Poemas sobre Sonhos
Poesia que celebra a imaginação, a busca de objetivos e a realização de sonhos.
![Uma imagem com a seguinte frase Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...
Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...
Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri
E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...
Florbela Espanca, in "Charneca em Flor"](https://static.mil-frases.com/default_featured_poema.jpg)
Florbela Espanca
Se tu viesses ver-me hoje à tardinha, A essa hora dos mágicos cansaços, Quando a noite de manso se avizinha, E me prendesses toda nos teus braços... Quando me lembra: esse sabor que tinha A tua boca... o eco dos teus passos... O teu riso de fonte... os teus abraços... Os teus beijos... a tua mão na minha... Se tu viesses quando, linda e louca, Traça as linhas dulcíssimas dum beijo E é de seda vermelha e canta e ri E é como um cravo ao sol a minha boca... Quando os olhos se me cerram de desejo... E os meus braços se estendem para ti... Florbela Espanca, in "Charneca em Flor"
![Uma imagem com a seguinte frase Horas profundas, lentas e caladas
Feitas de beijos rubros e ardentes,
De noites de volúpia, noites quentes
Onde há risos de virgens desmaiadas...
Oiço olaias em flor às gargalhadas...
Tombam astros em fogo, astros dementes,
E do luar os beijos languescentes
São pedaços de prata p'las estradas...
Os meus lábios são brancos como lagos...
Os meus braços são leves como afagos,
Vestiu-os o luar de sedas puras...
Sou chama e neve e branca e mist'riosa...
E sou, talvez, na noite voluptuosa,
Ó meu Poeta, o beijo que procuras!
Florbela Espanca, in "Livro de Sóror Saudade"](https://static.mil-frases.com/default_featured_poema.jpg)
Florbela Espanca
Horas profundas, lentas e caladas Feitas de beijos rubros e ardentes, De noites de volúpia, noites quentes Onde há risos de virgens desmaiadas... Oiço olaias em flor às gargalhadas... Tombam astros em fogo, astros dementes, E do luar os beijos languescentes São pedaços de prata p'las estradas... Os meus lábios são brancos como lagos... Os meus braços são leves como afagos, Vestiu-os o luar de sedas puras... Sou chama e neve e branca e mist'riosa... E sou, talvez, na noite voluptuosa, Ó meu Poeta, o beijo que procuras! Florbela Espanca, in "Livro de Sóror Saudade"
![Uma imagem com a seguinte frase Verdes são os campos,
De cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.
Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.
Gados que pasceis
Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendereis;
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.](https://static.mil-frases.com/default_featured_poema.jpg)
Luís Vaz de Camões
Verdes são os campos, De cor de limão: Assim são os olhos Do meu coração. Campo, que te estendes Com verdura bela; Ovelhas, que nela Vosso pasto tendes, De ervas vos mantendes Que traz o Verão, E eu das lembranças Do meu coração. Gados que pasceis Com contentamento, Vosso mantimento Não no entendereis; Isso que comeis Não são ervas, não: São graças dos olhos Do meu coração.
![Uma imagem com a seguinte frase Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.
Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si sómente pode descansar,
Pois consigo tal alma está liada.
Mas esta linda e pura semideia,
Que, como o acidente em seu sujeito,
Assim co'a alma minha se conforma,
Está no pensamento como ideia;
[E] o vivo e puro amor de que sou feito,
Como matéria simples busca a forma.](https://static.mil-frases.com/default_featured_poema.jpg)
Luís Vaz de Camões
Transforma-se o amador na cousa amada, Por virtude do muito imaginar; Não tenho logo mais que desejar, Pois em mim tenho a parte desejada. Se nela está minha alma transformada, Que mais deseja o corpo de alcançar? Em si sómente pode descansar, Pois consigo tal alma está liada. Mas esta linda e pura semideia, Que, como o acidente em seu sujeito, Assim co'a alma minha se conforma, Está no pensamento como ideia; [E] o vivo e puro amor de que sou feito, Como matéria simples busca a forma.
![Uma imagem com a seguinte frase O fogo que na branda cera ardia,
Vendo o rosto gentil que na alma vejo.
Se acendeu de outro fogo do desejo,
Por alcançar a luz que vence o dia.
Como de dois ardores se incendia,
Da grande impaciência fez despejo,
E, remetendo com furor sobejo,
Vos foi beijar na parte onde se via.
Ditosa aquela flama, que se atreve
Apagar seus ardores e tormentos
Na vista do que o mundo tremer deve!
