Poemas sobre Amor-próprio

Poesia que ressalta a importância do amor e respeito por si mesmo, promovendo a autoestima.

Uma imagem com a seguinte frase Que deviendra dans l'éternité l'âme d'un

homme qui a fait Polichinelle toute sa vie?

Mme. DE STAEL


Musa, depõe a lira!

Cantos de amor, cantos de glória esquece!

Novo assunto aparece

Que o gênio move e a indignação inspira.

Esta esfera é mais vasta,

E vence a letra nova a letra antiga!

Musa, toma a vergasta,

E os arlequins fustiga.


Como aos olhos de Roma,

— Cadáver do que foi, pávido império

De Caio e de Tibério, —

O filho de Agripina ousado assoma;

E a lira sobraçando,

Ante o povo idiota e amedrontado,

Pedia, ameaçando,

O aplauso acostumado;


E o povo que beijava

Outrora ao deus Calígula o vestido,

De novo submetido

Ao régio saltimbanco o aplauso dava.

E tu, tu não te abrias,

Ó céu de Roma, à cena degradante!

E tu, tu não caías,

Ó raio chamejante!


Tal na história que passa

Neste de luzes século famoso,

O engenho portentoso

Sabe iludir a néscia população;

Não busca o mal tecido

Canto de outrora; a moderna insolência

Não encanta o ouvido,

Fascina a consciência!


Vede; o aspecto vistoso,

O olhar, seguro, altivo e penetrante,

E certo ar arrogante

Que impõe com aparências de assombroso;

Não vacila, não tomba,

Caminha sobre a corda firme e alerta;

Tem consigo a maromba

E a ovação é certa.


Tamanha gentileza,

Tal segurança, ostentação tão grande,

A multidão expande

Com ares de legítima grandeza.

O gosto pervertido

Acha o sublime neste abatimento,

E dá-lhe agradecido

O louro e o monumento.


Do saber, da virtude,

Logra fazer, em prêmio dos trabalhos,

Um manto de retalhos

Que à consciência universal ilude.

Não cora, não se peja

Do papel, nem da máscara indecente,

E ainda inspira inveja

Esta glória insolente!


(.
..)


Imagem - 00010001



Publicado no livro Crisálida: poesias (1864).


In: ASSIS, Machado de. Obra completa. Org. Afrânio Coutinho. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. v.3, p.196-197. (Biblioteca luso-brasileira. Série brasileira

Joaquim Maria Machado de Assis

Que deviendra dans l'éternité l'âme d'un homme qui a fait Polichinelle toute sa vie? Mme. DE STAEL Musa, depõe a lira! Cantos de amor, cantos de glória esquece! Novo assunto aparece Que o gênio move e a indignação inspira. Esta esfera é mais vasta, E vence a letra nova a letra antiga! Musa, toma a vergasta, E os arlequins fustiga. Como aos olhos de Roma, — Cadáver do que foi, pávido império De Caio e de Tibério, — O filho de Agripina ousado assoma; E a lira sobraçando, Ante o povo idiota e amedrontado, Pedia, ameaçando, O aplauso acostumado; E o povo que beijava Outrora ao deus Calígula o vestido, De novo submetido Ao régio saltimbanco o aplauso dava. E tu, tu não te abrias, Ó céu de Roma, à cena degradante! E tu, tu não caías, Ó raio chamejante! Tal na história que passa Neste de luzes século famoso, O engenho portentoso Sabe iludir a néscia população; Não busca o mal tecido Canto de outrora; a moderna insolência Não encanta o ouvido, Fascina a consciência! Vede; o aspecto vistoso, O olhar, seguro, altivo e penetrante, E certo ar arrogante Que impõe com aparências de assombroso; Não vacila, não tomba, Caminha sobre a corda firme e alerta; Tem consigo a maromba E a ovação é certa. Tamanha gentileza, Tal segurança, ostentação tão grande, A multidão expande Com ares de legítima grandeza. O gosto pervertido Acha o sublime neste abatimento, E dá-lhe agradecido O louro e o monumento. Do saber, da virtude, Logra fazer, em prêmio dos trabalhos, Um manto de retalhos Que à consciência universal ilude. Não cora, não se peja Do papel, nem da máscara indecente, E ainda inspira inveja Esta glória insolente! (. ..) Imagem - 00010001 Publicado no livro Crisálida: poesias (1864). In: ASSIS, Machado de. Obra completa. Org. Afrânio Coutinho. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. v.3, p.196-197. (Biblioteca luso-brasileira. Série brasileira

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Uma imagem com a seguinte frase Pela Pátria, e por mim a voz desprendo

Ao som da lira que a saudade empunha;

Verdade, e gratidão guiam meu canto,

Não sórdida cobiça


Debret, digno Francês, Pintor preclaro,

Caro Amigo; Homem firme, sábio Mestre,

Eu te agradeço os bens, que tu fizeste

A mim, e à Pátria minha.


