Poemas sobre Coragem
Versos que exaltam a coragem, a determinação e a capacidade de enfrentar desafios.
Fernando Pessoa
A PARTE do indolente é a abstrata vida. Quem não emprega o esforço em conseguir, Mas o deixa ficar, deixa dormir, O deixa sem futuro e sem guarida, Que mais haurir pode da morta lida, Da sentida vaidade de seguir Um caminho, da inércia de sentir, Do extinto fogo e da visão perdida, Senão a calma aquiescência em ter No sangue entregue, e pelo corpo todo A consciência de nada qu'rer nem ser, A intervisão das coisas atingíveis, E o renunciá-las, como um lindo modo Das mãos que a palidez torna impassíveis.
Fernando Pessoa
Quanto fui peregrino Do meu próprio destino! Quanta vez desprezei O lar que sempre amei! Quanta vez rejeitando O que quisera ter, Fiz dos versos um brando Refúgio de não ser! E quanta vez, sabendo Que a mim estava esquecendo, E que quanto vivi – Tanto era o que perdi – Como o orgulhoso pobre Ao rejeitado lar Volvi o olhar, vil nobre Fidalgo só no chorar... Mas quanta vez descrente Do ser insubsistente Com que no Carnaval Da minha alma irreal Vestira o que sentisse Vi quem era quem não sou E tudo o que não disse Os olhos me turvou... Então, a sós comigo, Sem me ter por amigo, Criança ao pé dos céus, Pus a mão na de Deus. E no mistério escuro Senti a antiga mão Guiar-me, e fui seguro Como a quem deram pão. Por isso, a cada passo Que meu ser triste e lasso Sente sair do bem Que a alma, se é própria, tem, Minha mão de criança Sem medo nem esperança Para aquele que sou Dou na de Deus e vou. 07/10/1930
Fernando Pessoa
Vou em mim como entre bosques Vou-me fazendo paisagem Para me desconhecer. Nos meus sonhos sinto aragem, Nos meus desejos descer Passeio entre arvoredo Nos meandros de quem sinto Quando sinto sem sentir...... Vaga clareira de instinto Pinheiral todo a subir.... Sorriso que no regato Através dos ramos curvos O sol , espreitando, achou. Fluir de água, com tons turvos, Onde uma pedra adensou. Grande alegria das mágoas Quando o declive da encosta Apressa o passo ou querer... De que é que a minha alma gosta Ser que eu tenho de saber. Muita curva, muita coisa Todas com gentes de fora Na alma que sinto assim. Que paisagem, quem se ignora! Meu Deus, que é feito de mim?
Ricardo Reis
Segue o teu destino, Rega as tuas plantas, Ama as tuas rosas. O resto é a sombra De árvores alheias. A realidade Sempre é mais ou menos Do que nós queremos. Só nós somos sempre Iguais a nós-próprios. Suave é viver só. Grande e nobre é sempre Viver simplesmente. Deixa a dor nas aras Como ex-voto aos deuses. Vê de longe a vida. Nunca a interrogues. Ela nada pode Dizer-te. A resposta Está além dos deuses. Mas serenamente Imita o Olimpo No teu coração. Os deuses são deuses Porque não se pensam.
Álvaro de Campos
Paro, escuto, reconheço-me! O som da minha voz caiu no ar sem vida. Fiquei o mesmo, tu estás morto, tudo é insensível... Saudar-te foi um modo de eu querer animar-me, Para que te saudei sem que me julgue capaz Da energia viva de saudar alguém! Ó coração por sarar! quem me salva de ti?
Ricardo Reis
Antes de nós nos mesmos arvoredos Passou o vento, quando havia vento, E as folhas não falavam De outro modo do que hoje. Passamos e agitamo-nos debalde. Não fazemos mais ruído no que existe Do que as folhas das árvores Ou os passos do vento. Tentemos pois com abandono assíduo Entregar nosso esforço à Natureza E não querer mais vida Que a das árvores verdes. Inutilmente parecemos grandes. Salvo nós nada pelo mundo fora Nos saúda a grandeza Nem sem querer nos serve. Se aqui, à beira-mar, o meu indício Na areia o mar com ondas três o apaga, Que fará na alta praia Em que o mar é o Tempo? 08/10/1914
Ricardo Reis
Cada um cumpre o destino que lhe cumpre, E deseja o destino que deseja; Nem cumpre o que deseja, Nem deseja o que cumpre. Como as pedras na orla dos canteiros O Fado nos dispõe, e ali ficamos; Que a Sorte nos fez postos Onde houvemos de sê-lo. Não tenhamos melhor conhecimento Do que nos coube que de que nos coube. Cumpramos o que somos. Nada mais nos é dado.