Namoram-se, Senhora, os Elementos
De vós, e queima o fogo aquela nave
Que queima corações e pensamentos.](https://static.mil-frases.com/default_featured_poema.jpg)
Luís Vaz de Camões
O fogo que na branda cera ardia, Vendo o rosto gentil que na alma vejo. Se acendeu de outro fogo do desejo, Por alcançar a luz que vence o dia. Como de dois ardores se incendia, Da grande impaciência fez despejo, E, remetendo com furor sobejo, Vos foi beijar na parte onde se via. Ditosa aquela flama, que se atreve Apagar seus ardores e tormentos Na vista do que o mundo tremer deve! Namoram-se, Senhora, os Elementos De vós, e queima o fogo aquela nave Que queima corações e pensamentos.
![Uma imagem com a seguinte frase Meio-dia. O sol a prumo cai ardente,
Dourando tudo...ondeiam nos trigais
D ́ouro fulvo, de leve...docemente...
As papoulas sangrentas, sensuais...
Andam asas no ar; e raparigas,
Flores desabrochadas em canteiros,
Mostram por entre o ouro das espigas
Os perfis delicados e trigueiros...
Tudo é tranqüilo, e casto, e sonhador...
Olhando esta paisagem que é uma tela
De Deus, eu penso então: onde há pintor,
Onde há artista de saber profundo,
Que possa imaginar coisa mais bela,
Mais delicada e linda neste mundo?!](https://static.mil-frases.com/default_featured_poema.jpg)
Florbela Espanca
Meio-dia. O sol a prumo cai ardente, Dourando tudo...ondeiam nos trigais D ́ouro fulvo, de leve...docemente... As papoulas sangrentas, sensuais... Andam asas no ar; e raparigas, Flores desabrochadas em canteiros, Mostram por entre o ouro das espigas Os perfis delicados e trigueiros... Tudo é tranqüilo, e casto, e sonhador... Olhando esta paisagem que é uma tela De Deus, eu penso então: onde há pintor, Onde há artista de saber profundo, Que possa imaginar coisa mais bela, Mais delicada e linda neste mundo?!
![Uma imagem com a seguinte frase No mundo quis o Tempo que se achasse
O bem que por acerto ou sorte vinha;
E, por exprimentar que dita tinha,
Quis que a Fortuna em mim se exprimentasse.
Mas por que meu destino me mostrasse
Que nem ter esperanças me convinha,
Nunca nesta tão longa vida minha
Cousa me deixou ver que desejasse.
Mudando andei costume, terra e estado,
Por ver se se mudava a sorte dura;
A vida pus nas mãos de um leve lenho.
Mas, segundo o que o Céu me tem mostrado,
Já sei que deste meu buscar ventura
Achado tenho já que não a tenho.](https://static.mil-frases.com/default_featured_poema.jpg)
Luís Vaz de Camões
No mundo quis o Tempo que se achasse O bem que por acerto ou sorte vinha; E, por exprimentar que dita tinha, Quis que a Fortuna em mim se exprimentasse. Mas por que meu destino me mostrasse Que nem ter esperanças me convinha, Nunca nesta tão longa vida minha Cousa me deixou ver que desejasse. Mudando andei costume, terra e estado, Por ver se se mudava a sorte dura; A vida pus nas mãos de um leve lenho. Mas, segundo o que o Céu me tem mostrado, Já sei que deste meu buscar ventura Achado tenho já que não a tenho.
![Uma imagem com a seguinte frase Nunca em amor danou o atrevimento;
Favorece a Fortuna a ousadia;
Porque sempre a encolhida cobardia
De pedra serve ao livre pensamento.
Quem se eleva ao sublime Firmamento,
A Estrela nele encontra que lhe é guia;
Que o bem que encerra em si a fantasia,
São u~as ilusões que leva o vento.
Abrir-se devem passos à ventura;
Sem si próprio ninguém será ditoso;
Os princípios somente a Sorte os move.
Atrever-se é valor e não loucura;
Perderá por cobarde o venturoso
Que vos vê, se os temores não remove.](https://static.mil-frases.com/default_featured_poema.jpg)
Luís Vaz de Camões
Nunca em amor danou o atrevimento; Favorece a Fortuna a ousadia; Porque sempre a encolhida cobardia De pedra serve ao livre pensamento. Quem se eleva ao sublime Firmamento, A Estrela nele encontra que lhe é guia; Que o bem que encerra em si a fantasia, São u~as ilusões que leva o vento. Abrir-se devem passos à ventura; Sem si próprio ninguém será ditoso; Os princípios somente a Sorte os move. Atrever-se é valor e não loucura; Perderá por cobarde o venturoso Que vos vê, se os temores não remove.
