O crepúsculo cai, tão manso e benfazejo Que me adoça o pesar de estar em terra estranha. E enquanto o ângelus abençoa o lugarejo, Eu penso em ti, apaziguado e sem desejo, Fitando no horizonte a linha da montanha. A montanha é trangjúila e forte, e grande e boa. Ela afaga o meu sonho. E alegra-me pensar (Tanto a saudade a um tempo acalenta e magoa!) Que tu, na doce paz da tarde que se escoa, Teces o mesmo sonho, ouvindo e vendo o mar. Embalada na voz do grande solitário, Tu mortificarás teu casto coração Na dor de revocar o noivado precário. (Ah, por que te confiei o meu desejo vário? Por que me desvendaste a tua sedução?) Se nos aparta o espaço, o tempo — esse nos liga. A lembrança é no amor a cadeia mais pura. Tu tens o grande Amigo e eu tenho a grande Amiga: O mar segredará tudo quanto eu te diga, E a montanha dir-me-á tua imensa ternura.