o sol ardente! Dou luz ao céu profundo . . . Porém, sou um pigmeu, Quer rolo eternamente Em torno de outro mundo, Que inda é maior do que eu. O Homem: Por que, no céu profundo, Não há-de parar mais O vosso movimento? Astros! qual é o mundo, Em torno ao qual rodais Por esse firmamento? Todos os Astros: Não chega o teu estudo Ao centro disso tudo, Que escapa aos olhos teus! O centro disso tudo, Homem vaidoso, é Deus!
Olavo Bilac
XVIII Dormes... Mas que sussurro a umedecida Terra desperta? Que rumor enleva As estrelas, que no alto a Noite leva Presas, luzindo, à túnica estendida? São meus versos! Palpita a minha vida Neles, falenas que a saudade eleva De meu seio, e que vão, rompendo a treva, Encher teus sonhos, pomba adormecida! Dormes, com os seios nus, no travesseiro Solto o cabelo negro... e ei-los, correndo, Doudejantes, sutis, teu corpo inteiro Beijam-te a boca tépida e macia, Sobem, descem, teu hálito sorvendo Por que surge tão cedo a luz do dia?!
Olavo Bilac
Meio-dia. Sol a pino. Corre de manso o regato. Na igreja repica o sino; Cheiram as ervas do mato. Na árvore canta a cigarra; Há recreio nas escolas: Tira-se numa algazarra, A merenda das sacolas. O lavrador pousa a enxada No chão, descansa um momento, E enxuga a fronte suada, Contemplando o firmamento. Nas casas ferve a panela Sobre o fogão, nas cozinhas; A mulher chega à janela, Atira milho às galinhas. Meio-dia! O sol escalda, E brilha, em toda a pureza, Nos campos cor de esmeralda, E no céu cor de turquesa... E a voz do sino, ecoando Longe, de atalho em atalho, Vai pelos campos, cantando A Vida, a Luz, o Trabalho! In: BILAC, Olavo. Poesias infantis. 18.ed. Rio de Janeiro: F. Alves, 195
Olavo Bilac
Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada E triste, e triste e fatigado eu vinha. Tinhas a alma de sonhos povoada, E a alma povoada de sonhos eu tinha... E paramos de súbito na estrada Da vida: longos anos, presa à minha A tua mão, a vista deslumbrada Tive da luz que teu olhar continha. Hoje segues de novo... Na partida Nem o pranto os teus olhos umedece, Nem te comove a dor da despedida. E eu, solitário, volto a face, e tremo, Vendo o teu vulto que desaparece Na extrema curva do caminho extremo.
Olavo Bilac
XXVI Quando cantas, minhalma desprezando O invólucro do corpo, ascende às belas Altas esferas de ouro, e, acima delas, Ouve arcanjos as cítaras pulsando. Corre os países longes, que revelas Ao som divino do teu canto: e, quando Baixas a voz, ela também, chorando, Desce, entre os claros grupos das estrelas. E expira a tua voz. Do paraíso, A que subira ouvíndo-te, caído, Fico a fitar-te pálido, indeciso... E enquanto cismas, sorridente e casta, A teus pés, como um pássaro ferido, Toda a minhalma trêmula se arrasta. .
Olavo Bilac
Olha estas velhas árvores, mais belas Do que as árvores moças, mais amigas, Tanto mais belas quanto mais antigas, Vencedoras da idade e das procelas... O homem, a fera e o inseto, à sombra delas Vivem, livres da fome e de fadigas: E em seus galhos abrigam-se as cantigas E os amores das aves tagarelas. Não choremos, amigo, a mocidade! Envelheçamos rindo. Envelheçamos Como as árvores fortes envelhecem, Na glória de alegria e da bondade, Agasalhando os pássaros nos ramos, Dando sombra e consolo aos que padecem!
Olavo Bilac
Jesus nasceu. Na abóbada infinita Soam cânticos vivos de alegria; E toda a vida universal palpita Dentro daquela pobre estrebaria... Não houve sedas, nem cetins, nem rendas No berço humilde em que nasceu Jesus... Mas os pobres trouxeram oferendas Para quem tinha de morrer na cruz. Sobre a palha, risonho, e iluminado Pelo luar dos olhos de Maria, Vede o Menino-Deus, que está cercado Dos animais da pobre estrebaria. Nasceu entre pompas reluzentes; Na humildade e na paz deste lugar, Assim que abriu os olhos inocentes Foi para os pobres seu primeiro olhar. No entanto, os reis da terra, pecadores, Seguindo a estrela que ao presepe os guia, Vem cobrir de perfumes e de flores O chão daquela pobre estrebaria. Sobem hinos de amor ao céu profundo; Homens, Jesus nasceu! Natal! Natal! Sobre esta palha está quem salva o mundo, Quem ama os fracos, quem perdoa o mal, Natal! Natal! Em toda a natureza Há sorrisos e cantos, neste dia... Salve Deus da humildade e da pobreza Nascido numa pobre estrebaria.
