Poemas de Aventura
Versos que exploram a emoção e a adrenalina das aventuras, tanto físicas quanto emocionais.
Joaquim Maria Machado de Assis
A M. Ferreira Guimarães (1863) Dous horizonte fecham nossa vida: Um horizonte, — a saudade Do que não há de voltar; Outro horizonte, — a esperança Dos tempos que hão de chegar; No presente, — sempre escuro, — Vive a alma ambiciosa Na ilusão voluptuosa Do passado e do futuro. Os doces brincos da infância Sob as asas maternais, O vôo das andorinhas, A onda viva e os rosais. O gozo do amor, sonhado Num olhar profundo e ardente, Tal é na hora presente O horizonte do passado. Ou ambição de grandeza Que no espírito calou, Desejo de amor sincero Que o coração não gozou; Ou um viver calmo e puro À alma convalescente, Tal é na hora presente O horizonte do futuro. No breve correr dos dias Sob o azul do céu, — tais são Limites no mar da vida: Saudade ou aspiração; Ao nosso espírito ardente, Na avidez do bem sonhado, Nunca o presente é passado, Nunca o futuro é presente. Que cismas, homem? — Perdido No mar das recordações, Escuto um eco sentido Das passadas ilusões. Que buscas, homem? — Procuro, Através da imensidade, Ler a doce realidade Das ilusões do futuro. Dous horizontes fecham nossa vida.
Joaquim Maria Machado de Assis
Eras pálida. E os cabelos, Aéreos, soltos novelos, Sobre as espáduas caíam. .. Os olhos meio-cerrados De volúpia e de ternura Entre lágrimas luziam. .. E os braços entrelaçados, Como cingindo a ventura, Ao teu seio me cingiram. .. Depois, naquele delírio, Suave, doce martírio De pouquíssimos instantes Os teus lábios sequiosos, Frios trêmulos, trocavam Os beijos mais delirantes, E no supremo dos gozos Ante os anjos se casavam Nossas almas palpitantes. .. Depois. .. depois a verdade, A fria realidade, A solidão, a tristeza; Daquele sonho desperto, Olhei. .. silêncio de morte Respirava a natureza — Era a terra, era o deserto, Fora-se o doce transporte, Restava a fria certeza. Desfizera-se a mentira: Tudo aos meus olhos fugira; Tu e o teu olhar ardente, Lábios trêmulos e frios, O abraço longo e apertado, O beijo doce e veemente; Restavam meus desvarios, E o incessante cuidado, E a fantasia doente. E agora te vejo. E fria Tão outra estás da que eu via Naquele sonho encantado! És outra, calma, discreta, Com o olhar indiferente, Tão outro do olhar sonhado, Que a minha alma de poeta Não vê se a imagem presente Foi a imagem do passado. Foi, sim, mas visão apenas; Daquelas visões amenas Que à mente dos infelizes Descem vivas e animadas, Cheias de luz e esperança E de celestes matizes: Mas, apenas dissipadas, Fica uma leve lembrança, Não ficam outras raízes. Inda assim, embora sonho, Mas sonho doce e risonho, Desse-me Deus que fingida Tivesse aquela ventura Noite por noite, hora a hora, No que me resta de vida, Que, já livre da amargura, Alma, que em dores me chora, Chorara de agradecida!
Joaquim Maria Machado de Assis
Sei de uma criatura antiga e formidável, Que a si mesma devora os membros e as entranhas, Com a sofreguidão da fome insaciável. Habita juntamente os vales e as montanhas; E no mar, que se rasga, à maneira de abismo, Espreguiça-se toda em convulsões estranhas. Traz impresso na fronte o obscuro despotismo. Cada olhar que despede, acerbo e mavioso, Parece uma expansão de amor e de egoísmo. Friamente contempla o desespero e o gozo, Gosta do colibri, como gosta do verme, E cinge ao coração o belo e o monstruoso. Para ela o chacal é, como a rola, inerme; E caminha na terra imperturbável, como Pelo vasto areal um vasto paquiderme. Na árvore que rebenta o seu primeiro gomo Vem a folha, que lento e lento se desdobra, Depois a flor, depois o suspirado pomo. Pois esta criatura está em toda a obra; Cresta o seio da flor e corrompe-lhe o fruto; E é nesse destruir que as forças dobra. Ama de igual amor o poluto e o impoluto; Começa e recomeça uma perpétua lida, E sorrindo obedece ao divino estatuto. Tu dirás que é a Morte; eu direi que é a Vida.
