Poemas sobre a Natureza

A natureza se esforça rumo ao equilíbrio, pois é nele que está o de mais belo, profundo e feliz sentimento. Quando tudo parece perdido a natureza tem o dom divino de se adaptar, numa possante flexibilidade e resiliência. Encontre aqui poemas sobre a natureza, tanto o Mar, o sol o vento tudo aqui pode encontrar, pode também ver a nossa secção de poemas para reflexão.

Uma imagem com a seguinte frase A Francisco Paz


Ulysse, jeté sur les rives d'Ithaque, ne les

reconnait pas et pleure sa patrie. Ainsi

l'homme dans le bonheur possédé ne reconnait

pas son rêve et soupire


DANIEL STERN

I


Quando, leitora amiga, no ocidente

Surge a tarde esmaiada e pensativa;

E entre a verde folhagem recendente

Lânguida geme viração lasciva;

E já das tênues sombras do oriente

Vem apontando a noite, e a casta diva

Subindo lentamente pelo espaço,

Do céu, da terra observa o estreito abraço;


II


Nessa hora de amor e de tristeza,

Se acaso não amaste e acaso esperas

Ver coroar-te a juvenil beleza

Casto sonho das tuas primaveras;

Não sentes escapar tua alma acesa

Para voar às lúcidas esferas?

Não sentes nessa mágoa e nesse enleio

Vir morrer-te uma lágrima no seio?


III


Sente-lo? Então entenderás, Elvira,

Que assentada à janela, erguendo o rosto,

O vôo solta à alma que delira

E mergulha no azul de um céu de agosto;

Entenderás então por que suspira,

Vítima já de um íntimo desgosto,

A meiga virgem, pálida e calada,

Sonhadora, ansiosa e namorada.


(.
..)


VI


Era uma jóia a alcova em que sonhava

Elvira, alma de amor. Tapete fino

De apurado lavor o chão forrava.

De um lado oval espelho cristalino

Pendia. Ao fundo, à sombra, se ocultava

Elegante, engraçado, pequenino

Leito em que, repousando a face bela,

De amor sonhava a pálida donzela.


VII


Não me censure o crítico exigente

O ser pálida a moça é meu costume

Obedecer à lei de toda a gente

Que uma obra compõe de algum volume.

Ora, no nosso caso, é lei vigente

Que um descorado rosto o amor resume.

Não tinha Miss Smolen outras cores;

Não as possui quem sonha com amores.


VIII


Sobre uma mesa havia um livro aberto;

Lamartine, o cantor aéreo e vago,

Que enche de amor um coração deserto;

Tinha-o lido; era a página do Lago.

Amava-o; tinha-o sempre ali bem perto,

Era-lhe o anjo bom, o deus, o orago;

Chorava aos cantos da divina lira.
..

É que o grande poeta amava Elvira!


IX


Elvira! o mesmo nome! A moça os lia,

Com lágrimas de amor, os versos santos,

Aquela eterna e lânguida harmonia

Formada com suspiros e com prantos;

Quando escutava a musa da elegia

Cantar de Elvira os mágicos encantos,

Entrava-lhe a voar a alma inquieta,

E com o amor sonhava de um poeta.


Imagem - 00010005



Publicado no livro Falenas: Vária, Lira Chinesa, Uma Ode a Anacreonte, Pálida Elvira (1870). Poema integrante da série Pálida Elvira.


In: ASSIS, Machado de. Obra completa. Org. Afrânio Coutinho. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. v.3, p.69-71. (Biblioteca luso-brasileira. Série brasileira).