Olavo Bilac
IX De outras sei que se mostram menos frias, Amando menos do que amar pareces. Usam todas de lágrimas e preces: Tu de acerbas risadas e ironias. De modo tal minha atenção desvias, Com tal perícia meu engano teces, Que, se gelado o coração tivesses, Certo, querida, mais ardor terias. Olho-te: cega ao meu olhar te fazes ... Falo-te — e com que fogo a voz levanto! — Em vão... Finges-te surda às minhas frases... Surda: e nem ouves meu amargo pranto! Cega: e nem vês a nova dor que trazes À dor antiga que doía tanto!
Olavo Bilac
XVII Por estas noites frias e brumosas É que melhor se pode amar, querida! Nem uma estrela pálida, perdida Entre a névoa, abre as pálpebras medrosas Mas um perfume cálido de rosas Corre a face da terra adormecida ... E a névoa cresce, e, em grupos repartida, Enche os ares de sombras vaporosas: Sombras errantes, corpos nus, ardentes Carnes lascivas ... um rumor vibrante De atritos longos e de beijos quentes ... E os céus se estendem, palpitando, cheios Da tépida brancura fulgurante De um turbilhão de braços e de seios.
Olavo Bilac
XIX Sai a passeio, mal o dia nasce, Bela, nas simples roupas vaporosas; E mostra às rosas do jardim as rosas Frescas e puras que possui na face. Passa. E todo o jardim, por que ela passe, Atavia-se. Há falas misteriosas Pelas moitas, saudando-a respeitosas... É como se uma sílfide passasse! E a luz cerca-a, beijando-a. O vento é um choro Curvam-se as flores trêmulas ... O bando Das aves todas vem saudá-la em coro ... E ela vai, dando ao sol o rosto brendo. Às aves dando o olhar, ao vento o louro Cabelo, e às flores os sorrisos dando...
Olavo Bilac
.......................................... Nua, de pé, solto o cabelo às costas, Sorri. Na alcova perfumada e quente, Pela janela, como um rio enorme De áureas ondas tranqüilas e impalpáveis, Profusamente a luz do meio-dia Entra e se espalha palpitante e viva. Entra, parte-se em feixes rutilantes, Aviva as cores das tapeçarias, Doura os espelhos e os cristais inflama. Depois, tremendo, como a arfar, desliza Pelo chão, desenrola-se, e, mais leve, Como uma vaga preguiçosa e lenta, Vem lhe beijar a pequenina ponta Do pequenino pé macio e branco. Sobe... cinge-lhe a perna longamente; Sobe... — e que volta sensual descreve Para abranger todo o quadril! — prossegue. Lambe-lhe o ventre, abraça-lhe a cintura, Morde-lhe os bicos túmidos dos seios, Corre-lhe a espádua, espia-lhe o recôncavo Da axila, acende-lhe o coral da boca E antes de se ir perder na escura noite, Na densa noite dos cabelos negros, Pára confusa, a palpitar, diante Da luz mais bela dos seus grandes olhos. E aos mornos beijos, às carícias ternas Da luz, cerrando levemente os cílios, Satânia os lábios úmidos encurva, E da boca na púrpura sangrenta Abre um curto sorriso de volúpia... Corre-lhe à flor da pele um calefrio; Todo o seu sangue, alvoroçado, o curso Apressa; e os olhos, pela fenda estreita Das abaixadas pálpebras radiando, Turvos, quebrados, lânguidos, contemplam, Fitos no vácuo, uma visão querida... (...) Publicado no livro Poesias, 1884/1887 (1888). Poema integrante da série Sarças de Fogo. In: BILAC, Olavo. Obra reunida. Org. e introd. Alexei Bueno. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996. p. 138-139. (Biblioteca luso-brasileira. Série brasileira)
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I Noite ainda, quando ela me pedia Entre dois beijos que me fosse embora, Eu, com os olhos em lágrimas, dizia: "Espera ao menos que desponte a aurora! Tua alcova é cheirosa como um ninho... E olha que escuridão há lá por fora! Como queres que eu vá, triste e sozinho, Casando a treva e o frio de meu peito Ao frio e à treva que há pelo caminho?! Ouves? é o vento! é um temporal desfeito! Não me arrojes à chuva e à tempestade! Não me exiles do vale do teu leito! Morrerei de aflição e de saudade... Espera! até que o dia resplandeça, Aquece-me com a tua mocidade! Sobre o teu colo deixa-me a cabeça Repousar, como há pouco repousava... Espera um pouco! deixa que amanheça!" — E ela abria-me os braços. E eu ficava. Publicado no livro Poesias (1902). Poema integrante da série Alma Inquieta. In: BILAC, Olavo. Poesias. Posfácio R. Magalhães Júnior. Rio de Janeiro: Ediouro, 197
Olavo Bilac
