Poemas sobre a Natureza
A natureza se esforça rumo ao equilíbrio, pois é nele que está o de mais belo, profundo e feliz sentimento. Quando tudo parece perdido a natureza tem o dom divino de se adaptar, numa possante flexibilidade e resiliência. Encontre aqui poemas sobre a natureza, tanto o Mar, o sol o vento tudo aqui pode encontrar, pode também ver a nossa secção de poemas para reflexão.
Florbela Espanca
Passam no teu olhar nobres cortejos, Frotas, pendões ao vento sobranceiros, Lindos versos de antigos romanceiros, Céus do Oriente, em brasa, como beijos, Mares onde não cabem teus desejos; Passam no teu olhar mundos inteiros, Todo um povo de heróis e marinheiros, Lanças nuas em rútilos lampejos; Passam lendas e sonhos e milagres! Passa a Índia, a visão do Infante em Sagres, Em centelhas de crença e de certeza! E ao sentir-se tão grande, ao ver-te assim, Amor, julgo trazer dentro de mim Um pedaço da terra portuguesa!
Alberto Caeiro
O meu olhar é nítido como um girassol. Tenho o costume de andar pelas estradas Olhando para a direita e para a esquerda, E de vez em quando olhando para trás... E o que vejo a cada momento É aquilo que nunca antes eu tinha visto, E eu sei dar por isso muito bem... Sei ter o pasmo essencial Que tem uma criança se, ao nascer, Reparasse que nascera deveras... Sinto-me nascido a cada momento Para a eterna novidade do Mundo... Creio no Mundo como num malmequer, Porque o vejo. Mas não penso nele Porque pensar é não compreender... O Mundo não se fez para pensarmos nele (Pensar é estar doente dos olhos) Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo… Eu não tenho filosofia: tenho sentidos... Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é, Mas porque a amo, e amo-a por isso, Porque quem ama nunca sabe o que ama Nem sabe porque ama, nem o que é amar... Amar é a eterna inocência, E a única inocência é não pensar...
Alberto Caeiro
Ao entardecer, debruçado pela janela, E sabendo de soslaio que há campos em frente. Leio até me arderem os olhos O livro de Cesário Verde. Que pena que tenho dele! Ele era um camponês Que andava preso em liberdade pela cidade. Mas o modo como olhava para as casas, E o modo como reparava nas ruas, E a maneira como dava pelas coisas, É o de quem olha para árvores, E de quem desce os olhos pela estrada por onde vai andando E anda a reparar nas flores que há pelos campos... Por isso ele tinha aquela grande tristeza Que ele nunca disse bem que tinha, Mas andava na cidade como quem anda no campo E triste como esmagar flores em livros E pôr plantas em jarros...
Fernando Pessoa
Não venhas sentar-te à minha frente, nem a meu lado; Não venhas falar, nem sorrir. Estou cansado de tudo, estou cansado E quero só dormir. Dormir até acordado, sonhando Ou até sem sonhar, Mas envolto num vago abandono brando A não ter que pensar. Nunca soube querer, nunca soube sentir, até Pensar não foi certo em mim. Deitei fora entre ortigas o que era a minha fé, Escrevi numa página em branco, «Fim». As princesas incógnitas ficaram desconhecidas, Os tronos prometidos não tiveram carpinteiro Acumulei em mim um milhão difuso de vidas, Mas nunca encontrei parceiro. Por isso, se vieres, não te sentes a meu lado, nem fales, Só quero dormir, uma morte que seja Uma coisa que me não rale nem com que tu te rales – Que ninguém deseja nem não deseja. Pus o meu Deus no prego. Embrulhei em papel pardo As esperanças e ambições que tive, E hoje sou apenas um suicídio tardo, Um desejo de dormir que ainda vive. Mas dormir a valer, sem dignificação nenhuma, Como um barco abandonado, Que naufraga sozinho entre as trevas e a bruma Sem se lhe saber o passado. E o comandante do navio que segue deveras Entrevê na distância do mar O fim do último representante das galeras, Que não sabia nadar. 28/08/1927
