Poemas de Amor
Coleção de poemas de Amor para ler, reflectir e partilhar com quem mais ama. Os poemas de amor são aqueles que expressam os sentimentos de amor, carinho e afeto que uma pessoa sente por outra. Eles podem ser escritos para um amor romântico, para um amigo, para um parente ou até mesmo para si mesmo. Os poemas de amor podem ser profundos e sinceros, ou leves e divertidos, mas sempre expressam a importância e o valor que a pessoa tem para quem os escreve. Alguns poemas de amor são clássicos e conhecidos por todos, enquanto outros são mais pessoais e íntimos, falando sobre momentos especiais ou sentimentos profundos. Seja qual for o estilo ou a forma de escrita, os poemas de amor são uma forma linda de expressar o amor e o carinho que sentimos por alguém.
Manuel Bandeira
1. Doces de açúcar e gemas São teus versos, e teus doces Sabem a poemas: não fosses Toda doce em cada poema! 2. Pouco e coco rimam, sim, Mas quando o coco é o seu coco, Que, por mais que seja, é pouco (Pelo menos para mim!). 3. Não veio doce, mas veio Verso seu, que me é tão doce Como se doce ele fosse: Mais que doce: doce e meio!
Manuel Bandeira
Tu amarás outras mulheres E tu me esquecerás! É tão cruel, mas é a vida. E no entretanto Alguma coisa em ti pertence-me! Em mim alguma coisa és tu. O lado espiritual do nosso amor Nos marcou para sempre. Oh, em pensamento nos meus braços! Que eu te afeiçoe e acaricie... Não sei por que te falo assim de coisas que não são Esta noite, de súbito, um aperto De coração tão vivo e lancinante Tive ao pensar numa separação! Não sei que tenho, tão ansiosa e sem motivo. Queria ver-te... estar ao pé de ti... Cruel volúpia e profunda ternura dilaceram-me! É como uma corrida, em minhas veias, De fúrias e de santas para a ponta dos meus dedos, Que queriam tomar tua cabeça amada, Afagar tua fronte e teus cabelos, Prender-te a mim por que jamais tu me escapasses! Oh, quisera não ser tão voluptuosa! E todavia Quanta delícia ao nosso amor traz a volúpia! Mas sofrer... inquieta... Ah, com que poderei contentá-la jamais? Quisera calmá-la na música... Ouvir, muito, ouvir muito... Sinto-me terna... e sou cruel e melancólica! Possui-me como sou na ampla noite pressaga! Sente o inefável! Guarda apenas a ventura Do meu desejo ardendo a sós Na treva imensa... Ah, se eu ouvisse a tua voz!
Fernando Pessoa
Outros terão Um lar, quem saiba, amor, paz, um amigo. A inteira, negra e fria solidão Está comigo. A outros talvez Há alguma coisa quente, igual, afim No mundo real. Não chega nunca a vez Para mim. «Que importa?» Digo, mas só Deus sabe que o não creio. Nem um casual mendigo à minha porta Sentar se veio. «Quem tem de ser?» Não sofre menos quem o reconhece. Sofre quem finge desprezar sofrer Pois não esquece. Isto até quando? Só tenho por consolação Que os olhos se me vão acostumando À escuridão 13/01/1920
Fernando Pessoa
A lembrada canção, Amor, renova agora. Na noite, olhos fechados, tua voz Dói-me no coração Por tudo quanto chora. Cantas ao pé de mim, e eu estou a sós. Não, a voz não é tua Que se ergue e acorda em mim Murmúrios de saudade e de inconstância, O luar não vem da lua Mas do meu ser afim Ao mito, à mágoa, à ausência e à distância. Não, não é teu o canto Que como um astro ao fundo Da noite imensa do meu coração Chama em vão, chama tanto... Quem sou não sei... e o mundo?... Renova, amor, a antiga e vã canção. Cantas mais que por ti, Tua voz é uma ponte Por onde passa, inúmero, um segredo Que nunca recebi – Murmúrio do horizonte, Água na noite, morte que vem cedo. Assim, cantas sem que existas. Ao fim do luar pressinto Melhores sonhos que estes da ilusão 01/01/1920
Fernando Pessoa