Joaquim Maria Machado de Assis
Canto VII II Eis que um sonho, agitando as asas brancas Leve espalha no cérebro do Almada, Como gotas de chuva rara e fina, Um pó sutil de mágicas patranhas. Sonha. .. Em que há de sonhar o grão prelado? Vê no espaço um ginete alto e possante À solta galopando, e logo nele, Elmo de ouro, armadura de aço fino, A briosa figura de um guerreiro. Tenta irritado o indômito cavalo O cavaleiro sacudir na terra, Mastiga o freio, empina-se, escoiceia, Voa de norte a sul, de leste a oeste, Ora, a pata veloz roça nos mares, Ora, igual ao tufão, descose as nuvens, Mas o galhardo cavaleiro as rédeas Coas fortes mãos encurta, e pouco a pouco O ríspido quadrúpede sossega E pára no ar. No rosto do guerreiro Vê as próprias feições o grande Almada, Olhos, cabelos, boca, faces, tudo, Tudo é dele. Ó prodígio! Voz solene Do ponto mais recôndito do espaço, Onde estrela não há, não há planeta, Estas palavras singulares solta: "O bravo cavaleiro és tu, prelado, E o domado corcel é o teu rebanho, Que embalde morde o freio e se rebela Contra ti que hás vencido el-rei e o povo, Tornando em cinzas o atrevido Mustre." III Deste agradável sonho consolado, Abre o pastor os olhos, vira o corpo, E outra vez adormece. Novo quadro E diverso lhe pinta a fantasia. Vê-se diante de provida mesa, À direita do papa, e come e bebe De cem bispos servido. Entusiasmado Com as finezas de Alexandre Sétimo, O prelado um discurso principia Depois de haver tossido quatro vezes. Os olhos fita num painel que estava Na fronteira parede; a mão do artista O belo e forte arcanjo debuxara Que a Satanás venceu; às plantas suas Jaz o eterno rebelde. Entrava apenas No magnífico exórdio do discurso O valoroso Almada, quando a tela A tremer começou; subitamente O brilhante Miguel desaparece, E o diabo que ali prostrado fora Toma a figura do execrando Mustre, Levanta-se do chão; e com desprezo, E com gesto de escárnio e de ameaça, Os turvos olhos no prelado fita E a devassa fatal nas mãos sustenta. Pasmam do caso os circunstantes todos, Enquanto o forte Almada tropeçando Nas cadeiras, nos vasos, nas cortinas, Foge aterrado, uma janela busca, Dela, sem ver a altura, se despenha, E de abismo em abismo vai rolando Até cair da própria cama abaixo. Imagem - 00010001 Publicado no livro Outras relíquias: prosa e verso (1910). In: ASSIS, Machado de. Obra completa. Org. Afrânio Coutinho. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. v.3, p.269-270. (Biblioteca luso-brasileira. Série brasileira) NOTA: Poema inacabado, composto de 8 cantos. O canto 7 é composto de 17 parte
Manuel Bandeira
Vai alto o dia. O sola pino ofusca e vibra. O ar é como de forja. A força nova e pura Da vida embriaga e exalta. E eu sinto, fibra a fibra, Avassalar-me o ser a vontade da cura. A energia vital que no ventre profundo Da Terra estuante ofega e penetra as raízes, Sobe no caule, faz todo galho fecundo E estala na amplidão das ramadas felizes, Entra-me como um vinho acre pelas narinas... Arde-me na garganta... E nas artérias sinto O bálsamo aromado e quente das resinas Que vem na exalação de cada terebinto. O furor de criação dionisíaco estua No fundo das rechãs, no flanco das montanhas, E eu absorvo-o nos sons, na glória da luz crua E ouço-o ardente bater dentro em minhas entranhas. Tenho êxtases de santo... Ânsias para a virtude... Canta em minh'alma absorta um mundo de harmonias. Vêm-me audácias de herói... Sonho o que jamais pude — Belo como Davi, forte como Golias... E neste curto instante em que todo me exalto De tudo o que não sou, gozo tudo o que invejo, E nunca o sonho humano assim subiu tão alto Nem flamejou mais bela a chama do desejo. E tudo isso me vem de vós, Mãe Natureza! Vós que cicatrizais minha velha ferida... Vós que me dais o grande exemplo de beleza E me dais o divino apetite da vida! Clavadel, 1914
