Poemas para Reflexão
Colectânea de poemas para reflectir e se encontrar. Temo também poemas de sobre a vida que deve consultar. Os poemas para refletir são aqueles que nos convidam a pensar sobre nossas próprias vidas, nossos valores, nossas escolhas e nossas relações. Eles podem ser profundos e introspectivos, ou leves e divertidos, mas sempre nos desafiam a olhar para dentro de nós mesmos e a considerar o que realmente importa. Os poemas para refletir podem tratar de assuntos filosóficos, políticos, sociais ou pessoais, e podem ser escritos de muitas maneiras diferentes, incluindo verso livre, rima ou formas tradicionais. Seja qual for o estilo ou a forma de escrita, os poemas para refletir são uma forma poderosa de nos conectar com nós mesmos e com o mundo ao nosso redor.
Fernando Pessoa
Não venhas sentar-te à minha frente, nem a meu lado; Não venhas falar, nem sorrir. Estou cansado de tudo, estou cansado E quero só dormir. Dormir até acordado, sonhando Ou até sem sonhar, Mas envolto num vago abandono brando A não ter que pensar. Nunca soube querer, nunca soube sentir, até Pensar não foi certo em mim. Deitei fora entre ortigas o que era a minha fé, Escrevi numa página em branco, «Fim». As princesas incógnitas ficaram desconhecidas, Os tronos prometidos não tiveram carpinteiro Acumulei em mim um milhão difuso de vidas, Mas nunca encontrei parceiro. Por isso, se vieres, não te sentes a meu lado, nem fales, Só quero dormir, uma morte que seja Uma coisa que me não rale nem com que tu te rales – Que ninguém deseja nem não deseja. Pus o meu Deus no prego. Embrulhei em papel pardo As esperanças e ambições que tive, E hoje sou apenas um suicídio tardo, Um desejo de dormir que ainda vive. Mas dormir a valer, sem dignificação nenhuma, Como um barco abandonado, Que naufraga sozinho entre as trevas e a bruma Sem se lhe saber o passado. E o comandante do navio que segue deveras Entrevê na distância do mar O fim do último representante das galeras, Que não sabia nadar. 28/08/1927
Fernando Pessoa
Cansa ser, sentir dói, pensar destrui. Alheia a nós, em nós e fora, Rui a hora, e tudo nela rui. Inutilmente a alma o chora. De que serve? O que é que tem que servir? Pálido esboço leve Do sol de Inverno sobre meu leito a sorrir... Vago sussurro breve. Das pequenas vozes com que a manhã acorda, Da fútil promessa do dia, Morta ao nascer, na esperança longínqua e absurda Em que a alma se fia. 01/01/1921
Fernando Pessoa
Cai chuva. É noite. Uma pequena brisa Substitui o calor. P'ra ser feliz tanta coisa é precisa. Este luzir é melhor. O que é a vida? O espaço é alguém para mim. Sonhando sou eu só. A luzir, em quem não tem fim E, sem querer, tem dó. Extensa, leve, inútil passageira, Ao roçar por mim traz Uma ilusão de sonho, em cuja esteira A minha vida jaz. Barco indelével pelo espaço da alma, Luz da candeia além Da eterna ausência da ansiada calma, Final do inútil bem. Que se quer, e, se veio, se desconhece Que, se flor, seria O tédio de o haver... E a chuva cresce Na noite agora fria. 18/09/1920
Fernando Pessoa
Cansado até dos deuses que não são... Ideais, sonhos... Como o sol é real E na objectiva coisa universal Não há o meu coração... Eu ergo a mão. Olho-a de mim, e o que ela é não sou eu. Ente mim e o que sou há a escuridão. Mas o que são a isto a terra e o céu? Houvesse ao menos, visto que a verdade É falsa, qualquer coisa verdadeira De outra maneira Que a impossível certeza ou realidade. Houvesse ao menos, sob o sol do mundo, Qualquer postiça realidade não O eterno abismo sem fundo, Crível talvez, mas tendo coração. Mas não há nada, salvo tudo sem mim. Crível por fora da razão, mas sem Que a razão acordasse e visse bem; Real com coração, (...) 10/07/1920
Fernando Pessoa
Outros terão Um lar, quem saiba, amor, paz, um amigo. A inteira, negra e fria solidão Está comigo. A outros talvez Há alguma coisa quente, igual, afim No mundo real. Não chega nunca a vez Para mim. «Que importa?» Digo, mas só Deus sabe que o não creio. Nem um casual mendigo à minha porta Sentar se veio. «Quem tem de ser?» Não sofre menos quem o reconhece. Sofre quem finge desprezar sofrer Pois não esquece. Isto até quando? Só tenho por consolação Que os olhos se me vão acostumando À escuridão 13/01/1920
