Olavo Bilac

Olavo Bilac foi um membro fundador da Academia Brasileira de Letras. Criou a cadeira n.º 15, cujo patrono é Gonçalves Dias.

Uma imagem com a seguinte frase ..........................................
Nua, de pé, solto o cabelo às costas,
Sorri. Na alcova perfumada e quente,
Pela janela, como um rio enorme
De áureas ondas tranqüilas e impalpáveis,
Profusamente a luz do meio-dia
Entra e se espalha palpitante e viva.
Entra, parte-se em feixes rutilantes,
Aviva as cores das tapeçarias,
Doura os espelhos e os cristais inflama.
Depois, tremendo, como a arfar, desliza
Pelo chão, desenrola-se, e, mais leve,
Como uma vaga preguiçosa e lenta,
Vem lhe beijar a pequenina ponta
Do pequenino pé macio e branco.

Sobe... cinge-lhe a perna longamente;
Sobe... — e que volta sensual descreve
Para abranger todo o quadril! — prossegue.
Lambe-lhe o ventre, abraça-lhe a cintura,
Morde-lhe os bicos túmidos dos seios,
Corre-lhe a espádua, espia-lhe o recôncavo
Da axila, acende-lhe o coral da boca
E antes de se ir perder na escura noite,
Na densa noite dos cabelos negros,
Pára confusa, a palpitar, diante
Da luz mais bela dos seus grandes olhos.

E aos mornos beijos, às carícias ternas
Da luz, cerrando levemente os cílios,
Satânia os lábios úmidos encurva,
E da boca na púrpura sangrenta
Abre um curto sorriso de volúpia...
Corre-lhe à flor da pele um calefrio;
Todo o seu sangue, alvoroçado, o curso
Apressa; e os olhos, pela fenda estreita
Das abaixadas pálpebras radiando,
Turvos, quebrados, lânguidos, contemplam,
Fitos no vácuo, uma visão querida...

(...)

Publicado no livro Poesias, 1884/1887 (1888). Poema integrante da série Sarças de Fogo.

In: BILAC, Olavo. Obra reunida. Org. e introd. Alexei Bueno. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996. p. 138-139. (Biblioteca luso-brasileira. Série brasileira)

Olavo Bilac

.......................................... Nua, de pé, solto o cabelo às costas, Sorri. Na alcova perfumada e quente, Pela janela, como um rio enorme De áureas ondas tranqüilas e impalpáveis, Profusamente a luz do meio-dia Entra e se espalha palpitante e viva. Entra, parte-se em feixes rutilantes, Aviva as cores das tapeçarias, Doura os espelhos e os cristais inflama. Depois, tremendo, como a arfar, desliza Pelo chão, desenrola-se, e, mais leve, Como uma vaga preguiçosa e lenta, Vem lhe beijar a pequenina ponta Do pequenino pé macio e branco. Sobe... cinge-lhe a perna longamente; Sobe... — e que volta sensual descreve Para abranger todo o quadril! — prossegue. Lambe-lhe o ventre, abraça-lhe a cintura, Morde-lhe os bicos túmidos dos seios, Corre-lhe a espádua, espia-lhe o recôncavo Da axila, acende-lhe o coral da boca E antes de se ir perder na escura noite, Na densa noite dos cabelos negros, Pára confusa, a palpitar, diante Da luz mais bela dos seus grandes olhos. E aos mornos beijos, às carícias ternas Da luz, cerrando levemente os cílios, Satânia os lábios úmidos encurva, E da boca na púrpura sangrenta Abre um curto sorriso de volúpia... Corre-lhe à flor da pele um calefrio; Todo o seu sangue, alvoroçado, o curso Apressa; e os olhos, pela fenda estreita Das abaixadas pálpebras radiando, Turvos, quebrados, lânguidos, contemplam, Fitos no vácuo, uma visão querida... (...) Publicado no livro Poesias, 1884/1887 (1888). Poema integrante da série Sarças de Fogo. In: BILAC, Olavo. Obra reunida. Org. e introd. Alexei Bueno. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996. p. 138-139. (Biblioteca luso-brasileira. Série brasileira)

0
0
Uma imagem com a seguinte frase Da mata no seio umbroso,
No verde seio da serra,
Nasce o rio generoso,
Que é a providência da terra.