![Uma imagem com a seguinte frase Qual tem a borboleta por costume,
Que, enlevada na luz da acesa vela,
Dando vai voltas mil, até que nela
Se queima agora, agore se consume,
Tal eu correndo vou ao vivo lume
Desses olhos gentis, Aónia bela;
E abraso-me por mais que com cautela
Livrar-me a parte racional presume.
Conheço o muito a que se atreve a vista,
O quanto se levanta o pensamento,
O como vou morrendo claramente;
Porém, não quer Amor que lhe resista,
Nem a minha alma o quer; que em tal tormento,
Qual em glória maior, está contente.](https://static.mil-frases.com/default_featured_poema.jpg)
Luís Vaz de Camões
Qual tem a borboleta por costume, Que, enlevada na luz da acesa vela, Dando vai voltas mil, até que nela Se queima agora, agore se consume, Tal eu correndo vou ao vivo lume Desses olhos gentis, Aónia bela; E abraso-me por mais que com cautela Livrar-me a parte racional presume. Conheço o muito a que se atreve a vista, O quanto se levanta o pensamento, O como vou morrendo claramente; Porém, não quer Amor que lhe resista, Nem a minha alma o quer; que em tal tormento, Qual em glória maior, está contente.
![Uma imagem com a seguinte frase "Vejo-a na alma pintada,
Quando me pede o desejo
O natural que não vejo."
Se só no ver puramente
Me transformei no que vi,
De vista tão excelente
Mal poderei ser ausente,
Enquanto o não for de mi.
Porque a alma namorada
A traz tão bem debuxada
E a memória tanto voa,
Que, se a não vejo em pessoa,
"Vejo-a na alma pintada."
O desejo, que se estende
Ao que menos se concede,
Sobre vós pede e pretende,
Como o doente que pede
O que mais se lhe defende.
Eu, que em ausência vos vejo,
Tenho piedade e pejo
De me ver tão pobre estar,
Que então não tenho que dar,
"Quando me pede o desejo."
Como àquele que cegou
É cousa vista e notória,
Que a Natureza ordenou
Que se lhe dobre em memória
O que em vista lhe faltou,
Assim a mim, que não rejo
Os olhos ao que desejo,
Na memória e na firmeza
Me concede a Natureza
"O natural que não vejo."](https://static.mil-frases.com/default_featured_poema.jpg)
Luís Vaz de Camões
"Vejo-a na alma pintada, Quando me pede o desejo O natural que não vejo." Se só no ver puramente Me transformei no que vi, De vista tão excelente Mal poderei ser ausente, Enquanto o não for de mi. Porque a alma namorada A traz tão bem debuxada E a memória tanto voa, Que, se a não vejo em pessoa, "Vejo-a na alma pintada." O desejo, que se estende Ao que menos se concede, Sobre vós pede e pretende, Como o doente que pede O que mais se lhe defende. Eu, que em ausência vos vejo, Tenho piedade e pejo De me ver tão pobre estar, Que então não tenho que dar, "Quando me pede o desejo." Como àquele que cegou É cousa vista e notória, Que a Natureza ordenou Que se lhe dobre em memória O que em vista lhe faltou, Assim a mim, que não rejo Os olhos ao que desejo, Na memória e na firmeza Me concede a Natureza "O natural que não vejo."
![Uma imagem com a seguinte frase Manto de seda azul, o céu reflete
Quanta alegria na minha alma vai!
Tenho os meus lábios úmidos: tomai
A flor e o mel que a vida nos promete!
Sinfonia de luz meu corpo não repete
O ritmo e a cor dum mesmo desejo... olhai!
Iguala o sol que sempre às ondas cai,
Sem que a visão dos poentes se complete!
Meus pequeninos seios cor-de-rosa,
Se os roça ou prende a tua mão nervosa,
Têm a firmeza elástica dos gamos...
Para os teus beijos, sensual, flori!
