Que a mão do tempo e o hálito dos homens Murchem a flor das ilusões da vida, Musa consoladora, É no teu seio amigo e sossegado Que o poeta respira o suave sono. Não há, não há contigo, Nem dor aguda, nem sombrios ermos; Da tua voz os namorados cantos Enchem, povoam tudo De íntima paz de vida e de conforto. Ante esta voz que as dores adormece, E muda o agudo espinho em flor cheirosa, Que vales tu, desilusão dos homens? Tu que podes, ó tempo? A alma triste do poeta sobrenada À enchente das angústias, E, afrontando o rugido da tormenta, Passa cantando, alcíone divina. Musa consoladora, Quando da minha fronte de mancebo A última ilusão cair, bem como Folha amarela e seca Que ao chão atira a viração do outono, Ah! no teu seio amigo Acolhe-me, - e haverá minha alma aflita, Em vez de algumas ilusões que teve, A paz, o último bem, último e puro! In: Poesias completas. Rio de Janeiro: Livro do Mês, 1959. (Obras completas de Machado de Assis