Poemas de Aventura

Versos que exploram a emoção e a adrenalina das aventuras, tanto físicas quanto emocionais.

Uma imagem com a seguinte frase Futilidade, irrealidade, (...) estática de toda a arte,
Condenação dos artistas a não viver!

Ó quem nos dera, Walt,
A terceira coisa, a média entre a arte e vida
A coisa que sentiste, e não seja estática nem dinâmica,
Nem real nem irreal
Nem nós nem os outros —
Mas como até imaginá-la?
Ou mesmo apreendê-la
Mesmo sem a esperança de não a ter nunca?

A dinâmica pura, a velocidade em si,
Aquilo que dê absolutamente as coisas,
Aquilo que chegue tactilmente aos sentidos,
Construamos comboios, Walt, e não os cantemos,
Cavemos e não cantemos, meu velho, o cavador e o campo,

Provemos e não escrevamos,
Amemos e não construamos,
Metamos dois tiros de revólver na primeira cabeça com chapéu
E não façamos onomatopeias inúteis e vãs no nosso verso
No nosso verso escrito em prosa, e depois [....].

Poema que esculpisse em Móvel e Eterno a escultura,
Poema que (...)se palavras
Que (...) ritmo o canto, a dança e (...)
Poema que fosse todos os poemas,
Que dispensasse bem outros poemas,
Poema que dispensasse a Vida.
Irra, faço o que quero, estorça o que estorça no meu ser central,
Force o que force em meus nervos industriados a tudo,
Maquine o que maquine no meu cérebro furor e lucidez,
Sempre me escapa a coisa em que eu penso,
Sempre me falta a coisa que (...) e eu vou ver se me falta,
Sempre me falta, em cada cubo, seis faces,
Quatro lados em cada quadrado do que quis exprimir,
Três dimensões na solidez que procurei perpetuar...
Sempre um comboio de criança movido a corda, a corda,
Terá mais movimento que os meus versos estáticos e lidos,
Sempre o mais verme dos vermes, a mais química célula viva
Terá mais vida, mais Deus, que toda a vida dos meus versos,
Nunca como os duma pedra todos os vermelhos que eu descreva,
Nunca como numa música todos os ritmos que eu sugira!
Nunca como (...)
Eu nunca farei senão copiar um eco das coisas,
O reflexo das coisas reais no espelho baço de mim.

A morte de tudo na minha sensibilidade (que vibra tanto!)
A secura real eterna do rio lúcido da minha imaginação!
Quero cantar-te e não posso cantar-te, Walt!
Quero dar-te o canto que te convenha,
Mas nem a ti, nem a nada, — nem a mim, ai de mim! — dou um canto...
Sou um surdo-mudo berrando em voz alta os seus gestos,
Um cego fitando à roda do olhar um invisível-tudo

Assim te canto, Walt, dizendo que não posso cantar-te!
Meu velho comentador da multiplicidade das coisas,
Meu camarada em sentir nos nervos a dinâmica marcha
Da perfeita físico-química da
Da energia fundamental da aparência das coisas para Deus,
Da distinta forma de sujeito e objecto para além da vida

Andamos a jogar às escondidas com a nossa intenção...
Fazemos arte e o que queremos fazer afinal é a vida.
O que queremos fazer já está feito e não está em nós fazê-Io,
E fá-lo o [...] melhor do que nós, mais de perto,
Mais instintivamente [...]
Sim, se o que nos poemas é o que vibra e fala,
4O mais casto gesto da vida é mais sensual que o mais sensual dos poemas,
Porque é feito por alguém que vive, porque é (...) porque é Vida.