NOTA: Poema composto de 97 oitavas

Joaquim Maria Machado de Assis

A Francisco Paz Ulysse, jeté sur les rives d'Ithaque, ne les reconnait pas et pleure sa patrie. Ainsi l'homme dans le bonheur possédé ne reconnait pas son rêve et soupire DANIEL STERN I Quando, leitora amiga, no ocidente Surge a tarde esmaiada e pensativa; E entre a verde folhagem recendente Lânguida geme viração lasciva; E já das tênues sombras do oriente Vem apontando a noite, e a casta diva Subindo lentamente pelo espaço, Do céu, da terra observa o estreito abraço; II Nessa hora de amor e de tristeza, Se acaso não amaste e acaso esperas Ver coroar-te a juvenil beleza Casto sonho das tuas primaveras; Não sentes escapar tua alma acesa Para voar às lúcidas esferas? Não sentes nessa mágoa e nesse enleio Vir morrer-te uma lágrima no seio? III Sente-lo? Então entenderás, Elvira, Que assentada à janela, erguendo o rosto, O vôo solta à alma que delira E mergulha no azul de um céu de agosto; Entenderás então por que suspira, Vítima já de um íntimo desgosto, A meiga virgem, pálida e calada, Sonhadora, ansiosa e namorada. (. ..) VI Era uma jóia a alcova em que sonhava Elvira, alma de amor. Tapete fino De apurado lavor o chão forrava. De um lado oval espelho cristalino Pendia. Ao fundo, à sombra, se ocultava Elegante, engraçado, pequenino Leito em que, repousando a face bela, De amor sonhava a pálida donzela. VII Não me censure o crítico exigente O ser pálida a moça é meu costume Obedecer à lei de toda a gente Que uma obra compõe de algum volume. Ora, no nosso caso, é lei vigente Que um descorado rosto o amor resume. Não tinha Miss Smolen outras cores; Não as possui quem sonha com amores. VIII Sobre uma mesa havia um livro aberto; Lamartine, o cantor aéreo e vago, Que enche de amor um coração deserto; Tinha-o lido; era a página do Lago. Amava-o; tinha-o sempre ali bem perto, Era-lhe o anjo bom, o deus, o orago; Chorava aos cantos da divina lira. .. É que o grande poeta amava Elvira! IX Elvira! o mesmo nome! A moça os lia, Com lágrimas de amor, os versos santos, Aquela eterna e lânguida harmonia Formada com suspiros e com prantos; Quando escutava a musa da elegia Cantar de Elvira os mágicos encantos, Entrava-lhe a voar a alma inquieta, E com o amor sonhava de um poeta. Imagem - 00010005 Publicado no livro Falenas: Vária, Lira Chinesa, Uma Ode a Anacreonte, Pálida Elvira (1870). Poema integrante da série Pálida Elvira. In: ASSIS, Machado de. Obra completa. Org. Afrânio Coutinho. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. v.3, p.69-71. (Biblioteca luso-brasileira. Série brasileira). NOTA: Poema composto de 97 oitavas

0
0
Uma imagem com a seguinte frase Quando, contigo a sós, as mãos unidas,

Tu, pensativa e muda, e eu, namorado,

Às volúpias do amor a alma entregando,

Deixo correr as horas fugidias;

Ou quando às solidões de umbrosa selva

Comigo te arrebato; ou quando escuto

— Tão só eu, — teus terníssimos suspiros;

E de meus lábios solto

Eternas juras de constância eterna;

Ou quando, enfim, tua adorada fronte

Nos meus joelhos trêmulos descansa,

E eu suspendo meus olhos em teus olhos,

Como às folhas da rosa ávida abelha;

Ai, quanta vez então dentro em meu peito

Vago terror penetra, como um raio!

Empalideço, tremo;

E no seio da glória em que me exalto,

Lágrimas verto que a minha alma assombram!

Tu, carinhosa e trêmula,

Nos teus braços me cinges, — e assustada,

Interrogando em vão, comigo choras!

"Que dor secreta o coração te oprime?"

Dizes tu. "Vem, confia os teus pesares...

"Fala! eu abrandarei as penas tuas!

"Fala! eu consolarei tua alma aflita!"

Vida do meu viver, não me interrogues!

Quando enlaçado nos teus níveos braços

A confissão de amor te ouço, e levanto

Lânguidos olhos para ver teu rosto,

Mais ditoso mortal o céu não cobre!

Se eu tremo, é porque nessas esquecidas

Afortunadas horas,

Não sei que voz do enleio me desperta,

E me persegue e lembra

Que a ventura coo tempo se esvaece,

E o nosso amor é facho que se extingue!

De um lance, espavorida,

Minha alma voa às sombras do futuro,

E eu penso então: "Ventura que se acaba

Um sonho vale apenas."



Publicado no livro Falenas: Vária, Lira Chinesa, Uma Ode a Anacreonte, Pálida Elvira (1870). Poema integrante da série Vária.


In: ASSIS, Machado de. Obra completa. Org. Afrânio Coutinho. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. v.3, p.50. (Biblioteca luso-brasileira. Série brasileira)


NOTA: Tradução do poema "A El***", de Lamartine, do livro NOUVELLES MÉDITATIONS POÉTIQUES (Novas Meditações Poéticas

