Uma pesada, rude canseira Toma-me todo. Por mal de mim, Ela me é cara... De tal maneira, Que às vezes gosto que seja assim... É bem verdade que me tortura Mais do que as dores que já conheço. E em tais momentos se me afigura Que estou morrendo... que desfaleço... Lembrança amarga do meu passado... Como ela punge! Como ela dói! Porque hoje o vejo mais desolado, Mais desgraçado do que ele foi... Tédios e penas cuja memória Me era mais leve que a cinza leve, Pesam-me agora... contam-me a história Do que a minh'alma quis e não teve... O ermo infinito do meu desejo Alonga, amplia cada pesar... Pesar doentio... Tudo o que vejo Tem uma tinta crepuscular... Faço em segredo canções mais tristes E mais ingênuas que as de Fortúnio: Canções ingênuas que nunca ouvistes, Volúpia obscura deste infortúnio... Às vezes volvo, por esquecê-la, À vista súplice em derredor. Mas tenho medo de que sem ela A desventura seja maior... Sem pensamentos e sem cuidados, Minh'alma tímida e pervertida, Queda-se de olhos desencantados Para o sagrado labor da vida... Teresópolis, 1912