Outros terão Um lar, quem saiba, amor, paz, um amigo. A inteira, negra e fria solidão Está comigo. A outros talvez Há alguma coisa quente, igual, afim No mundo real. Não chega nunca a vez Para mim. «Que importa?» Digo, mas só Deus sabe que o não creio. Nem um casual mendigo à minha porta Sentar se veio. «Quem tem de ser?» Não sofre menos quem o reconhece. Sofre quem finge desprezar sofrer Pois não esquece. Isto até quando? Só tenho por consolação Que os olhos se me vão acostumando À escuridão 13/01/1920
Fernando Pessoa
A lembrada canção, Amor, renova agora. Na noite, olhos fechados, tua voz Dói-me no coração Por tudo quanto chora. Cantas ao pé de mim, e eu estou a sós. Não, a voz não é tua Que se ergue e acorda em mim Murmúrios de saudade e de inconstância, O luar não vem da lua Mas do meu ser afim Ao mito, à mágoa, à ausência e à distância. Não, não é teu o canto Que como um astro ao fundo Da noite imensa do meu coração Chama em vão, chama tanto... Quem sou não sei... e o mundo?... Renova, amor, a antiga e vã canção. Cantas mais que por ti, Tua voz é uma ponte Por onde passa, inúmero, um segredo Que nunca recebi – Murmúrio do horizonte, Água na noite, morte que vem cedo. Assim, cantas sem que existas. Ao fim do luar pressinto Melhores sonhos que estes da ilusão 01/01/1920
Ricardo Reis
Vossa formosa juventude leda, Vossa felicidade pensativa, Vosso modo de olhar a quem vos olha, Vosso não conhecer-vos – Tudo quanto vós sois, que vos semelha À vida universal que vos esquece Dá carinho de amor a quem vos ama Por serdes não lembrando Quanta igual mocidade a eterna praia De Cronos, pai injusto da justiça, Ondas, quebrou, deixando à só memória Um branco som de 'spuma. 02/09/1923
Ricardo Reis
Tirem-me os deuses Em seu arbítrio Superior e urdido às escondidas O Amor, glória e riqueza. Tirem, mas deixem-me, Deixem-me apenas A consciência lúcida e solene Das coisas e dos seres. Pouco me importa Amor ou glória. A riqueza é um metal, a glória é um eco E o amor uma sombra. Mas a concisa Atenção dada Às formas e às maneiras dos objectos Tem abrigo seguro. Seus fundamentos São todo o mundo, Seu amor é o plácido Universo, Sua riqueza a vida. A sua glória É a suprema Certeza da solene e clara posse Das formas dos objectos. O resto passa, E teme a morte. Só nada teme ou sofre a visão clara E inútil do Universo. Essa a si basta, Nada deseja Salvo o orgulho de ver sempre claro Até deixar de ver. 06/06/1915
Ricardo Reis
Vossa formosa juventude leda, Vossa felicidade pensativa, Vosso modo de olhar a quem vos olha, Vosso não conhecer-vos – Tudo quanto vós sois, que vos semelha À vida universal que vos esquece Dá carinho de amor a quem vos ama Por serdes não lembrando Quanta igual mocidade a eterna praia De Cronos, pai injusto da justiça, Ondas, quebrou, deixando à só memória Um branco som de 'spuma. 02/09/1923
Ricardo Reis
Tirem-me os deuses Em seu arbítrio Superior e urdido às escondidas O Amor, glória e riqueza. Tirem, mas deixem-me, Deixem-me apenas A consciência lúcida e solene Das coisas e dos seres. Pouco me importa Amor ou glória. A riqueza é um metal, a glória é um eco E o amor uma sombra. Mas a concisa Atenção dada Às formas e às maneiras dos objectos Tem abrigo seguro. Seus fundamentos São todo o mundo, Seu amor é o plácido Universo, Sua riqueza a vida. A sua glória É a suprema Certeza da solene e clara posse Das formas dos objectos. O resto passa, E teme a morte. Só nada teme ou sofre a visão clara E inútil do Universo. Essa a si basta, Nada deseja Salvo o orgulho de ver sempre claro Até deixar de ver. 06/06/1915
Ricardo Reis
Vossa formosa juventude leda, Vossa felicidade pensativa, Vosso modo de olhar a quem vos olha, Vosso não conhecer-vos – Tudo quanto vós sois, que vos semelha À vida universal que vos esquece Dá carinho de amor a quem vos ama Por serdes não lembrando Quanta igual mocidade a eterna praia De Cronos, pai injusto da justiça, Ondas, quebrou, deixando à só memória Um branco som de 'spuma. 02/09/1923