Joaquim Maria Machado de Assis

Quando, contigo a sós, as mãos unidas, Tu, pensativa e muda, e eu, namorado, Às volúpias do amor a alma entregando, Deixo correr as horas fugidias; Ou quando às solidões de umbrosa selva Comigo te arrebato; ou quando escuto — Tão só eu, — teus terníssimos suspiros; E de meus lábios solto Eternas juras de constância eterna; Ou quando, enfim, tua adorada fronte Nos meus joelhos trêmulos descansa, E eu suspendo meus olhos em teus olhos, Como às folhas da rosa ávida abelha; Ai, quanta vez então dentro em meu peito Vago terror penetra, como um raio! Empalideço, tremo; E no seio da glória em que me exalto, Lágrimas verto que a minha alma assombram! Tu, carinhosa e trêmula, Nos teus braços me cinges, — e assustada, Interrogando em vão, comigo choras! "Que dor secreta o coração te oprime?" Dizes tu. "Vem, confia os teus pesares... "Fala! eu abrandarei as penas tuas! "Fala! eu consolarei tua alma aflita!" Vida do meu viver, não me interrogues! Quando enlaçado nos teus níveos braços A confissão de amor te ouço, e levanto Lânguidos olhos para ver teu rosto, Mais ditoso mortal o céu não cobre! Se eu tremo, é porque nessas esquecidas Afortunadas horas, Não sei que voz do enleio me desperta, E me persegue e lembra Que a ventura coo tempo se esvaece, E o nosso amor é facho que se extingue! De um lance, espavorida, Minha alma voa às sombras do futuro, E eu penso então: "Ventura que se acaba Um sonho vale apenas." Publicado no livro Falenas: Vária, Lira Chinesa, Uma Ode a Anacreonte, Pálida Elvira (1870). Poema integrante da série Vária. In: ASSIS, Machado de. Obra completa. Org. Afrânio Coutinho. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. v.3, p.50. (Biblioteca luso-brasileira. Série brasileira) NOTA: Tradução do poema "A El***", de Lamartine, do livro NOUVELLES MÉDITATIONS POÉTIQUES (Novas Meditações Poéticas

0
0
Uma imagem com a seguinte frase Dos vates a antiga usança

Quis respeitoso seguir,

Ensaiando em anagrama

Teu doce nome exprimir;

Mas a mente em vão se cansa,

No desejo que me inflama

Nada me vem acudir.


Não desistindo da idéia,

Volto a ela sem cessar;

Diversos nomes invento,

Sem nenhum poder achar,

Que seja nome de idéia,

E se preste ao meu intento,

Sem o teu muito ocultar.


Vendo alfim que não podia

Teu anagrama fazer;

Que quantos eu inventava

Nada queriam dizer;

Uma idéia à fantasia,

Quando já nada esperava,

Me veio enfim socorrer.


Foi idéia luminosa,

Direi quase inspiração,

Pois que senti de repente

Palpitar-me o coração.

Sua força imperiosa

Foi tal, qu'eu obediente

Dei-lhe pronta execução.


De papel em uma fita

Teu lindo nome escrevi;

Pondo as letras separadas,

Co'a tesoura as dividi.

Cada solta letra escrita

Enrolei, e baralhadas,

Numa caixinha as meti.


Tudo ao acaso deixando,

Da sorte o cofre agitei;

E tirando-as de uma em uma,

Uma após outra as tracei.

Oh prodígio! Oh pasmo! Quando

Esta maravilha suma

De um mero acaso esperei?


Já Urânia — escrito estava!

Foi Amor quem o escreveu!

Não, não foi obra do acaso;

Teu nome veio do céu!

Aquele — já — me ordenava

Que da Urânia do Parnaso

Fosse o nome agora teu.


Que para mim renascida

A Musa Urânia serás.

Que ao céu e a Deus minha mente

Tu sempre levantarás.

Musa real, não fingida,

Unida a mim ternamente,

Celeste amor me terás.



Publicado no livro Urânia (1862).


In: GRANDES poetas românticos do Brasil. Pref. e notas biogr. Antônio Soares Amora. Org. rev. e notas Frederico José da Silva Ramos. São Paulo: LEP, 194

José Gonçalves de Magalhães

Dos vates a antiga usança Quis respeitoso seguir, Ensaiando em anagrama Teu doce nome exprimir; Mas a mente em vão se cansa, No desejo que me inflama Nada me vem acudir. Não desistindo da idéia, Volto a ela sem cessar; Diversos nomes invento, Sem nenhum poder achar, Que seja nome de idéia, E se preste ao meu intento, Sem o teu muito ocultar. Vendo alfim que não podia Teu anagrama fazer; Que quantos eu inventava Nada queriam dizer; Uma idéia à fantasia, Quando já nada esperava, Me veio enfim socorrer. Foi idéia luminosa, Direi quase inspiração, Pois que senti de repente Palpitar-me o coração. Sua força imperiosa Foi tal, qu'eu obediente Dei-lhe pronta execução. De papel em uma fita Teu lindo nome escrevi; Pondo as letras separadas, Co'a tesoura as dividi. Cada solta letra escrita Enrolei, e baralhadas, Numa caixinha as meti. Tudo ao acaso deixando, Da sorte o cofre agitei; E tirando-as de uma em uma, Uma após outra as tracei. Oh prodígio! Oh pasmo! Quando Esta maravilha suma De um mero acaso esperei? Já Urânia — escrito estava! Foi Amor quem o escreveu! Não, não foi obra do acaso; Teu nome veio do céu! Aquele — já — me ordenava Que da Urânia do Parnaso Fosse o nome agora teu. Que para mim renascida A Musa Urânia serás. Que ao céu e a Deus minha mente Tu sempre levantarás. Musa real, não fingida, Unida a mim ternamente, Celeste amor me terás. Publicado no livro Urânia (1862). In: GRANDES poetas românticos do Brasil. Pref. e notas biogr. Antônio Soares Amora. Org. rev. e notas Frederico José da Silva Ramos. São Paulo: LEP, 194