Fernando Pessoa
A lembrada canção, Amor, renova agora. Na noite, olhos fechados, tua voz Dói-me no coração Por tudo quanto chora. Cantas ao pé de mim, e eu estou a sós. Não, a voz não é tua Que se ergue e acorda em mim Murmúrios de saudade e de inconstância, O luar não vem da lua Mas do meu ser afim Ao mito, à mágoa, à ausência e à distância. Não, não é teu o canto Que como um astro ao fundo Da noite imensa do meu coração Chama em vão, chama tanto... Quem sou não sei... e o mundo?... Renova, amor, a antiga e vã canção. Cantas mais que por ti, Tua voz é uma ponte Por onde passa, inúmero, um segredo Que nunca recebi – Murmúrio do horizonte, Água na noite, morte que vem cedo. Assim, cantas sem que existas. Ao fim do luar pressinto Melhores sonhos que estes da ilusão 01/01/1920
Fernando Pessoa
A lembrada canção, Amor, renova agora. Na noite, olhos fechados, tua voz Dói-me no coração Por tudo quanto chora. Cantas ao pé de mim, e eu estou a sós. Não, a voz não é tua Que se ergue e acorda em mim Murmúrios de saudade e de inconstância, O luar não vem da lua Mas do meu ser afim Ao mito, à mágoa, à ausência e à distância. Não, não é teu o canto Que como um astro ao fundo Da noite imensa do meu coração Chama em vão, chama tanto... Quem sou não sei... e o mundo?... Renova, amor, a antiga e vã canção. Cantas mais que por ti, Tua voz é uma ponte Por onde passa, inúmero, um segredo Que nunca recebi – Murmúrio do horizonte, Água na noite, morte que vem cedo. Assim, cantas sem que existas. Ao fim do luar pressinto Melhores sonhos que estes da ilusão 01/01/1920
Fernando Pessoa
Não venhas sentar-te à minha frente, nem a meu lado; Não venhas falar, nem sorrir. Estou cansado de tudo, estou cansado E quero só dormir. Dormir até acordado, sonhando Ou até sem sonhar, Mas envolto num vago abandono brando A não ter que pensar. Nunca soube querer, nunca soube sentir, até Pensar não foi certo em mim. Deitei fora entre ortigas o que era a minha fé, Escrevi numa página em branco, «Fim». As princesas incógnitas ficaram desconhecidas, Os tronos prometidos não tiveram carpinteiro Acumulei em mim um milhão difuso de vidas, Mas nunca encontrei parceiro. Por isso, se vieres, não te sentes a meu lado, nem fales, Só quero dormir, uma morte que seja Uma coisa que me não rale nem com que tu te rales – Que ninguém deseja nem não deseja. Pus o meu Deus no prego. Embrulhei em papel pardo As esperanças e ambições que tive, E hoje sou apenas um suicídio tardo, Um desejo de dormir que ainda vive. Mas dormir a valer, sem dignificação nenhuma, Como um barco abandonado, Que naufraga sozinho entre as trevas e a bruma Sem se lhe saber o passado. E o comandante do navio que segue deveras Entrevê na distância do mar O fim do último representante das galeras, Que não sabia nadar. 28/08/1927
Fernando Pessoa
Não venhas sentar-te à minha frente, nem a meu lado; Não venhas falar, nem sorrir. Estou cansado de tudo, estou cansado E quero só dormir. Dormir até acordado, sonhando Ou até sem sonhar, Mas envolto num vago abandono brando A não ter que pensar. Nunca soube querer, nunca soube sentir, até Pensar não foi certo em mim. Deitei fora entre ortigas o que era a minha fé, Escrevi numa página em branco, «Fim». As princesas incógnitas ficaram desconhecidas, Os tronos prometidos não tiveram carpinteiro Acumulei em mim um milhão difuso de vidas, Mas nunca encontrei parceiro. Por isso, se vieres, não te sentes a meu lado, nem fales, Só