Álvaro de Campos

Futilidade, irrealidade, (...) estática de toda a arte, Condenação dos artistas a não viver! Ó quem nos dera, Walt, A terceira coisa, a média entre a arte e vida A coisa que sentiste, e não seja estática nem dinâmica, Nem real nem irreal Nem nós nem os outros — Mas como até imaginá-la? Ou mesmo apreendê-la Mesmo sem a esperança de não a ter nunca? A dinâmica pura, a velocidade em si, Aquilo que dê absolutamente as coisas, Aquilo que chegue tactilmente aos sentidos, Construamos comboios, Walt, e não os cantemos, Cavemos e não cantemos, meu velho, o cavador e o campo, Provemos e não escrevamos, Amemos e não construamos, Metamos dois tiros de revólver na primeira cabeça com chapéu E não façamos onomatopeias inúteis e vãs no nosso verso No nosso verso escrito em prosa, e depois [....]. Poema que esculpisse em Móvel e Eterno a escultura, Poema que (...)se palavras Que (...) ritmo o canto, a dança e (...) Poema que fosse todos os poemas, Que dispensasse bem outros poemas, Poema que dispensasse a Vida. Irra, faço o que quero, estorça o que estorça no meu ser central, Force o que force em meus nervos industriados a tudo, Maquine o que maquine no meu cérebro furor e lucidez, Sempre me escapa a coisa em que eu penso, Sempre me falta a coisa que (...) e eu vou ver se me falta, Sempre me falta, em cada cubo, seis faces, Quatro lados em cada quadrado do que quis exprimir, Três dimensões na solidez que procurei perpetuar... Sempre um comboio de criança movido a corda, a corda, Terá mais movimento que os meus versos estáticos e lidos, Sempre o mais verme dos vermes, a mais química célula viva Terá mais vida, mais Deus, que toda a vida dos meus versos, Nunca como os duma pedra todos os vermelhos que eu descreva, Nunca como numa música todos os ritmos que eu sugira! Nunca como (...) Eu nunca farei senão copiar um eco das coisas, O reflexo das coisas reais no espelho baço de mim. A morte de tudo na minha sensibilidade (que vibra tanto!) A secura real eterna do rio lúcido da minha imaginação! Quero cantar-te e não posso cantar-te, Walt! Quero dar-te o canto que te convenha, Mas nem a ti, nem a nada, — nem a mim, ai de mim! — dou um canto... Sou um surdo-mudo berrando em voz alta os seus gestos, Um cego fitando à roda do olhar um invisível-tudo Assim te canto, Walt, dizendo que não posso cantar-te! Meu velho comentador da multiplicidade das coisas, Meu camarada em sentir nos nervos a dinâmica marcha Da perfeita físico-química da Da energia fundamental da aparência das coisas para Deus, Da distinta forma de sujeito e objecto para além da vida Andamos a jogar às escondidas com a nossa intenção... Fazemos arte e o que queremos fazer afinal é a vida. O que queremos fazer já está feito e não está em nós fazê-Io, E fá-lo o [...] melhor do que nós, mais de perto, Mais instintivamente [...] Sim, se o que nos poemas é o que vibra e fala, 4O mais casto gesto da vida é mais sensual que o mais sensual dos poemas, Porque é feito por alguém que vive, porque é (...) porque é Vida.

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Uma imagem com a seguinte frase A PARTIDA

E eu o complexo, eu o numeroso,
Eu a saturnália de todas as possibilidades,
Eu o quebrar do dique de todas as personalizações,
Eu o excessivo, eu o sucessivo, eu o (...)
Eu o prolixo até de continências e paragens,
Eu que tenho vivido através do meu sangue e dos meus nervos
Todas as sensibilidades correspondentes a rodas as metafísicas
Que tenho desembarcado em todos os portos da alma,
Passado em aeroplano sobre todas as terras do espírito,
Eu o explorador de todos os sertões do raciocínio,
O (...)
O criador de Weltanschauungen,
Pródigo semeador pela minha própria indiferença
De correntes de moderno todas diferentes
Todas no momento em que são concebidas verdades
Todas pessoas diferentes, todas eu-próprio apenas —
Eu morrerei assim? Não: o universo é grande
E tem possibilidade de coisas infinitas acontecerem.
Não: tudo é melhor e maior que nós o pensamos
E a morte revelará coisas absolutamente inéditas...
Deus será mais contente.
Salve, ó novas coisas, a acontecer-me quando eu morrer,
Nova mobilidade do universo a despontar no meu horizonte
Quando definitivamente
Como um vapor largando do cais para longa viagem,
Com a banda de bordo a tocar o hino nacional da Alma
Eu largado para X, perturbado pela partida
Mas cheio da vaga esperança ignorante dos emigrantes,
Cheio de fé no Novo, de Crença limpa no Ultramar,
Eia — por aí fora, por esses mares internado,
À busca do meu futuro — nas terras, lagos e rios
Que ligam a redondeza da terra — todo o Universo —
Que oscila à vista. Eia por aí fora...
Ave atque vale, ó prodigioso Universo...