De um bom filho é dever ao pai ser útil;

Mas de homem o dever é ser a todos:

Assaz útil nos fôste, assaz nos deste

De homem, de amigo provas.


Saudosa a tua Pátria ora te chama,

E para receber-te estende os braços;

Chama-te a Pátria, não hesites, cumpre

Os deveres de filho.


Deixa embora o Brasil, que tanto prezas;

Não mais encares suas belas cenas;

Sei que ele é sedutor, que tem encantos

Que os alvedrios prendem.


Sei quanto no meu peito a Pátria impera,

Que mais o meu amor subir não pode;

Como pois poderei aconselhar-te

Que a tua Pátria deixes?


Ah não! não se dirá, que um Brasileiro

A tanto se atreveu; embora, embora

Não honre o teu pincel a nossa história,

Nem as nossas paisagens.


Tu conheces meu peito, assaz tu sabes

Que honra, e virtude assim n'alma me gritam.

Indócil coração eu não possuo,

Indiferente a tudo.


Morno pesar me enluta, e me profliga

Agora que o Brasil, e a mim tu deixas.

Ah não condenes que entrecorte o canto

Com ais, e com suspiros.


Em nossos corações agradecidos

Tu soubeste, oh Debret, gravar teu nome,

E neles viverás, enquanto as Artes

Amadores tiverem.


(.
..)


Sim, oh Debret, será teu nome eterno;

E quando outro penhor tu nos não desses,

Um Araújo só bastante fôra

Para honra tua, e nossa.


(.
..)


Mas outros deixas monumentos vivos;

Existem os Carvalhos, e os Arrudas,

Que a muda Natureza em breves quadros

Mimosos representam.


Oxalá que eu também sem desonrar-te

Que teu discíp'lo fui dizer pudesse;

Mas ao menos direi, sou teu amigo,

E basta-me tal glória.


Se este fraco tributo de amizade

For aos olhos do Mundo apresentado,

Conheça o quanto a gratidão domina

No peito Brasileiro.


Imagem - 00410006



Publicado no livro Poesias (1832).


In: GRANDES poetas românticos do Brasil. Pref. e notas biogr. Antônio Soares Amora. Org. rev. e notas Frederico José da Silva Ramos. São Paulo: LEP, 194

José Gonçalves de Magalhães

Pela Pátria, e por mim a voz desprendo Ao som da lira que a saudade empunha; Verdade, e gratidão guiam meu canto, Não sórdida cobiça Debret, digno Francês, Pintor preclaro, Caro Amigo; Homem firme, sábio Mestre, Eu te agradeço os bens, que tu fizeste A mim, e à Pátria minha. De um bom filho é dever ao pai ser útil; Mas de homem o dever é ser a todos: Assaz útil nos fôste, assaz nos deste De homem, de amigo provas. Saudosa a tua Pátria ora te chama, E para receber-te estende os braços; Chama-te a Pátria, não hesites, cumpre Os deveres de filho. Deixa embora o Brasil, que tanto prezas; Não mais encares suas belas cenas; Sei que ele é sedutor, que tem encantos Que os alvedrios prendem. Sei quanto no meu peito a Pátria impera, Que mais o meu amor subir não pode; Como pois poderei aconselhar-te Que a tua Pátria deixes? Ah não! não se dirá, que um Brasileiro A tanto se atreveu; embora, embora Não honre o teu pincel a nossa história, Nem as nossas paisagens. Tu conheces meu peito, assaz tu sabes Que honra, e virtude assim n'alma me gritam. Indócil coração eu não possuo, Indiferente a tudo. Morno pesar me enluta, e me profliga Agora que o Brasil, e a mim tu deixas. Ah não condenes que entrecorte o canto Com ais, e com suspiros. Em nossos corações agradecidos Tu soubeste, oh Debret, gravar teu nome, E neles viverás, enquanto as Artes Amadores tiverem. (. ..) Sim, oh Debret, será teu nome eterno; E quando outro penhor tu nos não desses, Um Araújo só bastante fôra Para honra tua, e nossa. (. ..) Mas outros deixas monumentos vivos; Existem os Carvalhos, e os Arrudas, Que a muda Natureza em breves quadros Mimosos representam. Oxalá que eu também sem desonrar-te Que teu discíp'lo fui dizer pudesse; Mas ao menos direi, sou teu amigo, E basta-me tal glória. Se este fraco tributo de amizade For aos olhos do Mundo apresentado, Conheça o quanto a gratidão domina No peito Brasileiro. Imagem - 00410006 Publicado no livro Poesias (1832). In: GRANDES poetas românticos do Brasil. Pref. e notas biogr. Antônio Soares Amora. Org. rev. e notas Frederico José da Silva Ramos. São Paulo: LEP, 194

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