0
0
Uma imagem com a seguinte frase Ó vagas de cabelos esparsas longamente,

Que sois o vasto espelho onde eu me vou mirar,

E tendes o cristal dum lago refulgente

E a rude escuridão dum largo e negro mar;


Cabelos torrenciais daquela que me enleva,

Deixai-me mergulhar as mãos e os braços nus

No báratro febril da vossa grande treva,

Que tem cintilações e meigos céus de luz.


Deixai-me navegar, morosamente, a remos,

Quando ele estiver brando e livre de tufões,

E, ao plácido luar, ó vagas, marulhemos

E enchamos de harmonia as amplas solidões.


Deixai-me naufragar no cimo dos cachopos

Ocultos nesse abismo ebânico e tão bom

Como um licor renano a fermentar nos copos,

Abismo que se espraia em rendas de Alençon!


E ó mágica mulher, ó minha Inigualável,

Que tens o imenso bem de ter cabelos tais,

E os pisas desdenhosa, altiva, imperturbável,

Entre o rumor banal do hinos triunfais;


Consente que eu aspire esse perfume raro,

Que exalas da cabeça erguida com fulgor,

Perfume que estonteia um milionário avaro

E faz morrer de febre um pobre sonhador.


Eu sei que tu possuis balsâmicos desejos,

E vais na direcção constante do querer,

Mas ouço, ao ver-te andar, melódicos harpejos,

Que fazem mansamente amar e enlanguescer.


E a tua cabeleira, errante pelas costas,

Suponho que te serve, em noites de Verão,

De flácido espaldar aonde te recostas

Se sentes o abandono e a morna prostração.


E ela há-de, ela há-de, um dia, em turbilhões insanos,

Nos rolos envolver-me e armar-me do vigor

Que antigamente deu, nos circos dos romanos,

Um óleo para ungir o corpo ao gladiador.


................................................

................................................


Ó mantos de veludo esplêndido e sombrio,

Na vossa vastidão posso talvez morrer!

Mas vinde-me aquecer, que eu tenho muito frio

E quero asfixiar-me em ondas de prazer.

Cesário Verde

Ó vagas de cabelos esparsas longamente, Que sois o vasto espelho onde eu me vou mirar, E tendes o cristal dum lago refulgente E a rude escuridão dum largo e negro mar; Cabelos torrenciais daquela que me enleva, Deixai-me mergulhar as mãos e os braços nus No báratro febril da vossa grande treva, Que tem cintilações e meigos céus de luz. Deixai-me navegar, morosamente, a remos, Quando ele estiver brando e livre de tufões, E, ao plácido luar, ó vagas, marulhemos E enchamos de harmonia as amplas solidões. Deixai-me naufragar no cimo dos cachopos Ocultos nesse abismo ebânico e tão bom Como um licor renano a fermentar nos copos, Abismo que se espraia em rendas de Alençon! E ó mágica mulher, ó minha Inigualável, Que tens o imenso bem de ter cabelos tais, E os pisas desdenhosa, altiva, imperturbável, Entre o rumor banal do hinos triunfais; Consente que eu aspire esse perfume raro, Que exalas da cabeça erguida com fulgor, Perfume que estonteia um milionário avaro E faz morrer de febre um pobre sonhador. Eu sei que tu possuis balsâmicos desejos, E vais na direcção constante do querer, Mas ouço, ao ver-te andar, melódicos harpejos, Que fazem mansamente amar e enlanguescer. E a tua cabeleira, errante pelas costas, Suponho que te serve, em noites de Verão, De flácido espaldar aonde te recostas Se sentes o abandono e a morna prostração. E ela há-de, ela há-de, um dia, em turbilhões insanos, Nos rolos envolver-me e armar-me do vigor Que antigamente deu, nos circos dos romanos, Um óleo para ungir o corpo ao gladiador. ................................................ ................................................ Ó mantos de veludo esplêndido e sombrio, Na vossa vastidão posso talvez morrer! Mas vinde-me aquecer, que eu tenho muito frio E quero asfixiar-me em ondas de prazer.

0
0