Fernando Pessoa
Não venhas sentar-te à minha frente, nem a meu lado; Não venhas falar, nem sorrir. Estou cansado de tudo, estou cansado E quero só dormir. Dormir até acordado, sonhando Ou até sem sonhar, Mas envolto num vago abandono brando A não ter que pensar. Nunca soube querer, nunca soube sentir, até Pensar não foi certo em mim. Deitei fora entre ortigas o que era a minha fé, Escrevi numa página em branco, «Fim». As princesas incógnitas ficaram desconhecidas, Os tronos prometidos não tiveram carpinteiro Acumulei em mim um milhão difuso de vidas, Mas nunca encontrei parceiro. Por isso, se vieres, não te sentes a meu lado, nem fales, Só quero dormir, uma morte que seja Uma coisa que me não rale nem com que tu te rales – Que ninguém deseja nem não deseja. Pus o meu Deus no prego. Embrulhei em papel pardo As esperanças e ambições que tive, E hoje sou apenas um suicídio tardo, Um desejo de dormir que ainda vive. Mas dormir a valer, sem dignificação nenhuma, Como um barco abandonado, Que naufraga sozinho entre as trevas e a bruma Sem se lhe saber o passado. E o comandante do navio que segue deveras Entrevê na distância do mar O fim do último representante das galeras, Que não sabia nadar. 28/08/1927
Ricardo Reis
Quem fui é externo a mim. Se lembro, vejo; E ver é ser alheio. Meu passado Só por visão relembro. Aquilo mesmo que senti me é claro. Alheia é a alma antiga; o que me sinto Chegou hoje à estalagem. Quem pode conhecer, entre tanto erro De modos de sentir-se, a exacta forma Que tem para consigo?
Ricardo Reis
Quem fui é externo a mim. Se lembro, vejo; E ver é ser alheio. Meu passado Só por visão relembro. Aquilo mesmo que senti me é claro. Alheia é a alma antiga; o que me sinto Chegou hoje à estalagem. Quem pode conhecer, entre tanto erro De modos de sentir-se, a exacta forma Que tem para consigo?
Fernando Pessoa
Cansa ser, sentir dói, pensar destrui. Alheia a nós, em nós e fora, Rui a hora, e tudo nela rui. Inutilmente a alma o chora. De que serve? O que é que tem que servir? Pálido esboço leve Do sol de Inverno sobre meu leito a sorrir... Vago sussurro breve. Das pequenas vozes com que a manhã acorda, Da fútil promessa do dia, Morta ao nascer, na esperança longínqua e absurda Em que a alma se fia. 01/01/1921
Fernando Pessoa
Cai chuva. É noite. Uma pequena brisa Substitui o calor. P'ra ser feliz tanta coisa é precisa. Este luzir é melhor. O que é a vida? O espaço é alguém para mim. Sonhando sou eu só. A luzir, em quem não tem fim E, sem querer, tem dó. Extensa, leve, inútil passageira, Ao roçar por mim traz Uma ilusão de sonho, em cuja esteira A minha vida jaz. Barco indelével pelo espaço da alma, Luz da candeia além Da eterna ausência da ansiada calma, Final do inútil bem. Que se quer, e, se veio, se desconhece Que, se flor, seria O tédio de o haver... E a chuva cresce Na noite agora fria. 18/09/1920
Fernando Pessoa
Cansado até dos deuses que não são... Ideais, sonhos... Como o sol é real E na objectiva coisa universal Não há o meu coração... Eu ergo a mão. Olho-a de mim, e o que ela é não sou eu. Ente mim e o que sou há a escuridão. Mas o que são a isto a terra e o céu? Houvesse ao menos, visto que a verdade É falsa, qualquer coisa verdadeira De outra maneira Que a impossível certeza ou realidade. Houvesse ao menos, sob o sol do mundo, Qualquer postiça realidade não O eterno abismo sem fundo, Crível talvez, mas tendo coração. Mas não há nada, salvo tudo sem mim. Crível por fora da razão, mas sem Que a razão acordasse e visse bem; Real com coração, (...) 10/07/1920
Fernando Pessoa
Outros terão Um lar, quem saiba, amor, paz, um amigo. A inteira, negra e fria solidão Está comigo. A outros talvez Há alguma coisa quente, igual, afim No mundo real. Não chega nunca a vez Para mim. «Que importa?» Digo, mas só Deus sabe que o não creio. Nem um casual mendigo à minha porta Sentar se veio. «Quem tem de ser?» Não sofre menos quem o reconhece. Sofre quem finge desprezar sofrer Pois não esquece. Isto até quando? Só tenho por consolação Que os olhos se me vão acostumando À escuridão 13/01/1920
