Poemas sobre Encontros
Versos que retratam encontros significativos na vida, sejam eles românticos, amigáveis ou espirituais.
Joaquim Maria Machado de Assis
Eu conheço a mais bela flor; És tu, rosa da mocidade, Nascida aberta para o amor. Eu conheço a mais bela flor. Tem do céu a serena cor, E o perfume da virgindade. Eu conheço a mais bela flor, És tu, rosa da mocidade. Vive às vezes na solidão, Como filha da brisa agreste. Teme acaso indiscreta mão; Vive às vezes na solidão. Poupa a raiva do furacão Suas folhas de azul celeste. Vive às vezes na solidão, Como filha da brisa agreste. Colhe-se antes que venha o mal, Colhe-se antes que chegue o inverno; Que a flor morta já nada val. Colhe-se antes que venha o mal. Quando a terra é mais jovial Todo o bem nos parece eterno. Colhe-se antes que venha o mal, Colhe-se antes que chegue o inverno.
Manuel Bandeira
Meu tudo, minha amada e minha amiga, Eis, compendiada toda num soneto, A minha profissão de fé e afeto, Que à confissão, posto aos teus pés, me obriga. O que n'alma guardei de muita antiga Experiência foi pena e ansiar inquieto. Gosto pouco do amor ideal objeto Só, e do amor só carnal não gosto miga. O que há melhor no amor é a iluminância. Mas, ai de nós! não vem de nós. Viria De onde? Dos céus?... Dos longes da distância?... Não te prometo os estos, a alegria, A assunção... Mas em toda circunstância Ser-te-ei sincero como a luz do dia.
Ricardo Reis
Um verso repete Uma brisa fresca, O verão nas ervas, E vazio sofre ao sol O átrio abandonado. Ou, no inverno, ao longe Os cimos de neve, À lareira toadas Dos contos herdados, E um verso a dizê-lo. Os deuses concedem Poucos mais prazeres Que estes, que são nada. Mas também concedem Não querermos outros.
Ricardo Reis
Um verso repete Uma brisa fresca, O verão nas ervas, E vazio sofre ao sol O átrio abandonado. Ou, no inverno, ao longe Os cimos de neve, À lareira toadas Dos contos herdados, E um verso a dizê-lo. Os deuses concedem Poucos mais prazeres Que estes, que são nada. Mas também concedem Não querermos outros.
Ricardo Reis
Sob estas árvores ou aquelas árvores Conduzi a dança, Conduzi a dança, ninfas singelas Até ao amplo gozo Que tomais da vida. Conduzi a dança E sê quase humanas Com o vosso gozo derramado em ritmos Em ritmos solenes Que a nossa alegria torna maliciosos Para nossa triste Vida que não sabe sob as mesmas árvores Conduzir a dança...
Ricardo Reis
No momento em que vamos pelos prados E o nosso amor é um terceiro ali, Que usurpa que saibamos Um ao certo do outro, Nesse momento, em que o que vemos mesmo Sem o vermos na própria essência entra Da nossa alma comum — Lídia, nesse momento De tão sentir o amor não sei dizer-to, Antes, se falo, só dos prados falo E põe-se música ao meu Eros connosco invisível.
Ricardo Reis
No momento em que vamos pelos prados E o nosso amor é um terceiro ali, Que usurpa que saibamos Um ao certo do outro, Nesse momento, em que o que vemos mesmo Sem o vermos na própria essência entra Da nossa alma comum — Lídia, nesse momento De tão sentir o amor não sei dizer-to, Antes, se falo, só dos prados falo E põe-se música ao meu Eros connosco invisível.
Álvaro de Campos
A Praça da Figueira de manhã, Quando o dia é de sol (como acontece Sempre em Lisboa), nunca em mim esquece, Embora seja uma memória vã. Há tanta coisa mais interessante Que aquele lugar lógico e plebeu! Mas amo aquilo, mesmo assim... Sei eu Porque o amo? Não importa nada... Adiante! Isto de sensações só vale a pena Se a gente se não põe a olhar para elas. Nenhuma delas em mim é serena... De resto, nada em mim é certo e está De acordo consigo próprio... As horas belas São as dos outros, ou as que não há. Londres (uns cinco meses antes do Opiário) Outubro 1913
Álvaro de Campos
O florir do encontro casual Dos que hão sempre de ficar estranhos... O único olhar sem interesse recebido no acaso Da estrangeira rápida... O olhar de interesse da criança trazida pela mão Da mãe distraída... As palavras de episódio trocadas Com o viajante episódico Na episódica viagem... Grandes mágoas de todas as coisas serem bocados... Caminho sem fim... 30/04/1926
Álvaro de Campos
No lugar dos palácios desertos e em ruínas À beira do mar, Leiamos, sorrindo, os segredos das sinas De quem sabe amar. Qualquer que ele seja, o destino daqueles Que o amor levou Para a sombra, ou na luz se fez a sombra deles, Qualquer fosse o voo. Por certo eles foram mais reais e felizes. 01/03/1917
Álvaro de Campos
O florir do encontro casual Dos que hão sempre de ficar estranhos... O único olhar sem interesse recebido no acaso Da estrangeira rápida... O olhar de interesse da criança trazida pela mão Da mãe distraída... As palavras de episódio trocadas Com o viajante episódico Na episódica viagem... Grandes mágoas de todas as coisas serem bocados... Caminho sem fim... 30/04/1926
Álvaro de Campos
