A mata agita-se, revoluteia, contorce-se toda e sacode-se! A mata hoje tem alguma coisa para dizer. E ulula, e contorce-se toda, como a atriz de uma pantomima trágica. Cada galho rebelado Inculca a mesma perdida ânsia. Todos eles sabem o mesmo segredo pânico. Ou então — é que pedem desesperadamente a mesma instante coisa. Que saberá a mata? Que pedirá a mata? Pedirá água? Mas a água despenhou-se há pouco, fustigando-a, escorraçando-a, saciando-a como aos alarves. Pedirá o fogo para a purificação das necroses milenárias? Ou não pede nada, e quer falar e não pode? Terá surpreendido o segredo da terra pelos ouvidos finíssimos das suas raízes? A mata agita-se, revoluteia, contorce-se toda e sacode-se! A mata está hoje como uma multidão em delírio coletivo. Só uma touça de bambus, à parte, Balouça... levemente... levemente... levemente... E parece sorrir do delírio geral. Petrópolis, 1921