Ricardo Reis
No site mil frases, a categoria de poemas de Ricardo Reis inclui uma seleção de obras do poeta português Fernando Pessoa, que escreveu sob o heterônimo de Ricardo Reis. Ricardo Reis é conhecido por sua poesia lírica e clássica, que se inspira na tradição greco-romana e na poesia lírica portuguesa do século XVII. Seus poemas são caracterizados por seu tom elegante e refinado, e pela sua busca pela beleza e pela perfeição. No site mil frases, é possível encontrar uma variedade de poemas de Ricardo Reis, que abordam temas como o amor, a natureza, a saudade e a morte. Estes poemas são uma oportunidade para conhecer a obra de um dos maiores poetas portugueses e para apreciar a beleza e a elegância de sua poesia.
Ricardo Reis
Grinalda ou coroa É só peso posto Na fronte antes limpa. Grinalda de rosas, Coroa de louros, A fronte transtornam. Que o vento nos possa Mexer nos cabelos, Refrescar a fronte! Que a fronte despida Possa reclinar-se, Serena, onde durma. Cloé! Não conheço Melhor alegria Que esta fronte lisa.
Ricardo Reis
O ritmo antigo que há em pés descalços, Esse ritmo das ninfas repetido, Quando sob o arvoredo Batem o som da dança, Vós na alva praia relembrai, fazendo, Que escura a espuma deixa; vós, infantes, Que inda não tendes cura De ter cura, reponde Ruidosa a roda, enquanto arqueia Apolo, Como um ramo alto, a curva azul que doura, E a perene maré Flui, enchente ou vazante.
Ricardo Reis
Breve o inverno virá com sua branca Nudez vestir os campos. As lareiras serão as nossas pátrias E os contos que contarmos Assentados ao pé do seu calor Valerão as canções Com que outrora entre as verdes ervas rijas Dizíamos ao sol O ave atque vale triste e alegre, Solenes e carpindo. Por ora o outono está connosco ainda. Se ele nos não agrada A memória do estio cotejemos Com a esperança hiemal. E entre essas dádivas memoradas Como um rio passemos.
Ricardo Reis
A folha insciente, antes que a própria morra Para nós morre, Cloé, Para nós, que sabemos que ela morre Assim, Cloé, assim Antes que os próprios corpos, que empregamos No amor, ela envelhece. Assim, diversos, somos, inda jovens, Só a mútua lembrança. Ah, se o que somos é sempre isto, e apenas Uma hora é o que somos, Com tal fúria nessa hora nos usemos Que arda sua lembrança Como vida, e nos beijemos, Cloé, Como se, findo o beijo Único, houvesse de ruir a súbita Mole do morto mundo.
Ricardo Reis
Um verso repete Uma brisa fresca, O verão nas ervas, E vazio sofre ao sol O átrio abandonado. Ou, no inverno, ao longe Os cimos de neve, À lareira toadas Dos contos herdados, E um verso a dizê-lo. Os deuses concedem Poucos mais prazeres Que estes, que são nada. Mas também concedem Não querermos outros.
Ricardo Reis
Olho os campos, Neera Verdes campos, e sinto Como virá um dia Em que não mais os veja. Par de árvores cobre O céu aqui sem nuvens E faz correr mais triste A viva e alegre linfa. Mas por um só momento Fugaz e passageiro Esta ideia eu emprego Para o seu uso triste. Cedo me volve a calma Com que me faço o espelho Do céu imperturbado E da fonte insciente. Deixa o futuro, — porque Não está aqui, não é nada; Só o fugaz presente Enquanto dura existe. Vive a imperfeita hora Sem olhar além dela E sem nada esperares Dos homens, nem dos deuses.
Ricardo Reis
Quem fui é externo a mim. Se lembro, vejo; E ver é ser alheio. Meu passado Só por visão relembro. Aquilo mesmo que senti me é claro. Alheia é a alma antiga; o que me sinto Chegou hoje à estalagem. Quem pode conhecer, entre tanto erro De modos de sentir-se, a exacta forma Que tem para consigo?
Ricardo Reis
O ritmo antigo que há em pés descalços, Esse ritmo das ninfas repetido, Quando sob o arvoredo Batem o som da dança, Vós na alva praia relembrai, fazendo, Que escura a espuma deixa; vós, infantes, Que inda não tendes cura De ter cura, reponde Ruidosa a roda, enquanto arqueia Apolo, Como um ramo alto, a curva azul que doura, E a perene maré Flui, enchente ou vazante.