Pela Pátria, e por mim a voz desprendo Ao som da lira que a saudade empunha; Verdade, e gratidão guiam meu canto, Não sórdida cobiça Debret, digno Francês, Pintor preclaro, Caro Amigo; Homem firme, sábio Mestre, Eu te agradeço os bens, que tu fizeste A mim, e à Pátria minha. De um bom filho é dever ao pai ser útil; Mas de homem o dever é ser a todos: Assaz útil nos fôste, assaz nos deste De homem, de amigo provas. Saudosa a tua Pátria ora te chama, E para receber-te estende os braços; Chama-te a Pátria, não hesites, cumpre Os deveres de filho. Deixa embora o Brasil, que tanto prezas; Não mais encares suas belas cenas; Sei que ele é sedutor, que tem encantos Que os alvedrios prendem. Sei quanto no meu peito a Pátria impera, Que mais o meu amor subir não pode; Como pois poderei aconselhar-te Que a tua Pátria deixes? Ah não! não se dirá, que um Brasileiro A tanto se atreveu; embora, embora Não honre o teu pincel a nossa história, Nem as nossas paisagens. Tu conheces meu peito, assaz tu sabes Que honra, e virtude assim n'alma me gritam. Indócil coração eu não possuo, Indiferente a tudo. Morno pesar me enluta, e me profliga Agora que o Brasil, e a mim tu deixas. Ah não condenes que entrecorte o canto Com ais, e com suspiros. Em nossos corações agradecidos Tu soubeste, oh Debret, gravar teu nome, E neles viverás, enquanto as Artes Amadores tiverem. (. ..) Sim, oh Debret, será teu nome eterno; E quando outro penhor tu nos não desses, Um Araújo só bastante fôra Para honra tua, e nossa. (. ..) Mas outros deixas monumentos vivos; Existem os Carvalhos, e os Arrudas, Que a muda Natureza em breves quadros Mimosos representam. Oxalá que eu também sem desonrar-te Que teu discíp'lo fui dizer pudesse; Mas ao menos direi, sou teu amigo, E basta-me tal glória. Se este fraco tributo de amizade For aos olhos do Mundo apresentado, Conheça o quanto a gratidão domina No peito Brasileiro. Imagem - 00410006 Publicado no livro Poesias (1832). In: GRANDES poetas românticos do Brasil. Pref. e notas biogr. Antônio Soares Amora. Org. rev. e notas Frederico José da Silva Ramos. São Paulo: LEP, 194