Manuel Bandeira
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A poesia de Bande...

Mil-Frases

há 9 meses

Mário Inteligência Sabor Surpresa As neblinas paulistas condensaram-se em ácidos sarcásticos E queimaram a epiderme azul dos aços virginais Mas nas sombras mais fundas ficaram os docementes dos nanquins mais melancólicos!... Como será São Paulo... O Paraná com os pinhais intratáveis? (Não servem para uma exploração regular da indústria do papel) Goiás! Ilha do Bananal! Mas os índios? Os mosquitos? Os botocudos e os borrachudos... Como será o Brasil?... Como será São Paulo? São Paulo era a Sé Velha Cercada de sobradinhos coloniais Na Rua de São João a escala cromática dos pára-sóis dos engraxates Progredior Politeama A Casa Garraux vendia também objetos de arte Camilo Castelo Branco não sabia ainda da existência dos piraquaras do Paraíba Não havia ainda Vasco Porcalho livreiro-editor encomendando a toda a gente uma novela safada Havia sim a Avenida Tiradentes espapaçada ao sol como um feriado nacional E o edifício do Liceu implorando baixinho que o deixassem em tijolo aparente (Lá dentro eu desenhando a bico de pena motivos arquitetônicos do Renascimento... As minhas arquiteturas corroídas!...) Duas vezes por semana música no Jardim da Luz A banda do maestro Antão A primeira da América do Sul O samba de Alexandre Levi Bis! Bis! O namorozinho nacional passeando cheio de dengue entre os zincos lambuzados de cerveja Não havia guaraná bebida depurativa e tônico-refrigerante Quem fazia o policiamento era a torre da Inglesa O relógio grande batia os quartos um dois três quatro e recomeçava indefinidamente sem compreender como aquela gente podia ainda ouvir Puccini E em torno dele a garoa paulistana irônica silenciosa encharcava todos os minutos Mas as garoas condensaram-se em ácidos sarcásticos E queimaram a epiderme azul dos aços virginais: Mário de Andrade! Como será São Paulo? Não havia mais bandeirantes Nem a lembrança de Álvares de Azevedo O antigo Largo de São Bento com as árvores nuas e magrinhas Pedia tanto um pouco de neve que lhe desse um arzinho de Paris Os filhos de Bernardino de Campos faziam parte do cordão Nem Teatro Municipal nem Esplanada Hotel Só havia um viaduto: Anhangabaú dos suicídios passionais! Ponte Grande! Cambuci! E o cemitério da Consolação... Mário um cigarro O punho forte do subconsciente campeia e conjuga os relâmpagos mais díspares Os ritmos mais dissolutos Raivas Testamentos de Heiligenstadt Amores fantasmagorias carnavais porrada Coisas absolutamente incompreensíveis Como as obras de Deus Raivas raivas Bondade A girândola do último dia de novena Tudo Para todos os lados CATÓLICO Mário um cigarro Positivamente esta quarta-feira está cotidiana demais O leite da manhã tinha mais água O sol está banal como uma taça de campeonato Como os bronzes comerciais que representam o Trabalho Eu não sei latim Não sei cálculo diferencial e integral Não sei tocar piano (por causa de uma sonatina de Steibelt) Não compreendo absolutamente Fichte Schelling e Hegel Victor Hugo é pau Byron é pau Mário um cigarro CAPORAL LAVADO! Numa pia de igreja em Bizâncio está gravada esta inscrição NIPSONANOMHMATAMHMONANOSPIN Soletrada da direita para a esquerda recompõe o mesmo sentido Lava os pecados não laves só a cara Mário eles não lavam nem os pecados nem a cara Os homens são horríveis POR ISSO HÁ QUE OS AMAR Com os docementes dos nanquins mais melancólicos Brasil Como será o Brasil? MÁRIO DE ANDRADE

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Poemas

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É boa! Se fossem malmequeres!

há 1 ano
É boa! Se fossem malmequeres! E é uma papoula Sozinha, com esse ar de «queres?» Veludo da natureza tola. Coitada! Por ela Saí da marcha pela estra...

Em vão procuro o bem que me negaram.

há 1 ano
Em vão procuro o bem que me negaram. As flores dos jardins herdadas de outros Como hão-de mais que perfumar de longe Meu desejo de tê-las?

Entremos na morte com alegria! Caramba

há 1 ano
Entremos na morte com alegria! Caramba O ter que vestir fato, o ter que lavar o corpo, O ter que ter razão, semelhanças, maneiras e modos; O ter ri...

Grinalda ou coroa

há 1 ano
Grinalda ou coroa É só peso posto Na fronte antes limpa. Grinalda de rosas, Coroa de louros, A fronte transtornam. Que o vento nos possa Mexer no...

Andorinha

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Andorinha lá fora está dizendo: — "Passei o dia à toa, à toa!" Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais triste! Passei a vida à toa, à toa...

John Talbot

há 9 meses
John Talbot, John Talbot, He's not very tall, but He's a baby so sweet, so nice. He looks like-a bird And I never have heard Of such kind, suc...

Enfia, a agulha,

há 1 ano
Enfia, a agulha, E ergue do colo A costura enrugada. Escuta: (volto a folha Com desconsolo). Não ouviste nada. Os meus poemas, este E os outros qu...

VI - O ritmo antigo que há em pés descalços, [1]

há 1 ano
O ritmo antigo que há em pés descalços, Esse ritmo das ninfas repetido, Quando sob o arvoredo Batem o som da dança, Vós na alva praia relembrai...

SAUDAÇÃO A W. WHITMAN [c]

há 1 ano
SAUDAÇÂO A W. WHITMAN Para cantar-te, Para cantar-te como tu quererias que te cantassem, Melhor é cantar a terra, o mar, as cidades e os campos — ...

Concentra-te, e serás sereno e forte;

há 1 ano
Concentra-te, e serás sereno e forte; Mas concentra-te fora de ti mesmo. Não sê mais para ti que o pedestal No qual ergas a estátua do teu ser. Tud...