Nasce humilde; e, pequenino,
Foge ao sol abrasador;
É um fio dágua, tão fino,
Que desliza sem rumor.

Entre as pedras se insinua,
Ganha corpo, abre caminho,
Já canta, já tumultua,
Num alegre borburinho.

Agora ao sol, que o prateia,
Todo se entrega, a sorrir;
Avança, as rochas ladeia,
Some-se, torna a surgir.

Recebe outras águas, desce
As encostas de uma em uma,
Engrossa as vagas, e cresce,
Galga os penedos, e espuma.

Agora, indômito e ousado,
Transpõe furnas e grotões,
Vence abismos, despenhado
Em saltos e cachoeirões.

E corre, galopa, cheio
De força; de vaga em vaga,
Chega ao vale, alarga o seio,
Cava a terra, o campo alaga . . .

Expande-se, abre-se, ingente,
Por cem léguas, a cantar,
Até que cai finalmente,
No seio vasto do mar . . .

Mas na triunfal majestade
Dessa marcha vitoriosa,
Quanto amor, quanta bondade
Na sua alma generosa!

A cada passo que dava
O nobre rio, feliz
Mais uma árvore criava,
Dando vida a uma raiz.

Quantas dádivas e quantas
Esmolas pelos caminhos!
Matava a sede das plantas
E a sede dos passarinhos . . .

Fonte de força e fartura,
Foi bem, foi saúde e pão:
Dava às cidades frescura,
Fecundidade ao sertão . . .

E um nobre exemplo sadio
Nas suas águas se encerra;
Devemos ser como o rio,
Que é a providência da terra:

Bendito aquele que é forte,
E desconhece o rancor,
E, em vez de servir a morte,
Ama a vida, e serve o Amor!

Olavo Bilac

Da mata no seio umbroso, No verde seio da serra, Nasce o rio generoso, Que é a providência da terra. Nasce humilde; e, pequenino, Foge ao sol abrasador; É um fio dágua, tão fino, Que desliza sem rumor. Entre as pedras se insinua, Ganha corpo, abre caminho, Já canta, já tumultua, Num alegre borburinho. Agora ao sol, que o prateia, Todo se entrega, a sorrir; Avança, as rochas ladeia, Some-se, torna a surgir. Recebe outras águas, desce As encostas de uma em uma, Engrossa as vagas, e cresce, Galga os penedos, e espuma. Agora, indômito e ousado, Transpõe furnas e grotões, Vence abismos, despenhado Em saltos e cachoeirões. E corre, galopa, cheio De força; de vaga em vaga, Chega ao vale, alarga o seio, Cava a terra, o campo alaga . . . Expande-se, abre-se, ingente, Por cem léguas, a cantar, Até que cai finalmente, No seio vasto do mar . . . Mas na triunfal majestade Dessa marcha vitoriosa, Quanto amor, quanta bondade Na sua alma generosa! A cada passo que dava O nobre rio, feliz Mais uma árvore criava, Dando vida a uma raiz. Quantas dádivas e quantas Esmolas pelos caminhos! Matava a sede das plantas E a sede dos passarinhos . . . Fonte de força e fartura, Foi bem, foi saúde e pão: Dava às cidades frescura, Fecundidade ao sertão . . . E um nobre exemplo sadio Nas suas águas se encerra; Devemos ser como o rio, Que é a providência da terra: Bendito aquele que é forte, E desconhece o rancor, E, em vez de servir a morte, Ama a vida, e serve o Amor!

0
0