Longe do estéril turbilhão da rua, Beneditino, escreve! No aconchego Do claustro, na paciência e no sossego, Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua! Mas que na forma se disfarce o emprego Do esforço; e a trama viva se construa De tal modo, que a imagem fique nua, Rica mas sóbria, como um templo grego. Não se mostre na fábrica o suplício Do mestre. E, natural, o efeito agrade, Sem lembrar os andaimes do edifício: Porque a Beleza, gêmea da Verdade, Arte pura, inimiga do artifício, É a força e a graça na simplicidade. Publicado no livro Tarde (1919). In: BILAC, Olavo. Poesias. Posfácio R. Magalhães Júnior. Rio de Janeiro: Ediouro, 197
Olavo Bilac
Da mata no seio umbroso, No verde seio da serra, Nasce o rio generoso, Que é a providência da terra. Nasce humilde; e, pequenino, Foge ao sol abrasador; É um fio dágua, tão fino, Que desliza sem rumor. Entre as pedras se insinua, Ganha corpo, abre caminho, Já canta, já tumultua, Num alegre borburinho. Agora ao sol, que o prateia, Todo se entrega, a sorrir; Avança, as rochas ladeia, Some-se, torna a surgir. Recebe outras águas, desce As encostas de uma em uma, Engrossa as vagas, e cresce, Galga os penedos, e espuma. Agora, indômito e ousado, Transpõe furnas e grotões, Vence abismos, despenhado Em saltos e cachoeirões. E corre, galopa, cheio De força; de vaga em vaga, Chega ao vale, alarga o seio, Cava a terra, o campo alaga . . . Expande-se, abre-se, ingente, Por cem léguas, a cantar, Até que cai finalmente, No seio vasto do mar . . . Mas na triunfal majestade Dessa marcha vitoriosa, Quanto amor, quanta bondade Na sua alma generosa! A cada passo que dava O nobre rio, feliz Mais uma árvore criava, Dando vida a uma raiz. Quantas dádivas e quantas Esmolas pelos caminhos! Matava a sede das plantas E a sede dos passarinhos . . . Fonte de força e fartura, Foi bem, foi saúde e pão: Dava às cidades frescura, Fecundidade ao sertão . . . E um nobre exemplo sadio Nas suas águas se encerra; Devemos ser como o rio, Que é a providência da terra: Bendito aquele que é forte, E desconhece o rancor, E, em vez de servir a morte, Ama a vida, e serve o Amor!
Olavo Bilac
XXIX Por tanto tempo, desvairado e aflito, Fitei naquela noite o firmamento, Que inda hoje mesmo, quando acaso o fito, Tudo aquilo me vem ao pensamento. Sal, no peito o derradeiro grito Calcando a custo, sem chorar, violento... E o céu fulgia plácido e infinito, E havia um choro no rumor do vento... Piedoso céu, que a minha dor sentiste! A áurea esfera da lua o ocaso entrava. Rompendo as leves nuvens transparentes; E sobre mim, silenciosa e triste, A via-láctea se desenrolava Como um jorro de lágrimas ardentes.
Olavo Bilac
A avó, que tem oitenta anos, Está tão fraca e velhinha! . . . Teve tantos desenganos! Ficou branquinha, branquinha, Com os desgostos humanos. Hoje, na sua cadeira, Repousa, pálida e fria, Depois de tanta canseira: E cochila todo o dia, E cochila a noite inteira. Às vezes, porém, o bando Dos netos invade a sala . . . Entram rindo e papagueando: Este briga, aquele fala, Aquele dança, pulando . . . A velha acorda sorrindo, E a alegria a transfigura; Seu rosto fica mais lindo, Vendo tanta travessura, E tanto barulho ouvindo. Chama os netos adorados, Beija-os, e, tremulamente, Passa os dedos engelhados, Lentamente, lentamente, Por seus cabelos, doirados. Fica mais moça, e palpita, E recupera a memória, Quando um dos netinhos grita: "Ó vovó! conte uma história! Conte uma história bonita!" Então, com frases pausadas, Conta historias de quimeras, Em que há palácios de fadas, E feiticeiras, e feras, E princesas encantadas . . . E os netinhos estremecem, Os contos acompanhando, E as travessuras esquecem, — Até que, a fronte inclinando Sobre o seu colo, adormecem . . .
Olavo Bilac
Na água do rio que procura o mar; No mar sem fim; na luz que nos encanta; Na montanha que aos ares se levanta; No céu sem raias que deslumbra o olhar; No astro maior, na mais humilde planta; Na voz do vento, no clarão solar; No inseto vil, no tronco secular, — A vida universal palpita e canta! Vive até, no seu sono, a pedra bruta . . . Tudo vive! E, alta noite, na mudez De tudo, — essa harmonia que se escuta Correndo os ares, na amplidão perdida, Essa música doce, é a voz, talvez, Da alma de tudo, celebrando a Vida!