E amendoeira em flor, só ofereço os ramos,
Só me exalto e sou linda para ti!](https://static.mil-frases.com/default_featured_poema.jpg)
Florbela Espanca
Manto de seda azul, o céu reflete Quanta alegria na minha alma vai! Tenho os meus lábios úmidos: tomai A flor e o mel que a vida nos promete! Sinfonia de luz meu corpo não repete O ritmo e a cor dum mesmo desejo... olhai! Iguala o sol que sempre às ondas cai, Sem que a visão dos poentes se complete! Meus pequeninos seios cor-de-rosa, Se os roça ou prende a tua mão nervosa, Têm a firmeza elástica dos gamos... Para os teus beijos, sensual, flori! E amendoeira em flor, só ofereço os ramos, Só me exalto e sou linda para ti!
![Uma imagem com a seguinte frase Ouço, como se o cheiro
De flores me acordasse...
É música – um canteiro
De influência e disfarce.
Impalpável lembrança,
Sorriso de ninguém,
Com aquela esperança
Que nem esperança tem...
Que importa, se sentir
É não se conhecer?
Ouço, e sinto sorrir
O que em mim nada quer.
21/08/1933](https://static.mil-frases.com/default_featured_poema.jpg)
Ricardo Reis
Ouço, como se o cheiro De flores me acordasse... É música – um canteiro De influência e disfarce. Impalpável lembrança, Sorriso de ninguém, Com aquela esperança Que nem esperança tem... Que importa, se sentir É não se conhecer? Ouço, e sinto sorrir O que em mim nada quer. 21/08/1933
![Uma imagem com a seguinte frase Trazes-me em tuas mãos de vitorioso
Todos os bens que a vida me negou,
E todo um roseiral, a abrir, glorioso
Que a solitária estrada perfumou.
Neste meio-dia límpido, radioso,
Sinto o teu coração que Deus talhou
Num pedaço de bronze luminoso,
Como um berço onde a vida me pousou.
O silêncio, ao redor, é uma asa quieta...
E a tua boca que sorri e anseia,
Lembra um cálix de tulipa entreaberta...
Cheira a ervas amargas, cheira a sândalo...
E o meu corpo ondulante de sereia
Dorme em teus braços másculos de vândalo...](https://static.mil-frases.com/default_featured_poema.jpg)
Florbela Espanca
Trazes-me em tuas mãos de vitorioso Todos os bens que a vida me negou, E todo um roseiral, a abrir, glorioso Que a solitária estrada perfumou. Neste meio-dia límpido, radioso, Sinto o teu coração que Deus talhou Num pedaço de bronze luminoso, Como um berço onde a vida me pousou. O silêncio, ao redor, é uma asa quieta... E a tua boca que sorri e anseia, Lembra um cálix de tulipa entreaberta... Cheira a ervas amargas, cheira a sândalo... E o meu corpo ondulante de sereia Dorme em teus braços másculos de vândalo...
![Uma imagem com a seguinte frase Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada ... a dolorida ...
Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...
Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber por quê...
Sou talvez a visão que alguém sonhou.
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!](https://static.mil-frases.com/default_featured_poema.jpg)
Florbela Espanca
Eu sou a que no mundo anda perdida, Eu sou a que na vida não tem norte, Sou a irmã do Sonho, e desta sorte Sou a crucificada ... a dolorida ... Sombra de névoa tênue e esvaecida, E que o destino amargo, triste e forte, Impele brutalmente para a morte! Alma de luto sempre incompreendida!... Sou aquela que passa e ninguém vê... Sou a que chamam triste sem o ser... Sou a que chora sem saber por quê... Sou talvez a visão que alguém sonhou. Alguém que veio ao mundo pra me ver, E que nunca na vida me encontrou!
![Uma imagem com a seguinte frase Tirar dentro do peito a emoção,
A lúcida verdade, o sentimento!
- E ser, depois de vir do coração,
Um punhado de cinza esparso ao vento!...
Sonhar um verso d ́alto pensamento,
E puro como um ritmo d ́oração!
- E ser, depois de vir do coração,
O pó, o nada, o sonho dum momento!...
São assim ocos, rudes, os meus versos:
Rimas perdidas, vendavais dispersos,
Com que eu iludo os outros, com que minto!
Quem me dera encontrar o verso puro,
O verso altivo e forte, estranho e duro,
Que dissesse, a chorar, isto que sinto!](https://static.mil-frases.com/default_featured_poema.jpg)
Florbela Espanca
Tirar dentro do peito a emoção, A lúcida verdade, o sentimento! - E ser, depois de vir do coração, Um punhado de cinza esparso ao vento!... Sonhar um verso d ́alto pensamento, E puro como um ritmo d ́oração! - E ser, depois de vir do coração, O pó, o nada, o sonho dum momento!... São assim ocos, rudes, os meus versos: Rimas perdidas, vendavais dispersos, Com que eu iludo os outros, com que minto! Quem me dera encontrar o verso puro, O verso altivo e forte, estranho e duro, Que dissesse, a chorar, isto que sinto!
