Poemas Sobre a Vida
Encontre poemas selecionados com o tema vida e as voltas que ela dá. Se preferir pode antes ver frases sobre a vida no nosso site parceiro mil-frases.
Ricardo Reis
Prefiro rosas, meu amor, à pátria, E antes magnólias amo Que a glória e a virtude. Logo que a vida me não canse, deixo Que a vida por mim passe Logo que eu fique o mesmo. Que importa àquele a quem já nada importa Que um perca e outro vença, Se a aurora raia sempre, Se cada ano com a Primavera As folhas aparecem E com o Outono cessam? E o resto, as outras coisas que os humanos Acrescentam à vida, Que me aumentam na alma? Nada, salvo o desejo de indiferença E a confiança mole Na hora fugitiva.
Ricardo Reis
Segue o teu destino, Rega as tuas plantas, Ama as tuas rosas. O resto é a sombra De árvores alheias. A realidade Sempre é mais ou menos Do que nós queremos. Só nós somos sempre Iguais a nós-próprios. Suave é viver só. Grande e nobre é sempre Viver simplesmente. Deixa a dor nas aras Como ex-voto aos deuses. Vê de longe a vida. Nunca a interrogues. Ela nada pode Dizer-te. A resposta Está além dos deuses. Mas serenamente Imita o Olimpo No teu coração. Os deuses são deuses Porque não se pensam.
Ricardo Reis
A abelha que, voando, freme sobre A colorida flor, e pousa, quase Sem diferença dela À vista que não olha, Não mudou desde Cecrops. Só quem vive Uma vida com ser que se conhece Envelhece, distinto Da espécie de que vive. Ela é a mesma que outra que não ela. Só nós – ó tempo, ó alma, ó vida, ó morte! – Mortalmente comp'ramos Ter mais vida que a vida. 02/09/1923
Ricardo Reis
A abelha que, voando, freme sobre A colorida flor, e pousa, quase Sem diferença dela À vista que não olha, Não mudou desde Cecrops. Só quem vive Uma vida com ser que se conhece Envelhece, distinto Da espécie de que vive. Ela é a mesma que outra que não ela. Só nós – ó tempo, ó alma, ó vida, ó morte! – Mortalmente comp'ramos Ter mais vida que a vida. 02/09/1923
Ricardo Reis
A abelha que, voando, freme sobre A colorida flor, e pousa, quase Sem diferença dela À vista que não olha, Não mudou desde Cecrops. Só quem vive Uma vida com ser que se conhece Envelhece, distinto Da espécie de que vive. Ela é a mesma que outra que não ela. Só nós – ó tempo, ó alma, ó vida, ó morte! – Mortalmente comp'ramos Ter mais vida que a vida. 02/09/1923
Ricardo Reis
Seguro assento na coluna firme Dos versos em que fico. Aquele agudo interno movimento Por quem os fiz pensados Passa, e eu, outro já que o factor deles, Póstumo substituo-me. Chegada a hora, eu próprio serei todo Menos que essas palavras E papel, ou papiro escrito e morto Será mais eu que eu mesmo. A obra imortal excede o autor da obra; E é menos dono dela Quem a fez do que o tempo em que perdura. Morre a obra a vida nossa. Durar, sentir, só os altos deuses unem. Nós não somos inteiros. Assim os deuses esta nossa regem Mortal e imortal vida; Assim o Fado rege que assim rejam. Mas se assim é, é assim.
