Fernando Pessoa
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Deixo ao cego e ao surdo

Deixo ao cego e ao surdo

Mil-Frases

há 1 ano
Um poema de Fernando Pessoa

Deixo ao cego e ao surdo A alma com fronteiras, Que eu quero sentir tudo De todas as maneiras.

Do alto de ter consciência Contemplo a terra e o céu Olho-os com inocência... Nada que vejo é meu.

Mas vejo tão atento Tão neles me disperso Que cada pensamento Me torna já diverso.

E como são estilhaços Do ser, as coisas dispersas Quebro a alma em pedaços E em pessoas diversas.

E se a própria alma vejo Com outro olhar, Pergunto se há ensejo De por isto a julgar.

Ah, tanto como a terra E o mar e o vasto céu. Quem se crê próprio erra, Sou vário e não sou meu.

Se as coisas são estilhaços Do saber do universo, Seja eu os meus pedaços, Impreciso e diverso.

Se quanto sinto é alheio E de mim se sente, Como é que a alma veio A acabar-se em ente?

Assim eu me acomodo Com o que Deus criou, Deixo teu diverso modo Diversos modos sou.

Assim a Deus imito, Que quando fez o que é Tirou-lhe o infinito E a unidade até.

24/08/1930


Este poema de Fernando Pessoa, intitulado "Deixo ao cego e ao surdo", reflete sobre a experiência humana de perceber o mundo através dos sentidos. O eu lírico expressa o desejo de sentir tudo de todas as maneiras, mesmo que seja apenas através da consciên
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