![Uma imagem com a seguinte frase Deixa-me ser a tua amiga, amor;
A tua amiga só, já que não queres
Que pelo teu amor seja a melhor
A mais triste de todas as mulheres.
Que só, de ti, me venha mágoa e dor
O que me importa, a mim?! O que quiseres
É sempre um sonho bom! Seja o que for
Bendito sejas tu por mo dizeres!
Beija-me as mãos, amor, devagarinho...
Como se os dois nascêssemos irmãos,
Aves cantando, ao sol, no mesmo ninho...
Beija-mas bem!... Que fantasia louca
Guardar assim, fechados, nestas mãos,
Os beijos que sonhei pra minha boca!...](https://static.mil-frases.com/default_featured_poema.jpg)
Florbela Espanca
Deixa-me ser a tua amiga, amor; A tua amiga só, já que não queres Que pelo teu amor seja a melhor A mais triste de todas as mulheres. Que só, de ti, me venha mágoa e dor O que me importa, a mim?! O que quiseres É sempre um sonho bom! Seja o que for Bendito sejas tu por mo dizeres! Beija-me as mãos, amor, devagarinho... Como se os dois nascêssemos irmãos, Aves cantando, ao sol, no mesmo ninho... Beija-mas bem!... Que fantasia louca Guardar assim, fechados, nestas mãos, Os beijos que sonhei pra minha boca!...
![Uma imagem com a seguinte frase Procurei o amor, que me mentiu.
Pedi à vida mais do que ela dava;
Eterna sonhadora edificava
Meu castelo de luz que me caiu!
Tanto clarão nas trevas refulgiu,
E tanto beijo a boca me queimava!
E era o sol que os longes deslumbrava
Igual a tanto sol que me fugiu!
Passei a vida a amar e a esquecer...
Atrás do sol dum dia outro a aquecer
As brumas dos atalhos por onde ando...
E este amor que assim me vai fugindo
É igual a outro amor que vai surgindo,
Que há-de partir também... nem eu sei quando...](https://static.mil-frases.com/default_featured_poema.jpg)
Florbela Espanca
Procurei o amor, que me mentiu. Pedi à vida mais do que ela dava; Eterna sonhadora edificava Meu castelo de luz que me caiu! Tanto clarão nas trevas refulgiu, E tanto beijo a boca me queimava! E era o sol que os longes deslumbrava Igual a tanto sol que me fugiu! Passei a vida a amar e a esquecer... Atrás do sol dum dia outro a aquecer As brumas dos atalhos por onde ando... E este amor que assim me vai fugindo É igual a outro amor que vai surgindo, Que há-de partir também... nem eu sei quando...
![Uma imagem com a seguinte frase Viver!... Beber o vento e o sol!... Erguer
Ao céu os corações a palpitar!
Deus fez os nossos braços pra prender,
E a boca fez-se sangue pra beijar!
A chama, sempre rubra, ao alto a arder!...
Asas sempre perdidas a pairar,
Mais alto para as estrelas desprender!...
A glória!... A fama!... O orgulho de criar!...
Da vida tenho o mel e tenho os travos
No lago dos meus olhos de violetas,
Nos meus beijos estáticos, pagãos!...
Trago na boca o coração dos cravos!
Boêmios, vagabundos, e poetas:
- Como eu sou vossa irmã, ó meus irmãos!..](https://static.mil-frases.com/default_featured_poema.jpg)
Florbela Espanca
Viver!... Beber o vento e o sol!... Erguer Ao céu os corações a palpitar! Deus fez os nossos braços pra prender, E a boca fez-se sangue pra beijar! A chama, sempre rubra, ao alto a arder!... Asas sempre perdidas a pairar, Mais alto para as estrelas desprender!... A glória!... A fama!... O orgulho de criar!... Da vida tenho o mel e tenho os travos No lago dos meus olhos de violetas, Nos meus beijos estáticos, pagãos!... Trago na boca o coração dos cravos! Boêmios, vagabundos, e poetas: - Como eu sou vossa irmã, ó meus irmãos!..