Ricardo Reis
Tirem-me os deuses Em seu arbítrio Superior e urdido às escondidas O Amor, glória e riqueza. Tirem, mas deixem-me, Deixem-me apenas A consciência lúcida e solene Das coisas e dos seres. Pouco me importa Amor ou glória. A riqueza é um metal, a glória é um eco E o amor uma sombra. Mas a concisa Atenção dada Às formas e às maneiras dos objectos Tem abrigo seguro. Seus fundamentos São todo o mundo, Seu amor é o plácido Universo, Sua riqueza a vida. A sua glória É a suprema Certeza da solene e clara posse Das formas dos objectos. O resto passa, E teme a morte. Só nada teme ou sofre a visão clara E inútil do Universo. Essa a si basta, Nada deseja Salvo o orgulho de ver sempre claro Até deixar de ver. 06/06/1915
Ricardo Reis
Vossa formosa juventude leda, Vossa felicidade pensativa, Vosso modo de olhar a quem vos olha, Vosso não conhecer-vos – Tudo quanto vós sois, que vos semelha À vida universal que vos esquece Dá carinho de amor a quem vos ama Por serdes não lembrando Quanta igual mocidade a eterna praia De Cronos, pai injusto da justiça, Ondas, quebrou, deixando à só memória Um branco som de 'spuma. 02/09/1923
Ricardo Reis
Tirem-me os deuses Em seu arbítrio Superior e urdido às escondidas O Amor, glória e riqueza. Tirem, mas deixem-me, Deixem-me apenas A consciência lúcida e solene Das coisas e dos seres. Pouco me importa Amor ou glória. A riqueza é um metal, a glória é um eco E o amor uma sombra. Mas a concisa Atenção dada Às formas e às maneiras dos objectos Tem abrigo seguro. Seus fundamentos São todo o mundo, Seu amor é o plácido Universo, Sua riqueza a vida. A sua glória É a suprema Certeza da solene e clara posse Das formas dos objectos. O resto passa, E teme a morte. Só nada teme ou sofre a visão clara E inútil do Universo. Essa a si basta, Nada deseja Salvo o orgulho de ver sempre claro Até deixar de ver. 06/06/1915
Álvaro de Campos
POEMA DE CANÇÃO SOBRE A ESPERANÇA I Dá-me lírios, lírios, E rosas também. Mas se não tens lírios Nem rosas a dar-me, Tem vontade ao menos De me dar os lírios E também as rosas. Basta-me a vontade, Que tens, se a tiveres, De me dar os lírios E as rosas também, E terei os lírios — Os melhores lírios — E as melhores rosas Sem receber nada. A não ser a prenda Da tua vontade De me dares lírios E rosas também. II Usas um vestido Que é uma lembrança Para o meu coração. Usou-o outrora Alguém que me ficou Lembrada sem vista. Tudo na vida Se faz por recordações. Ama-se por memória. Certa mulher faz-nos ternura Por um gesto que lembra a nossa mãe. Certa rapariga faz-nos alegria Por falar como a nossa irmã. Certa criança arranca-nos da desatenção Porque amámos uma mulher parecida com ela Quando éramos jovens e não lhe falávamos. Tudo é assim, mais ou menos, O coração anda aos trambulhões. Viver é desencontrar-se consigo mesmo. No fim de tudo, se tiver sono, dormirei. Mas gostava de te encontrar e que falássemos. Estou certo que simpatizaríamos um com o outro. Mas se não nos encontrarmos, guardarei o momento Em que pensei que nos poderíamos encontrar. Guardo tudo, (Guardo as cartas que me escrevem, Guardo até as cartas que não me escrevem — Santo Deus, a gente guarda tudo mesmo que não queira, E o teu vestido azulinho, meu Deus, se eu te pudesse atrair Através dele até mim! Enfim, tudo pode ser... És tão nova — tão jovem, como diria o Ricardo Reis — E a minha visão de ti explode literariamente, E deito-me para trás na praia e rio como um elemental inferior, Arre, sentir cansa, e a vida é quente quando o sol está alto. Boa noite na Austrália!
