Álvaro de Campos
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TRAPO

TRAPO

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há 1 ano
Um poema de Álvaro de Campos

TRAPO

O dia deu em chuvoso. A manhã, contudo, estava bastante azul. O dia deu em chuvoso. Desde manhã eu estava um pouco triste. Antecipação? Tristeza? Coisa nenhuma? Não sei: já ao acordar estava triste. O dia deu em chuvoso.

Bem sei: a penumbra da chuva é elegante. Bem sei: o sol oprime, por ser tão ordinário, um elegante. Bem sei: ser susceptível às mudanças de luz não é elegante. Mas quem disse ao sol ou aos outros que eu quero ser elegante? Dêem-me o céu azul e o sol visível. Névoa, chuvas, escuros – isso tenho eu em mim. Hoje quero só sossego. Até amaria o lar, desde que o não tivesse. Chego a ter sono de vontade de ter sossego. Não exageremos! Tenho efectivamente sono, sem explicação. O dia deu em chuvoso.

Carinhos? Afectos? São memórias... É preciso ser-se criança para os ter... Minha madrugada perdida, meu céu azul verdadeiro! O dia deu em chuvoso.

Boca bonita da filha do caseiro, Polpa de fruta de um coração por comer... Quando foi isso? não sei... No azul da manhã...

O dia deu em chuvoso.

10/09/1930 (publicado na Presença, nº 31-32, Março-Junho de 1931)


"Trapo" é um poema de Álvaro de Campos que retrata a melancolia e a tristeza do eu lírico em um dia chuvoso. O poeta expressa sua preferência pelo céu azul e pelo sol visível, em contraste com a penumbra e a chuva. O eu lírico também menciona a falta de c
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