quero dormir, uma morte que seja Uma coisa que me não rale nem com que tu te rales – Que ninguém deseja nem não deseja. Pus o meu Deus no prego. Embrulhei em papel pardo As esperanças e ambições que tive, E hoje sou apenas um suicídio tardo, Um desejo de dormir que ainda vive. Mas dormir a valer, sem dignificação nenhuma, Como um barco abandonado, Que naufraga sozinho entre as trevas e a bruma Sem se lhe saber o passado. E o comandante do navio que segue deveras Entrevê na distância do mar O fim do último representante das galeras, Que não sabia nadar. 28/08/1927
Fernando Pessoa
A lembrada canção, Amor, renova agora. Na noite, olhos fechados, tua voz Dói-me no coração Por tudo quanto chora. Cantas ao pé de mim, e eu estou a sós. Não, a voz não é tua Que se ergue e acorda em mim Murmúrios de saudade e de inconstância, O luar não vem da lua Mas do meu ser afim Ao mito, à mágoa, à ausência e à distância. Não, não é teu o canto Que como um astro ao fundo Da noite imensa do meu coração Chama em vão, chama tanto... Quem sou não sei... e o mundo?... Renova, amor, a antiga e vã canção. Cantas mais que por ti, Tua voz é uma ponte Por onde passa, inúmero, um segredo Que nunca recebi – Murmúrio do horizonte, Água na noite, morte que vem cedo. Assim, cantas sem que existas. Ao fim do luar pressinto Melhores sonhos que estes da ilusão 01/01/1920
Fernando Pessoa
Não venhas sentar-te à minha frente, nem a meu lado; Não venhas falar, nem sorrir. Estou cansado de tudo, estou cansado E quero só dormir. Dormir até acordado, sonhando Ou até sem sonhar, Mas envolto num vago abandono brando A não ter que pensar. Nunca soube querer, nunca soube sentir, até Pensar não foi certo em mim. Deitei fora entre ortigas o que era a minha fé, Escrevi numa página em branco, «Fim». As princesas incógnitas ficaram desconhecidas, Os tronos prometidos não tiveram carpinteiro Acumulei em mim um milhão difuso de vidas, Mas nunca encontrei parceiro. Por isso, se vieres, não te sentes a meu lado, nem fales, Só quero dormir, uma morte que seja Uma coisa que me não rale nem com que tu te rales – Que ninguém deseja nem não deseja. Pus o meu Deus no prego. Embrulhei em papel pardo As esperanças e ambições que tive, E hoje sou apenas um suicídio tardo, Um desejo de dormir que ainda vive. Mas dormir a valer, sem dignificação nenhuma, Como um barco abandonado, Que naufraga sozinho entre as trevas e a bruma Sem se lhe saber o passado. E o comandante do navio que segue deveras Entrevê na distância do mar O fim do último representante das galeras, Que não sabia nadar. 28/08/1927
Fernando Pessoa
A lembrada canção, Amor, renova agora. Na noite, olhos fechados, tua voz Dói-me no coração Por tudo quanto chora. Cantas ao pé de mim, e eu estou a sós. Não, a voz não é tua Que se ergue e acorda em mim Murmúrios de saudade e de inconstância, O luar não vem da lua Mas do meu ser afim Ao mito, à mágoa, à ausência e à distância. Não, não é teu o canto Que como um astro ao fundo Da noite imensa do meu coração Chama em vão, chama tanto... Quem sou não sei... e o mundo?... Renova, amor, a antiga e vã canção. Cantas mais que por ti, Tua voz é uma ponte Por onde passa, inúmero, um segredo Que nunca recebi – Murmúrio do horizonte, Água na noite, morte que vem cedo. Assim, cantas sem que existas. Ao fim do luar pressinto Melhores sonhos que estes da ilusão 01/01/1920
Fernando Pessoa