Manuel Bandeira
A chuva cai. O ar fica mole... Indistinto... ambarino... gris... E no monótono matiz Da névoa enovelada bole A folhagem como a bailar. Torvelinhai, torrentes do ar! Cantai, ó bátega chorosa, As velhas árias funerais. Minh'alma sofre e sonha e goza À cantilena dos beirais. Meu coração está sedento De tão ardido pelo pranto. Dai um brando acompanhamento À canção do meu desencanto. Volúpia dos abandonados... Dos sós... — ouvir a água escorrer, Lavando o tédio dos telhados Que se sentem envelhecer... Ó caro ruído embalador, Terno como a canção das amas! Canta as baladas que mais amas, Para embalar a minha dor! A chuva cai. À chuva aumenta. Cai, benfazeja, a bom cair! Contenta as árvores! Contenta As sementes que vão abrir! Eu te bendigo, água que inundas! Ó água amiga das raízes, Que na mudez das terras fundas Às vezes são tão infelizes! E eu te amo! Quer quando fustigas Ao sopro mau dos vendavais As grandes árvores antigas, Quer quando mansamente cais. É que na tua voz selvagem, Voz de cortante, álgida mágoa, Aprendi na cidade a ouvir Como um eco que vem na aragem A estrugir, rugir e mugir, O lamento das quedas d'água!
Manuel Bandeira
Como da copa verde uma folha caída Treme e deriva à flor do arroio fugidio, Deixa-te assim também derivar pela vida, Que é como um largo, ondeante e misterioso rio... Até que te surpreenda a carne dolorida Aquela sensação final de eterno frio, Abre-te à luz do sol que à alegria convida, E enche-te de canções, ó coração vazio! A asa do vento esflora as camélias e as rosas. Toda a paisagem canta. E das moitas cheirosas O aroma dos mirtais sobe nos céus escampos. Vai beber o pleno ar... E enquanto lá repousas, Esquece as mágoas vãs na poesia dos campos E deixa transfundir-te, alma, na alma das cousas... Teresópolis, 1906 À BEIRA D'ÁGUA D'água o fluido lençol, onde em áscuas cintila O sol, que no cristal argênteo se refrata, Crepitando na pedra, a cuja borda oscila, Cai, gemendo e cantando, ao fundo da cascata. Parece a grave queixa, atroando em torno a mata, Contar não sei que mágoa inconsolada, e a ouvi-la A alma se nos escapa e vai perder-se abstrata Na avassalante paz da solidão tranqjúila... Às vezes, a tremer na fraga faiscante, Passa uma folha verde, e sobre a veia ondeante Abandona-se toda, ansiosa pelo mar... E vendo-a mergulhar na espuma que a sacode, Não sei que íntimo e vago anseio ali me acode De cair como a folha e deixar-me levar... Teresópolis, 1906
Manuel Bandeira
O que tu chamas tua paixão, E tão-somente curiosidade. E os teus desejos ferventes vão Batendo as asas na irrealidade... Curiosidade sentimental Do seu aroma, da sua pele. Sonhas um ventre de alvura tal, Que escuro o linho fique ao pé dele. Dentre os perfumes sutis que vêm Das suas charpas, dos seus vestidos, Isolar tentas o odor que tem A trama rara dos seus tecidos. Encanto a encanto, toda a prevês. Afagos longos, carinhos sábios, Carícias lentas, de uma maciez Que se diriam feitas por lábios... Tu te perguntas, curioso, quais Serão seus gestos, balbuciamento, Quando descerdes nas espirais Deslumbradoras do esquecimento... E acima disso, buscas saber Os seus instintos, suas tendências... Espiar-lhe na alma por conhecer O que há sincero nas aparências. E os teus desejos ferventes vão Batendo as asas na irrealidade... O que tu chamas tua paixão, É tão-somente curiosidade.