Álvaro de Campos
Ah, de que serve A arte que quer ser vida, sem a vida que quer ser? De que serve a arte se não é a arte que queremos? De que nos serve a vida se a queremos e não a buscamos, Se nunca é para nós a vida? Ah, p'ra saudar-te Era preciso o coração Da terra toda... O corpo-espírito das coisas,
Álvaro de Campos
Ah, de que serve A arte que quer ser vida, sem a vida que quer ser? De que serve a arte se não é a arte que queremos? De que nos serve a vida se a queremos e não a buscamos, Se nunca é para nós a vida? Ah, p'ra saudar-te Era preciso o coração Da terra toda... O corpo-espírito das coisas,
Álvaro de Campos
Ah, de que serve A arte que quer ser vida, sem a vida que quer ser? De que serve a arte se não é a arte que queremos? De que nos serve a vida se a queremos e não a buscamos, Se nunca é para nós a vida? Ah, p'ra saudar-te Era preciso o coração Da terra toda... O corpo-espírito das coisas,
Ricardo Reis
Seguro assento na coluna firme Dos versos em que fico. O criador interno movimento Por quem fui autor deles Passa, e eu sobrevivo, já não quem Escreveu o que fez. Chegada a hora, passarei também E os versos, que não sentem Serão a única restança posta Nos capitéis do tempo. A obra imortal excede o autor da obra; E é menos dono dela Quem a fez do que o tempo em que perdura. Morremos a obra viva. Assim os deuses esta nossa regem Mortal e imortal vida; Assim o Fado faz que eles a rejam. Mas se assim é, é assim. Aquele agudo interno movimento, Por quem fui autor deles Primeiro passa, e eu, outro já do que era, <b><i> </i></b>Póstumo substituo-me. Chegada a hora, também serei menos Que os versos permanentes. E papel, ou papiro escrito e morto Tem mais vida que a mente. Na noite a sombra é mais igual à noite Que o corpo que alumia.
Ricardo Reis
Ad juvenem rosam offerentem A flor que és, não a que dás, eu quero. Porque me negas o que te não peço? Tão curto tempo é a mais longa vida, E a juventude nela! Flor vives, vã; porque te flor não cumpres? Se te sorver esquivo o infausto abismo, Perene velarás, absurda sombra, O que não dou buscando. Na oculta margem onde os lírios frios Da infera leiva crescem, e a corrente Monótona, não sabe onde é o dia, Sussurro gemebundo.
Ricardo Reis
Seguro assento na coluna firme Dos versos em que fico. O criador interno movimento Por quem fui autor deles Passa, e eu sobrevivo, já não quem Escreveu o que fez. Chegada a hora, passarei também E os versos, que não sentem Serão a única restança posta Nos capitéis do tempo. A obra imortal excede o autor da obra; E é menos dono dela Quem a fez do que o tempo em que perdura. Morremos a obra viva. Assim os deuses esta nossa regem Mortal e imortal vida; Assim o Fado faz que eles a rejam. Mas se assim é, é assim. Aquele agudo interno movimento, Por quem fui autor deles Primeiro passa, e eu, outro já do que era, <b><i> </i></b>Póstumo substituo-me. Chegada a hora, também serei menos Que os versos permanentes. E papel, ou papiro escrito e morto Tem mais vida que a mente. Na noite a sombra é mais igual à noite Que o corpo que alumia.
Ricardo Reis
Sob estas árvores ou aquelas árvores Conduzi a dança, Conduzi a dança, ninfas singelas Até ao amplo gozo Que tomais da vida. Conduzi a dança E sê quase humanas Com o vosso gozo derramado em ritmos Em ritmos solenes Que a nossa alegria torna maliciosos Para nossa triste Vida que não sabe sob as mesmas árvores Conduzir a dança...
Ricardo Reis
Ad juvenem rosam offerentem A flor que és, não a que dás, eu quero. Porque me negas o que te não peço? Tão curto tempo é a mais longa vida, E a juventude nela! Flor vives, vã; porque te flor não cumpres? Se te sorver esquivo o infausto abismo, Perene velarás, absurda sombra, O que não dou buscando. Na oculta margem onde os lírios frios Da infera leiva crescem, e a corrente Monótona, não sabe onde é o dia, Sussurro gemebundo.
