Se em verdade não sabes (nem sustentas Que sabes) que há na vida mais que a vida, Porque com tanto esforço e cura tanta, Operoso a não vives? Porque, sem paraíso que apeteças, Amontoas riquezas, nem as gastas, É para teu cadáver que amontoas? Gozas menos que ganhas. Ah, se não tens que esperes, salvo a morte, Não cures mais que do preciso esforço Para passar incólume na vida De (...) Sim, gozas. Mas mais rico és que ditoso Se só para o que perdes gozas, Menos te o esforço oneraria, Sem ele. (...) Ah servidão irreprimível, nada Da vida breve subsiste, que sabes Que morre toda, e gasta-se nas obras Egoísta de um futuro que não é seu. Mas respondes-me: E os poemas que escreves A quem os dás futuro? A obra obrigas E o homem só por semear semeia O que o Destino manda.