Fernando Pessoa
Não venhas sentar-te à minha frente, nem a meu lado; Não venhas falar, nem sorrir. Estou cansado de tudo, estou cansado E quero só dormir. Dormir até acordado, sonhando Ou até sem sonhar, Mas envolto num vago abandono brando A não ter que pensar. Nunca soube querer, nunca soube sentir, até Pensar não foi certo em mim. Deitei fora entre ortigas o que era a minha fé, Escrevi numa página em branco, «Fim». As princesas incógnitas ficaram desconhecidas, Os tronos prometidos não tiveram carpinteiro Acumulei em mim um milhão difuso de vidas, Mas nunca encontrei parceiro. Por isso, se vieres, não te sentes a meu lado, nem fales, Só quero dormir, uma morte que seja Uma coisa que me não rale nem com que tu te rales – Que ninguém deseja nem não deseja. Pus o meu Deus no prego. Embrulhei em papel pardo As esperanças e ambições que tive, E hoje sou apenas um suicídio tardo, Um desejo de dormir que ainda vive. Mas dormir a valer, sem dignificação nenhuma, Como um barco abandonado, Que naufraga sozinho entre as trevas e a bruma Sem se lhe saber o passado. E o comandante do navio que segue deveras Entrevê na distância do mar O fim do último representante das galeras, Que não sabia nadar. 28/08/1927
Fernando Pessoa
Cansa ser, sentir dói, pensar destrui. Alheia a nós, em nós e fora, Rui a hora, e tudo nela rui. Inutilmente a alma o chora. De que serve? O que é que tem que servir? Pálido esboço leve Do sol de Inverno sobre meu leito a sorrir... Vago sussurro breve. Das pequenas vozes com que a manhã acorda, Da fútil promessa do dia, Morta ao nascer, na esperança longínqua e absurda Em que a alma se fia. 01/01/1921
Fernando Pessoa
Cai chuva. É noite. Uma pequena brisa Substitui o calor. P'ra ser feliz tanta coisa é precisa. Este luzir é melhor. O que é a vida? O espaço é alguém para mim. Sonhando sou eu só. A luzir, em quem não tem fim E, sem querer, tem dó. Extensa, leve, inútil passageira, Ao roçar por mim traz Uma ilusão de sonho, em cuja esteira A minha vida jaz. Barco indelével pelo espaço da alma, Luz da candeia além Da eterna ausência da ansiada calma, Final do inútil bem. Que se quer, e, se veio, se desconhece Que, se flor, seria O tédio de o haver... E a chuva cresce Na noite agora fria. 18/09/1920
Fernando Pessoa
Cansado até dos deuses que não são... Ideais, sonhos... Como o sol é real E na objectiva coisa universal Não há o meu coração... Eu ergo a mão. Olho-a de mim, e o que ela é não sou eu. Ente mim e o que sou há a escuridão. Mas o que são a isto a terra e o céu? Houvesse ao menos, visto que a verdade É falsa, qualquer coisa verdadeira De outra maneira Que a impossível certeza ou realidade. Houvesse ao menos, sob o sol do mundo, Qualquer postiça realidade não O eterno abismo sem fundo, Crível talvez, mas tendo coração. Mas não há nada, salvo tudo sem mim. Crível por fora da razão, mas sem Que a razão acordasse e visse bem; Real com coração, (...) 10/07/1920
Fernando Pessoa
Outros terão Um lar, quem saiba, amor, paz, um amigo. A inteira, negra e fria solidão Está comigo. A outros talvez Há alguma coisa quente, igual, afim No mundo real. Não chega nunca a vez Para mim. «Que importa?» Digo, mas só Deus sabe que o não creio. Nem um casual mendigo à minha porta Sentar se veio. «Quem tem de ser?» Não sofre menos quem o reconhece. Sofre quem finge desprezar sofrer Pois não esquece. Isto até quando? Só tenho por consolação Que os olhos se me vão acostumando À escuridão 13/01/1920
Fernando Pessoa
Quero ser livre insincero Sem crença, dever ou posto. Prisões, nem de amor as quero. Não me amem, porque não gosto. Quando canto o que não minto E choro o que sucedeu, É que esqueci o que sinto E julgo que não sou eu. De mim mesmo viandante Olho as músicas na aragem, E a minha mesma alma errante É uma canção de viagem. 26/08/1930