PECADO ORIGINAL
Ah, quem escreverá a história do que poderia ter sido? Será essa, se alguém a escrever, A verdadeira história da humanidade.
O que há é só o mundo verdadeiro, não é nós, só o mundo; O que não há somos nós, e a verdade está aí.
Sou quem falhei ser. Somos todos quem nos supusemos. A nossa realidade é o que não conseguimos nunca.
Que é daquela nossa verdade – o sonho à janela do infância? Que é daquela nossa certeza – o propósito à mesa de depois?
Medito, a cabeça curvada contra as mãos sobrepostas Sobre o parapeito alto da janela de sacada, Sentado de lado numa cadeira, depois de jantar.
Que é da minha realidade, que só tenho a vida? Que é de mim, que sou só quem existo?
Quantos Césares fui!
Na alma, e com alguma verdade; Na imaginação, e com alguma justiça; Na inteligência, e com alguma razão – Meu Deus! Meu Deus! Meu Deus! Quantos Césares fui! Quantos Césares fui! Quantos Césares fui!
07/12/1933