Haverá primeiro
Uma grande aceleração das sensações, um (...)
Com grandes dérapages nas estradas da minha consciência,
(...)
(E até à aterissage final do meu aero (...) )
Uma grande conglobação das sensações incontíguas,
Veloz silvo voraz do espaço entre a alma e Deus
Do meu (...)
Os meus estados de alma, de sucessivos, tornar-se-ão simultâneos,
Toda a minha individualidade se amarrotará num só ponto,
E quando, prestes a partir,
Tudo quanto vivo, e o que viverei para além do mundo,
Será fundido num só conjunto homogéneo e incandescente
E com um tal aumentar do ruído dos motores
Que se torna um ruído já não férreo, mas apenas abstracto,
Irei num silvo de sonho de velocidade pelo Incógnito fora
Deixando prados, paisagens, vilas dos dois lados
E cada vez mais no confim, nos longes do cognoscível,
Sulco de movimento no estaleiro das coisas,
Nova espécie de eternidade dinâmica ondeando através da eternidade estática —
s-s-s-ss-sss
z-z-z-z-z-z automóvel divino

Álvaro de Campos

A PARTIDA E eu o complexo, eu o numeroso, Eu a saturnália de todas as possibilidades, Eu o quebrar do dique de todas as personalizações, Eu o excessivo, eu o sucessivo, eu o (...) Eu o prolixo até de continências e paragens, Eu que tenho vivido através do meu sangue e dos meus nervos Todas as sensibilidades correspondentes a rodas as metafísicas Que tenho desembarcado em todos os portos da alma, Passado em aeroplano sobre todas as terras do espírito, Eu o explorador de todos os sertões do raciocínio, O (...) O criador de Weltanschauungen, Pródigo semeador pela minha própria indiferença De correntes de moderno todas diferentes Todas no momento em que são concebidas verdades Todas pessoas diferentes, todas eu-próprio apenas — Eu morrerei assim? Não: o universo é grande E tem possibilidade de coisas infinitas acontecerem. Não: tudo é melhor e maior que nós o pensamos E a morte revelará coisas absolutamente inéditas... Deus será mais contente. Salve, ó novas coisas, a acontecer-me quando eu morrer, Nova mobilidade do universo a despontar no meu horizonte Quando definitivamente Como um vapor largando do cais para longa viagem, Com a banda de bordo a tocar o hino nacional da Alma Eu largado para X, perturbado pela partida Mas cheio da vaga esperança ignorante dos emigrantes, Cheio de fé no Novo, de Crença limpa no Ultramar, Eia — por aí fora, por esses mares internado, À busca do meu futuro — nas terras, lagos e rios Que ligam a redondeza da terra — todo o Universo — Que oscila à vista. Eia por aí fora... Ave atque vale, ó prodigioso Universo... Haverá primeiro Uma grande aceleração das sensações, um (...) Com grandes dérapages nas estradas da minha consciência, (...) (E até à aterissage final do meu aero (...) ) Uma grande conglobação das sensações incontíguas, Veloz silvo voraz do espaço entre a alma e Deus Do meu (...) Os meus estados de alma, de sucessivos, tornar-se-ão simultâneos, Toda a minha individualidade se amarrotará num só ponto, E quando, prestes a partir, Tudo quanto vivo, e o que viverei para além do mundo, Será fundido num só conjunto homogéneo e incandescente E com um tal aumentar do ruído dos motores Que se torna um ruído já não férreo, mas apenas abstracto, Irei num silvo de sonho de velocidade pelo Incógnito fora Deixando prados, paisagens, vilas dos dois lados E cada vez mais no confim, nos longes do cognoscível, Sulco de movimento no estaleiro das coisas, Nova espécie de eternidade dinâmica ondeando através da eternidade estática — s-s-s-ss-sss z-z-z-z-z-z automóvel divino

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