Não venhas sentar-te à minha frente, nem a meu lado; Não venhas falar, nem sorrir. Estou cansado de tudo, estou cansado E quero só dormir. Dormir até acordado, sonhando Ou até sem sonhar, Mas envolto num vago abandono brando A não ter que pensar. Nunca soube querer, nunca soube sentir, até Pensar não foi certo em mim. Deitei fora entre ortigas o que era a minha fé, Escrevi numa página em branco, «Fim». As princesas incógnitas ficaram desconhecidas, Os tronos prometidos não tiveram carpinteiro Acumulei em mim um milhão difuso de vidas, Mas nunca encontrei parceiro. Por isso, se vieres, não te sentes a meu lado, nem fales, Só quero dormir, uma morte que seja Uma coisa que me não rale nem com que tu te rales – Que ninguém deseja nem não deseja. Pus o meu Deus no prego. Embrulhei em papel pardo As esperanças e ambições que tive, E hoje sou apenas um suicídio tardo, Um desejo de dormir que ainda vive. Mas dormir a valer, sem dignificação nenhuma, Como um barco abandonado, Que naufraga sozinho entre as trevas e a bruma Sem se lhe saber o passado. E o comandante do navio que segue deveras Entrevê na distância do mar O fim do último representante das galeras, Que não sabia nadar. 28/08/1927
Fernando Pessoa
Daqui a pouco acaba o dia. Não fiz nada. Também, que coisa é que faria? Fosse o que fosse, estava errada. Daqui a pouco a noite vem. Chega em vão Para quem como eu só tem Para contar o coração. E após a noite a irmos dormir Torna o dia. Nada farei senão sentir. Também que coisa é que faria? 31/08/1930
Fernando Pessoa
É boa! Se fossem malmequeres! E é uma papoula Sozinha, com esse ar de «queres?» Veludo da natureza tola. Coitada! Por ela Saí da marcha pela estrada. Não a ponho na lapela. Oscila ao leve vento, muito Encarnada a arroxear. Deixei no chão o meu intuito. Caminharei sem regressar. 31/08/1930
Fernando Pessoa
A lembrada canção, Amor, renova agora. Na noite, olhos fechados, tua voz Dói-me no coração Por tudo quanto chora. Cantas ao pé de mim, e eu estou a sós. Não, a voz não é tua Que se ergue e acorda em mim Murmúrios de saudade e de inconstância, O luar não vem da lua Mas do meu ser afim Ao mito, à mágoa, à ausência e à distância. Não, não é teu o canto Que como um astro ao fundo Da noite imensa do meu coração Chama em vão, chama tanto... Quem sou não sei... e o mundo?... Renova, amor, a antiga e vã canção. Cantas mais que por ti, Tua voz é uma ponte Por onde passa, inúmero, um segredo Que nunca recebi – Murmúrio do horizonte, Água na noite, morte que vem cedo. Assim, cantas sem que existas. Ao fim do luar pressinto Melhores sonhos que estes da ilusão 01/01/1920
Fernando Pessoa
O rio que passa dura Nas ondas que há em passar, E cada onda figura O instante de um lugar. Pode ser que o rio siga, Mas a onda que passou É outra quando prossiga. Não continua: durou. Qual é o ser que subsiste Sob estas formas de estar, A onda que não existe, O rio que é só passar? Não sei, e o meu pensamento Também não sabe se é, Como a onda o seu momento Como o rio (...) 26/08/1930
Fernando Pessoa
AH, JÁ ESTÁ tudo lido, Mesmo o que falta ler! Sonho, e ao meu ouvido Que música vem ter? Se escuto, nenhuma. Se não ouço ao luar Uma voz que é bruma Entra em meu sonhar E esta é a voz que canta Se não sei ouvir... Tudo em mim se encanta E esquece sentir. O que a voz canta Para sempre agora Na alma me fica Se a alma me ignora. Sinto, quero, sei que Só há ter perdido - E o eco de onde sonhei-me Esquece do meu ouvido.
Fernando Pessoa
A pálida luz da manhã de inverno, O cais e a razão Não dão mais 'sperança, nem menos 'sperança sequer, Ao meu coração. O que tem que ser Será, quer eu queira que seja ou que não. No rumor do cais, no bulício do rio Na rua a acordar Não há mais sossego, nem menos sossego sequer, Para o meu 'sperar. O que tem que não ser Algures será, se o pensei; tudo mais é sonhar.