Erguido em negro mármor luzidio, Portas fechadas, num mistério enorme, Numa terra de reis, mudo e sombrio, Sono de lendas um palácio dorme.
Torvo, imoto em seu leito, um rio o cinge, E, à luz dos plenilúnios argentados, Vê-se em bronze uma antiga e bronca esfinge, E lamentam-se arbustos encantados.
Dentro, assombro e mudez! quedas figuras De reis e de rainhas; penduradas Pelo muro panóplias, armaduras, Dardos, elmos, punhais, piques, espadas.
E inda ornada de gemas e vestida De tiros de matiz de ardentes cores, Uma bela princesa está sem vida Sobre um toro fantástico de flores.
Traz o colo estrelado de diamantes, Colo mais claro do que a espuma jônia. E rolam-lhe os cabelos abundantes Sobre peles nevadas de Issedônia.
Entre o frio esplendor dos artefactos, Em seu régio vestíbulo de assombros. Há uma guarda de anões estupefactos, Com trombetas de ébano nos ombros.
E o silêncio por tudo! nem de um passo Dão sinal os extensos corredores; Só a lua, alta noite, um raio baço Põe da morta no tálamo de flores.
Publicado no livro Ramo de árvore (1922).
In: OLIVEIRA, Alberto de. Poesias completas. Ed. crít. Marco Aurélio Mello Reis. Rio de Janeiro: Núcleo Ed. da UERJ, 1978. v.1. (Fluminense