No lugar dos palácios desertos e em ruínas À beira do mar, Leiamos, sorrindo, os segredos das sinas De quem sabe amar. Qualquer que ele seja, o destino daqueles Que o amor levou Para a sombra, ou na luz se fez a sombra deles, Qualquer fosse o voo. Por certo eles foram mais reais e felizes. 01/03/1917
Álvaro de Campos
O florir do encontro casual Dos que hão sempre de ficar estranhos... O único olhar sem interesse recebido no acaso Da estrangeira rápida... O olhar de interesse da criança trazida pela mão Da mãe distraída... As palavras de episódio trocadas Com o viajante episódico Na episódica viagem... Grandes mágoas de todas as coisas serem bocados... Caminho sem fim... 30/04/1926
Álvaro de Campos
São poucos os momentos de prazer na vida... É gozá-la... Sim, já o ouvi dizer muitas vezes Eu mesmo já o disse. (Repetir é viver.) É gozá-la não é verdade? Gozêmo-la, loura falsa, gozêmo-la, casuais e incógnitos, Tu, com teus gestos de distinção cinematográfica Com teus olhares para o lado a nada, Cumprindo a tua função de animal emaranhado; Eu no plano inclinado da consciência para a indiferença, Amemo-nos aqui. Tempo é só um dia. Tenhamos o [romantismo?] dele! Por trás de mim vigio, involuntariamente. Sou qualquer nas palavras que te digo, e são suaves — e as que esperas. Do lado de cá dos meus Alpes, e que Alpes! somos do corpo. Nada quebra a passagem prometida de uma ligação futura, E vai tudo elegantemente, como em Paris, Londres, Berlim. "Percebe-se", dizes, «que o senhor viveu muito no estrangeiro." E eu que sinto vaidade em ouvi-lo! Só tenho medo que me vás falar da tua vida... Cabaret de Lisboa? Visto que o é, seja. Lembro-me subitamente, visualmente, do anúncio no jornal... "Rendez-vous da sociedade elegante", Isto. Mas nada destas reflexões temerárias e futuras Interrompe aquela conversa involuntária em que te sou qualquer. Falo medias e imitações E cada vez, vejo e sinto, gostas mais de mim a valer que (...) hoje; É nesta altura que, debruçando-me de repente sobre a mesa Te segredo em segredo o que exactamente convinha. Ris, toda olhar e em parte boca, efusiva e próxima, E eu gosto verdadeiramente de ti. Soa em nós o gesto sexual de nos irmos embora. Rodo a cabeça para o pagamento... Alegre, alacre, sentindo-te, falas... Sorrio. Por trás do sorriso, não sou eu.
Álvaro de Campos
Ah, os primeiros minutos nos cafés de novas cidades! A chegada pela manhã a cais ou a gares Cheios de um silêncio repousado e claro! Os primeiros passantes nas ruas das cidades a que se chega... E o som especial que o correr das horas tem nas viagens... Os ónibus ou os eléctricos ou os automóveis... O novo aspecto das ruas de novas terras... A paz que parecem ter para a nossa dor O bulício alegre para a nossa tristeza A falta de monotonia para o nosso coração cansado!... As praças nitidamente quadradas e grandes, As ruas com as casas que se aproximam ao fim, As ruas transversais revelando súbitos interesses, E através disto tudo, como uma coisa que inunda e nunca transborda, O movimento, o movimento Rápida coisa colorida e humana que passa e fica... Os portos com navios parados. Excessivamente navios parados, Com barcos pequenos ao pé esperando...
Álvaro de Campos
São poucos os momentos de prazer na vida... É gozá-la... Sim, já o ouvi dizer muitas vezes Eu mesmo já o disse. (Repetir é viver.) É gozá-la não é verdade? Gozêmo-la, loura falsa, gozêmo-la, casuais e incógnitos, Tu, com teus gestos de distinção cinematográfica Com teus olhares para o lado a nada, Cumprindo a tua função de animal emaranhado; Eu no plano inclinado da consciência para a indiferença, Amemo-nos aqui. Tempo é só um dia. Tenhamos o [romantismo?] dele! Por trás de mim vigio, involuntariamente. Sou qualquer nas palavras que te digo, e são suaves — e as que esperas. Do lado de cá dos meus Alpes, e que Alpes! somos do corpo. Nada quebra a passagem prometida de uma ligação futura, E vai tudo elegantemente, como em Paris, Londres, Berlim. "Percebe-se", dizes, «que o senhor viveu muito no estrangeiro." E eu que sinto vaidade em ouvi-lo! Só tenho medo que me vás falar da tua vida... Cabaret de Lisboa? Visto que o é, seja. Lembro-me subitamente, visualmente, do anúncio no jornal... "Rendez-vous da sociedade elegante", Isto. Mas nada destas reflexões temerárias e futuras Interrompe aquela conversa involuntária em que te sou qualquer. Falo medias e imitações E cada vez, vejo e sinto, gostas mais de mim a valer que (...) hoje; É nesta altura que, debruçando-me de repente sobre a mesa Te segredo em segredo o que exactamente convinha. Ris, toda olhar e em parte boca, efusiva e próxima, E eu gosto verdadeiramente de ti. Soa em nós o gesto sexual de nos irmos embora. Rodo a cabeça para o pagamento... Alegre, alacre, sentindo-te, falas... Sorrio. Por trás do sorriso, não sou eu.
Ricardo Reis
Um verso repete Uma brisa fresca, O verão nas ervas, E vazio sofre ao sol O átrio abandonado. Ou, no inverno, ao longe Os cimos de neve, À lareira toadas Dos contos herdados, E um verso a dizê-lo. Os deuses concedem Poucos mais prazeres Que estes, que são nada. Mas também concedem Não querermos outros.