Manuel Bandeira
Quando na grave solidão do Atlântico Olhavas da amurada do navio O mar já luminoso e já sombrio, Lenau! teu grande espírito romântico Suspirava por ver dentro das ondas Até o álveo profundo das areias, A enxergar alvas formas de sereias De braços nus e nádegas redondas. Ilusão! que sem cauda aqueles seres, Deixando o ermo monótono das águas, Andam em terra suscitando mágoas, Misturadas às filhas das mulheres. Nikolaus Lenau, poeta da amargura! Uma te amou, chamava-se Sofia. E te levou pela melancolia Ao oceano sem fundo da loucura.
Manuel Bandeira
Torna a meu leito, Colombina! Não procures em outros braços Os requintes em que se afina A volúpia dos meus abraços. Os atletas poderão dar-te O amor próximo das sevícias... Só eu possuo a ingênua arte Das indefiníveis carícias... Meus magros dedos dissolutos Conhecem todos os afagos Para os teus olhos sempre enxutos Mudar em dois brumosos lagos... Quando em êxtase os olhos viro, Ah se pudesses, fútil presa, Sentir na dor do meu suspiro A minha infinita tristeza!... Insensato aquele que busca O amor na fúria dionisíaca! Por mim desamo a posse brusca. A volúpia é cisma elegíaca... A volúpia é bruma que esconde Abismos de melancolia... Flor de tristes pântanos onde Mais que a morte a vida é sombria... Minh'alma lírica de amante Despedaçada de soluços, Minh'alma ingênua, extravagante, Aspira a desoras de bruços Não às alegrias impuras, Mas a aquelas rosas simbólicas De vossas ardentes ternuras, Grandes místicas melancólicas!...
Manuel Bandeira
Eu estava contigo. Os nossos dominós eram negros, e negras eram as nossas máscaras. Íamos, por entre a turba, com solenidade, Bem conscientes do nosso ar lúgubre Tão contrastado pelo sentimento de felicidade Que nos penetrava. Um lento, suave júbilo Que nos penetrava... Que nos penetrava como uma espada de fogo... Como a espada de fogo que apunhalava as santas extáticas! E a impressão em meu sonho era que se estávamos Assim de negro, assim por fora inteiramente de negro, — Dentro de nós, ao contrário, era tudo claro e luminoso! Era terça-feira gorda. A multidão inumerável Burburinhava. Entre clangores de fanfarra Passavam préstitos apoteóticos. Eram alegorias ingênuas ao gosto popular, em cores cruas. Iam em cima, empoleiradas, mulheres de má vida, De peitos enormes — Vênus para caixeiros. Figuravam deusas — deusa disto, deusa daquilo, já tontas e seminuas. A turba, ávida de promiscuidade, Acotovelava-se com algazarra, Aclamava-as com alarido E, aqui e ali, virgens atiravam-lhes flores. Nós caminhávamos de mãos dadas, com solenidade, O ar lúgubre, negros, negros... Mas dentro em nós era tudo claro e luminoso! Nem a alegria estava ali, fora de nós. A alegria estava em nós. Era dentro de nós que estava a alegria, — A profunda, a silenciosa alegria...
