Da casa do monte, símbolo eterno e perfeito, Vejo os campos, os campos todos, E eu os saúdo por fim com a voz verdadeira, Eu lhes dou vivas, chorando, com as lágrimas certas e os vivas exactos — Eu os aperto a meu peito, como filho que encontrasse o pai perdido. Vivam, vivam, vivam Os montes, e a planície, e as ervas! Vivam os rios, vivam as fontes! Vivam as flores, e as árvores, e as pedras! Vivam os entes vivos e os bichos pequenos, Os bichos que correm, insectos e aves, Os animais todos, tão reais sem mim, Os homens, as mulheres, as crianças, As famílias, e as não-famílias, igualmente! Tudo quanto sente sem saber porquê! Tudo quanto vive sem pensar que vive! Tudo que acaba e nunca se aumenta com nada, Sabendo, melhor que eu, que nada há que temer, Que nada é fim, que nada é abismo, que nada é mistério, E que tudo é Deus, e que tudo é Ser, e que tudo é Vida. Ah, estou liberto! Ah, quebrei todas As algemas do pensamento. Eu, o claustro e a cave voluntários de mim mesmo, Eu o próprio abismo que sonhei, Eu, que vi em tudo caminhos e atalhos de sombra E a sombra e os caminhos e os atalhos eram eu! Ah, estou liberto... Mestre Caeiro, voltei à tua casa do monte E vi o mesmo que vias, mas com meus olhos, Verdadeiramente com meus olhos, Verdadeiramente verdadeiros... Ah vi que não há muitos abismos! Vi que (...)