Se nada houvesse para além da morte, Nada, e o que o espírito é pronto a querer O que a imaginação em vão procura Não fosse nada... E só um vácuo inteiro No mundo, o enorme mundo perceptível, Não fosse, nem o azulado das ondas Nem a antecâmara da Realidade Não outra coisa que o oco dele próprio, E vazio do ser implodindo Éter da ininteligibilidade Onde o erro da razão sobre montes e vagas Sem nexo em existir sem leis flutua.
Quem sabe se o supremo e ermo mistério Do universo não é ele existir Com inteireza tal em existir Que não tenha sentido nem razão Nem mesmo uma existência, de tão única, Concebível... Meu espírito, corrompe-se Ao místico furor do pensamento.. De horror sem dor
Se o mundo inteiro, — abismo sem começo, Poço sem paredes, negro absurdo Aberto noutro absurdo ainda mais negro — Não tem possível interpretação Nem intertemporalidade num futuro Da razão, ou da alma, ou do universo Ele-próprio. Ah o ocaso sobre os montes Com que réstia de luz nos faz de longe O gesto lento de nos abençoar... E nem sombra, nem mesmo definida Tristeza dói...
Ó sempre mesma dor do pensamento.