Ricardo Reis
Aqui, Neera, longe De homens e de cidades, Por ninguém nos tolher O passo, nem vedarem A nossa vista as casas, Podemos crer-nos livres. Bem sei, ó flava, que inda Nos tolhe a vida o corpo, E não temos a mão Onde temos a alma; Bem sei que mesmo aqui Se nos gasta esta carne Que os deuses concederam Ao estado antes de Averno. Mas aqui não nos prendem Mais coisas do que a vida, Mãos alheias não tomam Do nosso braço, ou passos Humanos se atravessam Pelo nosso caminho. Não nos sentimos presos Senão com pensarmos nisso, Por isso não pensemos E deixemo-nos crer Na inteira liberdade Que é a ilusão que agora Nos torna iguais dos deuses. 02/08/1914
Ricardo Reis
Sofro, Lídia, do medo do destino. A leve pedra que um momento ergue As lisas rodas do meu carro, aterra Meu coração. Tudo quanto me ameace de mudar-me Para melhor que seja, odeio e fujo. Deixem-me os deuses minha vida sempre Sem renovar Meus dias, mas que um passe e outro passe Ficando eu sempre quase o mesmo; indo Para a velhice como um dia entra No anoitecer. 26/05/1917
Ricardo Reis
Anjos ou deuses, sempre nós tivemos A visão perturbada de que acima De nós e compelindo-nos Agem outras presenças. Como acima dos gados que há nos campos O nosso esforço, que eles não compreendem, Os coage e obriga E eles não nos percebem, Nossa vontade e o nosso pensamento São as mãos pelas quais outros nos guiam Para onde eles querem E nós não desejamos. 16/10/1914
Ricardo Reis
Antes de nós nos mesmos arvoredos Passou o vento, quando havia vento, E as folhas não falavam De outro modo do que hoje. Passamos e agitamo-nos debalde. Não fazemos mais ruído no que existe Do que as folhas das árvores Ou os passos do vento. Tentemos pois com abandono assíduo Entregar nosso esforço à Natureza E não querer mais vida Que a das árvores verdes. Inutilmente parecemos grandes. Salvo nós nada pelo mundo fora Nos saúda a grandeza Nem sem querer nos serve. Se aqui, à beira-mar, o meu indício Na areia o mar com ondas três o apaga, Que fará na alta praia Em que o mar é o Tempo? 08/10/1914
Ricardo Reis
Sofro, Lídia, do medo do destino. A leve pedra que um momento ergue As lisas rodas do meu carro, aterra Meu coração. Tudo quanto me ameace de mudar-me Para melhor que seja, odeio e fujo. Deixem-me os deuses minha vida sempre Sem renovar Meus dias, mas que um passe e outro passe Ficando eu sempre quase o mesmo; indo Para a velhice como um dia entra No anoitecer. 26/05/1917
Ricardo Reis
Anjos ou deuses, sempre nós tivemos A visão perturbada de que acima De nós e compelindo-nos Agem outras presenças. Como acima dos gados que há nos campos O nosso esforço, que eles não compreendem, Os coage e obriga E eles não nos percebem, Nossa vontade e o nosso pensamento São as mãos pelas quais outros nos guiam Para onde eles querem E nós não desejamos. 16/10/1914
Ricardo Reis
Antes de nós nos mesmos arvoredos Passou o vento, quando havia vento, E as folhas não falavam De outro modo do que hoje. Passamos e agitamo-nos debalde. Não fazemos mais ruído no que existe Do que as folhas das árvores Ou os passos do vento. Tentemos pois com abandono assíduo Entregar nosso esforço à Natureza E não querer mais vida Que a das árvores verdes. Inutilmente parecemos grandes. Salvo nós nada pelo mundo fora Nos saúda a grandeza Nem sem querer nos serve. Se aqui, à beira-mar, o meu indício Na areia o mar com ondas três o apaga, Que fará na alta praia Em que o mar é o Tempo? 08/10/1914
Ricardo Reis
Sofro, Lídia, do medo do destino. A leve pedra que um momento ergue As lisas rodas do meu carro, aterra Meu coração. Tudo quanto me ameace de mudar-me Para melhor que seja, odeio e fujo. Deixem-me os deuses minha vida sempre Sem renovar Meus dias, mas que um passe e outro passe Ficando eu sempre quase o mesmo; indo Para a velhice como um dia entra No anoitecer. 26/05/1917
Ricardo Reis
Anjos ou deuses, sempre nós tivemos A visão perturbada de que acima De nós e compelindo-nos Agem outras presenças. Como acima dos gados que há nos campos O nosso esforço, que eles não compreendem, Os coage e obriga E eles não nos percebem, Nossa vontade e o nosso pensamento São as mãos pelas quais outros nos guiam Para onde eles querem E nós não desejamos. 16/10/1914
Ricardo Reis
Antes de nós nos mesmos arvoredos Passou o vento, quando havia vento, E as folhas não falavam De outro modo do que hoje. Passamos e agitamo-nos debalde. Não fazemos mais ruído no que existe Do que as folhas das árvores Ou os passos do vento. Tentemos pois com abandono assíduo Entregar nosso esforço à Natureza E não querer mais vida Que a das árvores verdes. Inutilmente parecemos grandes. Salvo nós nada pelo mundo fora Nos saúda a grandeza Nem sem querer nos serve. Se aqui, à beira-mar, o meu indício Na areia o mar com ondas três o apaga, Que fará na alta praia Em que o mar é o Tempo? 08/10/1914