Manuel Bandeira
Eu quis um dia, como Schumann, compor Um carnaval todo subjetivo: Um carnaval em que o só motivo Fosse o meu próprio ser interior... Quando o acabei — a diferença que havia! O de Schumann é um poema cheio de amor, E de frescura, e de mocidade... E o meu tinha a morta mortacor Da senilidade e da amargura... — O meu carnaval sem nenhuma alegria!... 1919
Manuel Bandeira
Os cavalinhos correndo, E nós, cavalões, comendo... Tua beleza, Esmeralda, Acabou me enlouquecendo. Os cavalinhos correndo, E nós, cavalões, comendo... O sol tão claro lá fora, E em minh'alma — anoitecendo! Os cavalinhos correndo, E nós, cavalões, comendo... Alfonso Reyes partindo, E tanta gente ficando... Os cavalinhos correndo, E nós, cavalões, comendo... A Itália falando grosso, A Europa se avacalhando... Os cavalinhos correndo, E nós, cavalões, comendo... O Brasil politicando, Nossa! A poesia morrendo... O sol tão claro lá fora, O sol tão claro, Esmeralda, E em minh'alma — anoitecendo!
Manuel Bandeira
I Vejo-a dançando tão leve e linda, Tão linda e leve como nenhuma Não dança, voa como uma pluma Largada ao vento. E quando passa, dançando ainda, Leva consigo meu pensamento. II Entras, mimosa e cândida, E enleado em teu perfume Gagueja um poeta pálido: Du bist wie eine Blume... III Soltos, desnastros, Esvoaçantes, Num fulgor de astros, Quem dera vê-los, Nas madrugadas, Os teus cabelos, Loucos, errantes, Sobre as espáduas maravilhadas!... IV Qual o mistério de terdes Uns olhos que tanto encantam? Que sereias é que cantam Na água desses olhos verdes? V Aparece... E uma luz irradia na sala Como de uma primeira estrela em céu de opala.
Manuel Bandeira
A vida ia tomando forma e cor, rompia... Eu estava tão presa a ti, que não sabia Onde acabava eu e começavas tu. Mas ela mesma, a vida, a borbulhar selvagem No uivo dos animais, no viço da folhagem — Em tudo, no teu corpo e no meu corpo nu — Ela mesma nos separou. As cordilheiras Afundaram no oceano. As vozes derradeiras Dos bichos que no abismo iam todos morrer, Enchiam-me de assombro... E conheci na treva A maior dor, a dor da força que me leva Para longe de ti. Meu ser pelo teu ser Clamou... Clamou debalde. Em mim subitamente Tudo descorou, tudo envelheceu. Ao quente Meu coração de outrora, hoje tarde reflui Um sangue pobre em que já não palpita nada. Como a planta sem ar, murchei. Branca e gelada, Não sou mais do que uma lembrança do que fui. Embora! Testemunhei eu só, aquela Que trouxe a vida em si mais luminosa e bela Do que nunca a sonhaste, a glória deste amor. Terás em mim, a que foi tua, ora uma estranha, A única face que te observa e té acompanha Da funda escuridão cada dia maior... * Poema desentranhado de uma página em prosa da escritora Dinah Silveira de Queiroz.
Manuel Bandeira
O sorriso escasso, O riso-sorriso, À risada nunca. (Como quem consigo Traz o sentimento Do madrasto mundo.) Com os braços colados Ao longo do corpo, Vai pela cidade Grande e cafajeste, Com o mesmo ar esquivo Que escolheu nascendo Na esquiva Itabira. Aprendeu com ela Os olhos metálicos Com que vê as coisas: Sem ódio, sem ênfase, Às vezes com náusea. Ferro de Itabira, Em cujos recessos Um vedor, um dia, Um vedor — o neto — Descobriu infante As fundas nascentes, O veio, o remanso Da escusa ternura.