Álvaro de Campos
POEMA DE CANÇÃO SOBRE A ESPERANÇA I Dá-me lírios, lírios, E rosas também. Mas se não tens lírios Nem rosas a dar-me, Tem vontade ao menos De me dar os lírios E também as rosas. Basta-me a vontade, Que tens, se a tiveres, De me dar os lírios E as rosas também, E terei os lírios — Os melhores lírios — E as melhores rosas Sem receber nada. A não ser a prenda Da tua vontade De me dares lírios E rosas também. II Usas um vestido Que é uma lembrança Para o meu coração. Usou-o outrora Alguém que me ficou Lembrada sem vista. Tudo na vida Se faz por recordações. Ama-se por memória. Certa mulher faz-nos ternura Por um gesto que lembra a nossa mãe. Certa rapariga faz-nos alegria Por falar como a nossa irmã. Certa criança arranca-nos da desatenção Porque amámos uma mulher parecida com ela Quando éramos jovens e não lhe falávamos. Tudo é assim, mais ou menos, O coração anda aos trambulhões. Viver é desencontrar-se consigo mesmo. No fim de tudo, se tiver sono, dormirei. Mas gostava de te encontrar e que falássemos. Estou certo que simpatizaríamos um com o outro. Mas se não nos encontrarmos, guardarei o momento Em que pensei que nos poderíamos encontrar. Guardo tudo, (Guardo as cartas que me escrevem, Guardo até as cartas que não me escrevem — Santo Deus, a gente guarda tudo mesmo que não queira, E o teu vestido azulinho, meu Deus, se eu te pudesse atrair Através dele até mim! Enfim, tudo pode ser... És tão nova — tão jovem, como diria o Ricardo Reis — E a minha visão de ti explode literariamente, E deito-me para trás na praia e rio como um elemental inferior, Arre, sentir cansa, e a vida é quente quando o sol está alto. Boa noite na Austrália!
Álvaro de Campos
Meu amor perdido, não te choro mais, que eu não te perdi! Porque posso perder-te na rua, mas não posso perder-te no ser, Que o ser é o mesmo em ti e em mim. Muito é ausência, nada é perda! Todos os mortos — gente, dias, desejos, Amores, ódios, dores, alegrias — Todos estão apenas em outro continente... Chegará a vez de eu partir e ir vê-los. De se reunir a família e os amantes e os amigos Em abstracto, em real, em perfeito Em definitivo e divino. Reunir-me-ei em vida e morte Aos sonhos que não realizei Darei os beijos nunca dados, Receberei os sorrisos, que me negaram, Terei em forma de alegria as dores que tive... Ah, comandante, quanto tarda ainda A partida do transatlântico? Faz tocar a banda de bordo — Músicas alegres, banais, humanas, como a vida — Faz partir, que eu quero partir... Som do erguer do ferro, meu estertor Quando é que por fim eu te ouvirei? Fremir do costado pela pulsação das máquinas — Meu coração no bater final convulso —, [Toque de vigias, suspiros do porto?] (...) Lenços a acenarem-me do cais em que ficam... Até mais tarde, até quando vierdes, até sempre! Até o eterno em alegre Agora, Até o (...)
Álvaro de Campos
Meu amor perdido, não te choro mais, que eu não te perdi! Porque posso perder-te na rua, mas não posso perder-te no ser, Que o ser é o mesmo em ti e em mim. Muito é ausência, nada é perda! Todos os mortos — gente, dias, desejos, Amores, ódios, dores, alegrias — Todos estão apenas em outro continente... Chegará a vez de eu partir e ir vê-los. De se reunir a família e os amantes e os amigos Em abstracto, em real, em perfeito Em definitivo e divino. Reunir-me-ei em vida e morte Aos sonhos que não realizei Darei os beijos nunca dados, Receberei os sorrisos, que me negaram, Terei em forma de alegria as dores que tive... Ah, comandante, quanto tarda ainda A partida do transatlântico? Faz tocar a banda de bordo — Músicas alegres, banais, humanas, como a vida — Faz partir, que eu quero partir... Som do erguer do ferro, meu estertor Quando é que por fim eu te ouvirei? Fremir do costado pela pulsação das máquinas — Meu coração no bater final convulso —, [Toque de vigias, suspiros do porto?] (...) Lenços a acenarem-me do cais em que ficam... Até mais tarde, até quando vierdes, até sempre! Até o eterno em alegre Agora, Até o (...)