(...) Um ai do peito a mísera soltando, A maviosa voz destarte exala: "Só, eis-me aqui no cimo da montanha, Dos meus abandonada; como um tronco Despido, inútil no alto da colina, A que os ramos quebrou Tupã co'a frecha. "Só, eis-me aqui, do velho pai ausente, Ausente do querido bem-amado, Como viúva, solitária rola Em deserto areal seu mal carpindo! "Ainda hoje o caro pai vi a meu lado; Ainda hoje o amante eu vi!. .. Fugiram ambos, Velozes como os cervos da floresta: Já fui feliz; mas hoje desgraçada!" E os ecos responderam — desgraçada! "Desgraçada!. .. E ainda vivo? Antes à guerra O pai e o bravo amante acompanhasse; Ouvindo sua voz, seu rosto vendo, Acabar a seu lado melhor fora." E os ecos responderam — melhor fora! "Gênios, que as grotas povoais e os vales, Gênios, que repetis os meus acentos, Ide, e do amado murmurai no ouvido Que a amante sua de saudades morre." E os ecos responderam — morre... morre! Morre... morre! soou por longo tempo. O canto cala um pouco a triste moça, Murmurando dos ecos o estribilho, Como se algum presságio concebesse. Os negros olhos de chorar cansados Co'as mãos ele os enxuga; mas de novo Desses doridos olhos as estanques Lágrimas brotam, que lhe o peito aljofram, Como goteja em bagas abundantes Da fendida taboca a pura linfa. (...) "Sim, morrerei. .." E mais dizer não pôde; Em meio de um gemido a voz faltou-lhe. Os lábios lhe tremiam convulsivos, Como flores batidas pelos ventos. Cruza os braços no colo, os olhos cerra, Pende a fronte, e no peito o queixo apóia, As derretidas perlas entornando: Tal num jardim a pálida açucena, De matutino orvalho o cálix cheio, Se o zéfiro a bafeja, a fronte inclina, Puros cristais em lágrimas vertendo. Não sei se dorme, ou se respira ainda; Mas parece entre pedras bela estátua, Que do abandono o desalento exprime! O sol, que ao ressurgir a viu chorosa, Nesse mesmo lugar chorosa a deixa. (...) Imagem - 00410003 Publicado no livro A Confederação dos Tamoios: poema (1856). In: GRANDES poetas românticos do Brasil. Pref. e notas biogr. Antônio Soares Amora. Org. rev. e notas Frederico José da Silva Ramos. São Paulo: LEP, 1949 NOTA: Poema composto de 10 canto