Poemas sobre Mudança
Versos que abordam a natureza inevitável da mudança, seus desafios e oportunidades.
Joaquim Maria Machado de Assis
Já raro e mais escasso A noite arrasta o manto, E verte o último pranto Por todo o vasto espaço. Tíbio clarão já cora A tela do horizonte, E já de sobre o monte Vem debruçar-se a aurora À muda e torva irmã, Dormida de cansaço, Lá vem tomar o espaço A virgem da manhã. Uma por uma, vão As pálidas estrelas, E vão, e vão com elas Teus sonhos, coração. Mas tu, que o devaneio Inspiras do poeta, Não vês que a vaga inquieta Abre-te o úmido seio? Vai. Radioso e ardente, Em breve o astro do dia, Rompendo a névoa fria, Virá do roxo oriente. Dos íntimos sonhares Que a noite protegera, De tanto que eu vertera. Em lágrimas a pares. Do amor silencioso. Místico, doce, puro, Dos sonhos do futuro, Da paz, do etéreo gozo, De tudo nos desperta Luz de importuno dia; Do amor que tanto a enchia Minha alma está deserta. A virgem da manhã Já todo o céu domina . . . Espero-te, divina, Espero-te, amanhã.
Ricardo Reis
Dia após dia a mesma vida é a mesma. O que decorre, Lídia, No que nós somos como em que não somos Igualmente decorre. Colhido, o fruto deperece; e cai Nunca sendo colhido. Igual é o fado, quer o procuremos, Quer o 'speremos. Sorte Hoje, Destino sempre, e nesta ou nessa Forma alheio e invencível. 02/09/1923
Ricardo Reis
Dia após dia a mesma vida é a mesma. O que decorre, Lídia, No que nós somos como em que não somos Igualmente decorre. Colhido, o fruto deperece; e cai Nunca sendo colhido. Igual é o fado, quer o procuremos, Quer o 'speremos. Sorte Hoje, Destino sempre, e nesta ou nessa Forma alheio e invencível. 02/09/1923
Ricardo Reis
Dia após dia a mesma vida é a mesma. O que decorre, Lídia, No que nós somos como em que não somos Igualmente decorre. Colhido, o fruto deperece; e cai Nunca sendo colhido. Igual é o fado, quer o procuremos, Quer o 'speremos. Sorte Hoje, Destino sempre, e nesta ou nessa Forma alheio e invencível. 02/09/1923
Ricardo Reis
Um verso repete Uma brisa fresca, O verão nas ervas, E vazio sofre ao sol O átrio abandonado. Ou, no inverno, ao longe Os cimos de neve, À lareira toadas Dos contos herdados, E um verso a dizê-lo. Os deuses concedem Poucos mais prazeres Que estes, que são nada. Mas também concedem Não querermos outros.
Ricardo Reis
Um verso repete Uma brisa fresca, O verão nas ervas, E vazio sofre ao sol O átrio abandonado. Ou, no inverno, ao longe Os cimos de neve, À lareira toadas Dos contos herdados, E um verso a dizê-lo. Os deuses concedem Poucos mais prazeres Que estes, que são nada. Mas também concedem Não querermos outros.
Fernando Pessoa
Ah, sempre no curso leve do tempo pesado A mesma forma de viver! O mesmo modo inútil de estar enganado Por crer ou por descrer! Sempre, na fuga ligeira da hora que morre, A mesma desilusão Do mesmo olhar lançado do alto da torre Sobre o plaino vão! Saudade, esperança – muda o nome, fica Só a alma vã Na pobreza de hoje a consciência de ser rica Ontem ou amanhã. Sempre, sempre, no lapso indeciso e constante Do tempo sem fim O mesmo momento voltando improfícuo e distante Do que quero em mim! Sempre, ou no dia ou na noite, sempre – seja Diverso – o mesmo olhar de desilusão Lançado do alto da torre da ruína da igreja Sobre o plaino vão! 01/01/1921
Fernando Pessoa
Quando era jovem, eu a mim dizia: Como passam os dias, dia a dia, E nada conseguido ou intentado! Mais velho, digo, com igual enfado: Como, dia após dia, os dias vão, Sem nada feito e nada na intenção! Assim, naturalmente, envelhecido, Direi, e com igual voz e sentido: Um dia virá o dia em que já não Direi mais nada. Quem nada foi nem é não dirá nada. 1921
Fernando Pessoa
II Dói viver, nada sou que valha ser. Tardo-me porque penso e tudo rui. Tento saber, porque tentar é ser. Longe de isto ser tudo, tudo flui. Mágoa que, indiferente, faz viver. Névoa que, diferente, em tudo influi. O exílio nada do que foi sequer Ilude, fixa, dá, faz ou possui. Assim, nocturna, a áreas indecisas, O prelúdio perdido traz à mente O que das ilhas mortas foi só brisas, E o que a memória análoga dedica Ao sonho, e onde, lua na corrente, Não passa o sonho e a água inútil fica.
