Poemas para Reflexão

Colectânea de poemas para reflectir e se encontrar. Temo também poemas de sobre a vida que deve consultar. Os poemas para refletir são aqueles que nos convidam a pensar sobre nossas próprias vidas, nossos valores, nossas escolhas e nossas relações. Eles podem ser profundos e introspectivos, ou leves e divertidos, mas sempre nos desafiam a olhar para dentro de nós mesmos e a considerar o que realmente importa. Os poemas para refletir podem tratar de assuntos filosóficos, políticos, sociais ou pessoais, e podem ser escritos de muitas maneiras diferentes, incluindo verso livre, rima ou formas tradicionais. Seja qual for o estilo ou a forma de escrita, os poemas para refletir são uma forma poderosa de nos conectar com nós mesmos e com o mundo ao nosso redor.

Uma imagem com a seguinte frase Je veux changer mes pensées en oiseaux.

C. MAROT


Olha como, cortando os leves ares,

Passam do vale ao monte as andorinhas;

Vão pousar na verdura dos palmares,

Que, à tarde, cobre transparente véu;

Voam também como essas avezinhas

Meus sombrios, meus tristes pensamentos;

Zombam da fúria dos contrários ventos,

Fogem da terra, acercam-se do céu.


Porque o céu é também aquela estância

Onde respira a doce criatura,

Filha do nosso amor, sonho da infância,

Pensamento dos dias juvenis.

Lá, como esquiva flor, formosa e pura,

Vives tu escondida entre a folhagem,

Ó rainha do ermo, ó fresca imagem

Dos meus sonhos de amor calmo e feliz!


Vão para aquela estância enamorados,

Os pensamentos de minh'alma ansiosa;

Vão contar-lhe os meus dias gozados

E estas noites de lágrimas e dor.


Na tua fronte pousarão, mimosa,

Como as aves no cimo da palmeira,

Dizendo aos ecos a canção primeira

De um livro escrito pela mão do amor.


Dirão também como conservo ainda

No fundo de minh'alma essa lembrança

De tua imagem vaporosa e linda,

Único alento que me prende aqui.


E dirão mais que estrelas de esperança

Enchem a escuridão das noites minhas.

Como sobem ao monte as andorinhas,

Meus pensamentos voam para ti.



Publicado no livro Falenas: Vária, Lira Chinesa, Uma Ode a Anacreonte, Pálida Elvira (1870). Poema integrante da série Vária.


In: ASSIS, Machado de. Obra completa. Org. Afrânio Coutinho. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994 v.3, p.51-52. (Biblioteca luso-brasileira. Série brasileira

Joaquim Maria Machado de Assis

Je veux changer mes pensées en oiseaux. C. MAROT Olha como, cortando os leves ares, Passam do vale ao monte as andorinhas; Vão pousar na verdura dos palmares, Que, à tarde, cobre transparente véu; Voam também como essas avezinhas Meus sombrios, meus tristes pensamentos; Zombam da fúria dos contrários ventos, Fogem da terra, acercam-se do céu. Porque o céu é também aquela estância Onde respira a doce criatura, Filha do nosso amor, sonho da infância, Pensamento dos dias juvenis. Lá, como esquiva flor, formosa e pura, Vives tu escondida entre a folhagem, Ó rainha do ermo, ó fresca imagem Dos meus sonhos de amor calmo e feliz! Vão para aquela estância enamorados, Os pensamentos de minh'alma ansiosa; Vão contar-lhe os meus dias gozados E estas noites de lágrimas e dor. Na tua fronte pousarão, mimosa, Como as aves no cimo da palmeira, Dizendo aos ecos a canção primeira De um livro escrito pela mão do amor. Dirão também como conservo ainda No fundo de minh'alma essa lembrança De tua imagem vaporosa e linda, Único alento que me prende aqui. E dirão mais que estrelas de esperança Enchem a escuridão das noites minhas. Como sobem ao monte as andorinhas, Meus pensamentos voam para ti. Publicado no livro Falenas: Vária, Lira Chinesa, Uma Ode a Anacreonte, Pálida Elvira (1870). Poema integrante da série Vária. In: ASSIS, Machado de. Obra completa. Org. Afrânio Coutinho. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994 v.3, p.51-52. (Biblioteca luso-brasileira. Série brasileira

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Uma imagem com a seguinte frase Quando, contigo a sós, as mãos unidas,

