A noite... O silêncio... Se fosse só o silêncio! Mas esta queda d'água que não pára! que não pára! Não é de dentro de mim que ela flui sem piedade?... A minha vida foge, foge — e sinto que foge inutilmente! O silêncio e a estrada ensopada, com dois reflexos intermináveis... Fumo até quase não sentir mais que a brasa e a cinza em minha boca. O fumo faz mal aos meus pulmões comidos pelas algas. O fumo é amargo e abjeto. Fumo abençoado, que és amargo e abjeto! Uma pequenina aranha urde no peitoril da janela a teiazinha levíssima. Tenho vontade de beijar esta aranhazinha... No entanto em cada charuto que acendo cuido encontrar o gosto que faz esquecer... Os meus retratos... Os meus livros... O meu crucifixo de marfim... E a noite... Petrópolis, 1921