Manuel Bandeira
439 posts
A poesia de Bande...
Carta-poema

Carta-poema

Mil-Frases

há 1 ano
Um poema de Manuel Bandeira

Excelentíssimo Prefeito

Senhor Hildebrando de Góis,

Permiti que, rendido o preito

A que fazeis jus por quem sois,

Um poeta já sexagenário,

Que não tem outra aspiração

Senão viver de seu salário

Na sua limpa solidão,

Peça vistoria e visita

A este pátio para onde dá

O apartamento que ele habita

No Castelo há dois anos já.

É um pátio, mas é via pública,

E estando ainda por calçar,

Faz a vergonha da República

Junto à Avenida Beira-Mar!

Indiferentes ao capricho

Das posturas municipais,

A ele jogam todo o seu lixo

Os moradores sem quintais.

Que imundície! Tripas de peixe,

Cascas de fruta e ovo, papéis...

-Não é natural que me queixe?

Meu Prefeito, vinde e vereis!

Quando chove, o chão vira lama:

São atoleiros, lodaçais,

Que disputam a palma à fama

Das velhas maremas letais!

A um distinto amigo europeu

Disse eu: — Não é no Paraguai

Que fica o Grande Chaco, este é O

Grande Chaco! Senão, olhai!

Excelentíssimo Prefeito

Hildebrando Araújo de Góis,

A quem humilde rendo preito,

Por serdes vós, senhor, quem sois:

Mandai calçar a via pública

Que, sendo um vasto lagamar,

Faz a vergonha da República

Junto à Avenida Beira-Mar!


"Carta-poema" é um poema de Manuel Bandeira que expressa uma crítica social e política. O poeta escreve uma carta ao prefeito da cidade, pedindo que ele visite um pátio público que está em péssimas condições, cheio de lixo e lama. Bandeira denuncia a falt
Manuel Bandeira
439 posts
A poesia de Bande...
Categorias

Poemas

Ver mais
É boa! Se fossem malmequeres!
há 1 ano
É boa! Se fossem malmequeres! E é uma papoula Sozinha, com esse ar de «queres?» Veludo da natureza tola. Coitada! Por ela Saí da marcha pela estra...
Em vão procuro o bem que me negaram.
há 1 ano
Em vão procuro o bem que me negaram. As flores dos jardins herdadas de outros Como hão-de mais que perfumar de longe Meu desejo de tê-las?
Entremos na morte com alegria! Caramba
há 1 ano
Entremos na morte com alegria! Caramba O ter que vestir fato, o ter que lavar o corpo, O ter que ter razão, semelhanças, maneiras e modos; O ter ri...
Grinalda ou coroa
há 1 ano
Grinalda ou coroa É só peso posto Na fronte antes limpa. Grinalda de rosas, Coroa de louros, A fronte transtornam. Que o vento nos possa Mexer no...
Andorinha
há 1 ano
Andorinha lá fora está dizendo: — "Passei o dia à toa, à toa!" Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais triste! Passei a vida à toa, à toa...
John Talbot
há 1 ano
John Talbot, John Talbot, He's not very tall, but He's a baby so sweet, so nice. He looks like-a bird And I never have heard Of such kind, suc...
Enfia, a agulha,
há 1 ano
Enfia, a agulha, E ergue do colo A costura enrugada. Escuta: (volto a folha Com desconsolo). Não ouviste nada. Os meus poemas, este E os outros qu...
VI - O ritmo antigo que há em pés descalços, [1]
há 1 ano
O ritmo antigo que há em pés descalços, Esse ritmo das ninfas repetido, Quando sob o arvoredo Batem o som da dança, Vós na alva praia relembrai...
SAUDAÇÃO A W. WHITMAN [c]
há 1 ano
SAUDAÇÂO A W. WHITMAN Para cantar-te, Para cantar-te como tu quererias que te cantassem, Melhor é cantar a terra, o mar, as cidades e os campos — ...
Concentra-te, e serás sereno e forte;
há 1 ano
Concentra-te, e serás sereno e forte; Mas concentra-te fora de ti mesmo. Não sê mais para ti que o pedestal No qual ergas a estátua do teu ser. Tud...