Tu, pensativa e muda, e eu, namorado,

Às volúpias do amor a alma entregando,

Deixo correr as horas fugidias;

Ou quando às solidões de umbrosa selva

Comigo te arrebato; ou quando escuto

— Tão só eu, — teus terníssimos suspiros;

E de meus lábios solto

Eternas juras de constância eterna;

Ou quando, enfim, tua adorada fronte

Nos meus joelhos trêmulos descansa,

E eu suspendo meus olhos em teus olhos,

Como às folhas da rosa ávida abelha;

Ai, quanta vez então dentro em meu peito

Vago terror penetra, como um raio!

Empalideço, tremo;

E no seio da glória em que me exalto,

Lágrimas verto que a minha alma assombram!

Tu, carinhosa e trêmula,

Nos teus braços me cinges, — e assustada,

Interrogando em vão, comigo choras!

"Que dor secreta o coração te oprime?"

Dizes tu. "Vem, confia os teus pesares...

"Fala! eu abrandarei as penas tuas!

"Fala! eu consolarei tua alma aflita!"

Vida do meu viver, não me interrogues!

Quando enlaçado nos teus níveos braços

A confissão de amor te ouço, e levanto

Lânguidos olhos para ver teu rosto,

Mais ditoso mortal o céu não cobre!

Se eu tremo, é porque nessas esquecidas

Afortunadas horas,

Não sei que voz do enleio me desperta,

E me persegue e lembra

Que a ventura coo tempo se esvaece,

E o nosso amor é facho que se extingue!

De um lance, espavorida,

Minha alma voa às sombras do futuro,

E eu penso então: "Ventura que se acaba

Um sonho vale apenas."



Publicado no livro Falenas: Vária, Lira Chinesa, Uma Ode a Anacreonte, Pálida Elvira (1870). Poema integrante da série Vária.


In: ASSIS, Machado de. Obra completa. Org. Afrânio Coutinho. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. v.3, p.50. (Biblioteca luso-brasileira. Série brasileira)


NOTA: Tradução do poema "A El***", de Lamartine, do livro NOUVELLES MÉDITATIONS POÉTIQUES (Novas Meditações Poéticas

Joaquim Maria Machado de Assis

Quando, contigo a sós, as mãos unidas, Tu, pensativa e muda, e eu, namorado, Às volúpias do amor a alma entregando, Deixo correr as horas fugidias; Ou quando às solidões de umbrosa selva Comigo te arrebato; ou quando escuto — Tão só eu, — teus terníssimos suspiros; E de meus lábios solto Eternas juras de constância eterna; Ou quando, enfim, tua adorada fronte Nos meus joelhos trêmulos descansa, E eu suspendo meus olhos em teus olhos, Como às folhas da rosa ávida abelha; Ai, quanta vez então dentro em meu peito Vago terror penetra, como um raio! Empalideço, tremo; E no seio da glória em que me exalto, Lágrimas verto que a minha alma assombram! Tu, carinhosa e trêmula, Nos teus braços me cinges, — e assustada, Interrogando em vão, comigo choras! "Que dor secreta o coração te oprime?" Dizes tu. "Vem, confia os teus pesares... "Fala! eu abrandarei as penas tuas! "Fala! eu consolarei tua alma aflita!" Vida do meu viver, não me interrogues! Quando enlaçado nos teus níveos braços A confissão de amor te ouço, e levanto Lânguidos olhos para ver teu rosto, Mais ditoso mortal o céu não cobre! Se eu tremo, é porque nessas esquecidas Afortunadas horas, Não sei que voz do enleio me desperta, E me persegue e lembra Que a ventura coo tempo se esvaece, E o nosso amor é facho que se extingue! De um lance, espavorida, Minha alma voa às sombras do futuro, E eu penso então: "Ventura que se acaba Um sonho vale apenas." Publicado no livro Falenas: Vária, Lira Chinesa, Uma Ode a Anacreonte, Pálida Elvira (1870). Poema integrante da série Vária. In: ASSIS, Machado de. Obra completa. Org. Afrânio Coutinho. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. v.3, p.50. (Biblioteca luso-brasileira. Série brasileira) NOTA: Tradução do poema "A El***", de Lamartine, do livro NOUVELLES MÉDITATIONS POÉTIQUES (Novas Meditações Poéticas

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