(...) "Vivo co'os mortos, Na cova os ponho, Entre eles durmo, Com eles sonho. Quantos defuntos Já enterrei! Defunto eu mesmo Também serei. No pão que como, No ar que respiro, Na água que bebo, A morte aspiro. Já cheira a morto O corpo meu. Abre-te, oh terra, Que serei teu. Da morte o aspecto Já não me assusta, Que a vida ganho Da morte à custa. Sempre cavando Sem descansar, Vivo enterrado, Para enterrar. Um dia, ou outro, Cavando o fosso, Co'o cheiro infecto, Cair bem posso. Agora mesmo Posso cair!... Não diz a morte Quando há de vir. Mas os que folgam Na excelsa Corte Não estão mais longe Das mãos da morte. Cá os espera A minha pá... O que foi terra, Terra será. Quantos lá vivem Nessa cidade Aqui têm todos Segura herdade. Ricos e pobres, Todos virão, Dormir no leito Da podridão. Ternos amantes, Pais extremosos, Esposos caros, Filhos saudosos, Vêde o que resta Do vosso amor: Podre cadáver, Que causa horror! (...) Publicado no livro Cânticos Fúnebres (1864). In: GRANDES poetas românticos do Brasil. Pref. e notas biogr. Antônio Soares Amora. Org. rev. e notas Frederico José da Silva Ramos. São Paulo: LEP, 194