Ricardo Reis
Dia após dia a mesma vida é a mesma. O que decorre, Lídia, No que nós somos como em que não somos Igualmente decorre. Colhido, o fruto deperece; e cai Nunca sendo colhido. Igual é o fado, quer o procuremos, Quer o 'speremos. Sorte Hoje, Destino sempre, e nesta ou nessa Forma alheio e invencível. 02/09/1923
Ricardo Reis
Dia após dia a mesma vida é a mesma. O que decorre, Lídia, No que nós somos como em que não somos Igualmente decorre. Colhido, o fruto deperece; e cai Nunca sendo colhido. Igual é o fado, quer o procuremos, Quer o 'speremos. Sorte Hoje, Destino sempre, e nesta ou nessa Forma alheio e invencível. 02/09/1923
Ricardo Reis
Dia após dia a mesma vida é a mesma. O que decorre, Lídia, No que nós somos como em que não somos Igualmente decorre. Colhido, o fruto deperece; e cai Nunca sendo colhido. Igual é o fado, quer o procuremos, Quer o 'speremos. Sorte Hoje, Destino sempre, e nesta ou nessa Forma alheio e invencível. 02/09/1923
Ricardo Reis
Quero, da vida, só não conhecê-la. Bastam, a quem o Fado pôs na vida, As formas sucessórias Da vida insubsistente. Pouco serve pensar que são eternos Os nossos nadas com que na alma amamos Os outros pobres nadas Que (...) Gratos aos deuses, menos pela incerta Posse do sonhado certo, recolhamos A mercê passageira De instantes que não duram.
Ricardo Reis
Quero, da vida, só não conhecê-la. Bastam, a quem o Fado pôs na vida, As formas sucessórias Da vida insubsistente. Pouco serve pensar que são eternos Os nossos nadas com que na alma amamos Os outros pobres nadas Que (...) Gratos aos deuses, menos pela incerta Posse do sonhado certo, recolhamos A mercê passageira De instantes que não duram.
Ricardo Reis
Se em verdade não sabes (nem sustentas Que sabes) que há na vida mais que a vida, Porque com tanto esforço e cura tanta, Operoso a não vives? Porque, sem paraíso que apeteças, Amontoas riquezas, nem as gastas, É para teu cadáver que amontoas? Gozas menos que ganhas. Ah, se não tens que esperes, salvo a morte, Não cures mais que do preciso esforço Para passar incólume na vida De (...) Sim, gozas. Mas mais rico és que ditoso Se só para o que perdes gozas, Menos te o esforço oneraria, Sem ele. (...) Ah servidão irreprimível, nada Da vida breve subsiste, que sabes Que morre toda, e gasta-se nas obras Egoísta de um futuro que não é seu. Mas respondes-me: E os poemas que escreves A quem os dás futuro? A obra obrigas E o homem só por semear semeia O que o Destino manda.
Ricardo Reis
Com que vida encherei os poucos breves Dias que me são dados? Será minha A minha vida ou dada A outros ou a sombras? À sombra de nós mesmos quantos homens Inconscientes nos sacrificamos, E um destino cumprimos Nem nosso nem alheio! Ó deuses imortais, saiba eu ao menos Aceitar sem querê-lo, sorridente, O curso áspero e duro Da estrada permitida. Porém nosso destino é o que for nosso, Que nos deu a sorte, ou, alheio fado, Anónimo a um anónimo, Nos arrasta a corrente.
Ricardo Reis
Pese a sentença igual da ignota morte Em cada breve corpo, é entrudo e riem, Felizes, porque em eles pensa e sente A vida, que não eles. De rosas, inda que de falsas, teçam Capelas veras. Escasso, curto é o espaço Que lhes é dado, e por bom caso em todos Breve nem vão sentido. Se a ciência é vida, sábio é só o néscio. Quão pouco diferença a mente interna Do homem da dos brutos! Sós! Leixai Viver os moribundos!
Ricardo Reis
Sob a leve tutela De deuses descuidosos, Quero gastar as concedidas horas Desta fadada vida. Nada podendo contra O ser que me fizeram, Desejo ao menos que me haja o Fado Dado a paz por destino. Da verdade não quero Mais que a vida; que os deuses Dão vida e não verdade, nem talvez Saibam qual a verdade.