Ricardo Reis
Seguro assento na coluna firme Dos versos em que fico, Nem temo o influxo inúmero futuro Dos tempos e do olvido; Que a mente, quando, fixa, em si contempla Os reflexos do mundo, Deles se plasma torna, e à arte o mundo Cria, que não a mente. Assim na placa o externo instante grava Seu ser, durando nela. 29/01/1921 (Athena, nº 1, Outubro de 1924)
Ricardo Reis
Sofro, Lídia, do medo do destino. A leve pedra que um momento ergue As lisas rodas do meu carro, aterra Meu coração. Tudo quanto me ameace de mudar-me Para melhor que seja, odeio e fujo. Deixem-me os deuses minha vida sempre Sem renovar Meus dias, mas que um passe e outro passe Ficando eu sempre quase o mesmo; indo Para a velhice como um dia entra No anoitecer. 26/05/1917
Ricardo Reis
Seguro assento na coluna firme Dos versos em que fico, Nem temo o influxo inúmero futuro Dos tempos e do olvido; Que a mente, quando, fixa, em si contempla Os reflexos do mundo, Deles se plasma torna, e à arte o mundo Cria, que não a mente. Assim na placa o externo instante grava Seu ser, durando nela. 29/01/1921 (Athena, nº 1, Outubro de 1924)
Ricardo Reis
Sofro, Lídia, do medo do destino. A leve pedra que um momento ergue As lisas rodas do meu carro, aterra Meu coração. Tudo quanto me ameace de mudar-me Para melhor que seja, odeio e fujo. Deixem-me os deuses minha vida sempre Sem renovar Meus dias, mas que um passe e outro passe Ficando eu sempre quase o mesmo; indo Para a velhice como um dia entra No anoitecer. 26/05/1917
Ricardo Reis
Seguro assento na coluna firme Dos versos em que fico, Nem temo o influxo inúmero futuro Dos tempos e do olvido; Que a mente, quando, fixa, em si contempla Os reflexos do mundo, Deles se plasma torna, e à arte o mundo Cria, que não a mente. Assim na placa o externo instante grava Seu ser, durando nela. 29/01/1921 (Athena, nº 1, Outubro de 1924)
Ricardo Reis
Sofro, Lídia, do medo do destino. A leve pedra que um momento ergue As lisas rodas do meu carro, aterra Meu coração. Tudo quanto me ameace de mudar-me Para melhor que seja, odeio e fujo. Deixem-me os deuses minha vida sempre Sem renovar Meus dias, mas que um passe e outro passe Ficando eu sempre quase o mesmo; indo Para a velhice como um dia entra No anoitecer. 26/05/1917
Ricardo Reis
Seguro assento na coluna firme Dos versos em que fico, Nem temo o influxo inúmero futuro Dos tempos e do olvido; Que a mente, quando, fixa, em si contempla Os reflexos do mundo, Deles se plasma torna, e à arte o mundo Cria, que não a mente. Assim na placa o externo instante grava Seu ser, durando nela. 29/01/1921 (Athena, nº 1, Outubro de 1924)
Ricardo Reis
Sofro, Lídia, do medo do destino. A leve pedra que um momento ergue As lisas rodas do meu carro, aterra Meu coração. Tudo quanto me ameace de mudar-me Para melhor que seja, odeio e fujo. Deixem-me os deuses minha vida sempre Sem renovar Meus dias, mas que um passe e outro passe Ficando eu sempre quase o mesmo; indo Para a velhice como um dia entra No anoitecer. 26/05/1917
Ricardo Reis
Pois que nada que dure, ou que, durando, Valha, neste confuso mundo obramos, E o mesmo útil para nós perdemos Connosco, cedo, cedo, O prazer do momento anteponhamos À absurda cura do futuro, cuja Certeza única é o mal presente Com que o seu bem compramos. Amanhã não existe. Meu somente É o momento, eu só quem existe Neste instante, que pode o derradeiro Ser de quem finjo ser? 16/03/1933